sexta-feira, 4 de agosto de 2017

"Brexit, Trump and others oddities"

Vejo que à esta altura dos acontecimentos, após denúncias, traições, delações falsas, delações verdadeiras e toda sorte de maldades e ataques a nossa soberania, a soberania do povo brasileiro, a quase totalidade deste mesmo povo não tem dúvida que houve um golpe e este golpe visa objetivamente estancar a marcha do desenvolvimento da soberania que se acelerava acompanhada pelos BRICS.

Do mais humilde ao mais lúcido cidadão, é sabido que o golpe foi perpetrado contra o povo. É consenso; ainda que muitos continuem externando o atávico ódio às classes sociais mais pobres, aos negros, aos mais humildes da escala social. 

Já faz isso há um bom tempo. Eu mesmo testemunho este comportamento desde 1954. Antes já se excluíam os "marmiteiros" do jogo político, nem se lhes dava voz. Getúlio Vargas vence as eleições em 1950 justamente com o apoio destes "marmiteiros"(1).  Era a confirmação da absoluta desfunção do tecido social: - pobres para um lado, o lado da grande maioria, e ricos pro outro; e uma classe média, ainda que pequena,  manipulada por vários instrumentos de formação de opinião, como sempre, ... como até hoje.

Lembro que desde a "Consolidação das Leis do Trabalho", que contrariara uma burguesia industrial, juntamente a aristocracia rural, em 1937, decorreram apenas treze anos para a eleição de Getúlio Vargas. Em função destes avanços sociais, as forças conservadoras, contrariadas, apoiadas confessadamente pelos irmãos do norte ( naquela época era mais de um, haviam as tecelagens inglesas ), tentaram derrubá-lo. Getúlio frusta este golpe com o custo da própria vida. Mais adiante, apenas dez anos depois, consumaram o golpe, à manu militare. Levaram quatro anos conspirando.

Havia um fator comum a naqueles movimentos conspiratórios; - o  que corria de comum durante estes anos de conspiração ? 
Pode-se perceber que durante os anos 30, a crise de 29 deixara o hemisfério norte diante de fome e miséria Chocou-se o ovo da serpente nazista.

Nós, desprovidos de indústrias, ficamos à mercê dos barões da agricultura. A CLT(2) se aplica apenas às cidades...nem Getúlio conseguira dobrar a força destes pelas armas. A revolução de 32  confirma a resistência conservadora.

No caudal de 30 e do pós guerra Getúlio força a industrialização. CSN, Petrobras (à força), CHESF. Tocou na ferida aberta: - o petróleo e a siderurgia. Pagou com a vida.
Logo depois, no pós guerra, o mundo se polariza com a Guerra Fria. Novamente, se utiliza as instituições representantes da classe conservadora para serem guardas-costas dos interesses internacionais.

Passaram-se então vinte anos de ditadura, sendo usados militares para gendarmes de seus interesses. E esses já estavam convencidos dos riscos da ousadia nacionalista. Nacionalista sim, ma non troppo(3).

O que era comum então nos nossos movimentos, golpes, quarteladas e temores ?

- A "cautio damnini infecti"(4) . Ou seja, que os vizinhos não atrapalhem nossos negócios. Em bons termos: - a conjuntura internacional e os saltos tecnológicos.

Ledo engano então admitir que somos tão senhores do nossos nariz. Se à época do New Deal, da Guerra Fria, éramos sensíveis e dependentes, o que dirá agora na época da transação bancária eletrônica, da rede social, da tecnologia do instantâneo que não temos e tampouco investimos para dominá-la.

E qual então a condição ambiental e política do momento ? - Simples assim: a falha da globalização como instrumento de formação e distribuição de riqueza. Pelo contrário, transformou-se em um perverso instrumentos de concentração de riqueza. Pergunte-se a Itália, a Portugal, a Irlanda, a Espanha, a Grécia e mesmo aos Estados Unidos.

Eis aí os dois fenômenos  que mostram o que a dinâmica da interdependência, da exploração de riquezas em escala mundial, provoca nos estados nacionais: - o Brexit e o Trump, ambos resultados do mesmo "déclenchmement"(5)O acionamento disfarçado do golpe nos interesses nacionais e o estupro na nacionalidade.

No nosso caso, ainda existe uma singularidade: o proxeneta utilizado serviu para presidente. A simple oddity.
Notas:1) episódio onde o udenista Eduardo Gomes dispensara o voto dos marmiteiros, uma alusão depreciativa aos trabalhadores.
2) CLT - Consolidação das Leis do Trabalho, promulgada em 1º de Maio de 1943.
3) ma non troppo - andamento musical, significa "mas não muito"
4) "cautio damnini infect - expressão jurídica, aqui utilizada de forma indireta e irônica:"Garantia que dá o          proprietário de prédio de que não irá ameaçar os direitos do vizinho"
5) déclenchmement: acionamento. Aqui utilizado como eufemismo vulgar para "ato de fecundação".