sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quase


Ontem li a aula do Prof. Fábio Konder Comparato "Significado e perspectivas da crise atual". Nela o Professor Comparato avalia a crise desde as suas raízes mais primevas. Apoiado em Hipócrates na análise da crise internacional e a brasileira, umbilicalmente ligada a primeira, chega Comparato até as ideias de François Morin.


Nem de longe quero fazer qualquer reparo ao pensador e jurista consagrado, mas gostaria sim de um adendo, senão uma simplificação, ao pensamento analítico do Professor: - bastaria que reduzisse à máxima que não existe riqueza real sem trabalho, ou mesmo até na mais rasa percepção física que não existe ganho de energia, senão transformação desta, e veríamos que a "financeirização" da economia viola todos estes princípios e corolários, legando-nos então a sua prática, moradores deste planeta, a... pobreza. 

Bem parece que os espertos das finanças acreditam no moto-contínuo. De onde acham que a riqueza verdadeira se originará senão do trabalho?


Há algum tempo estamos vendo esta fantasia infantil, para não dizer espertinha, que amealhando dinheiro, à custa do empobrecimento coletivo, mundial, acha que a farra ocorrerá para sempre.

De onde acham que veio a principal motivação para duas guerras mundiais ? 
Apenas de nacionalismos intransigentes ? 
De honras nacionais ofendidas? 
De vendetas ? Dos "camicie nere" de Mussolini ?

Do pistoleiro Gravilo, à mando do terrorista de Sarajevo ?
Senão da própria miséria imposta pelos impérios coloniais ?
E a miséria e a pobreza de outrem acham que lhes dará sossego?
De onde acham que vem a violência na maioria das grandes cidades? 
Está nas Escrituras: Provérbios 6:11: - "Assim sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua necessidade como um homem armado."


A magnífica aula do Professor Comparato deixa margem e oportuniza mais indagações e nos remete à reflexão, buscando no mais simples e mais básico a causa desta crise que é menos econômica, e mais moral, na medida que calcada na divisão mais do que injusta do resultado do trabalho. Ou melhor, na sua cabal exploração.   

Durante algum tempo sobrevivemos(?) a mentira do "neo-liberalismo" que acha que pode gerar riqueza sem trabalho.

Mas agora a conta está chegando e terá de ser paga por todos. Claro que os pobres pagarão primeiro, mas não se enganem os que acham que estarão fora do alcance da cobrança da mão armada.

Não prego revolta nem tampouco acho que não podemos evitá-la; mas se não nos dermos conta da imensa injustiça social que está à correr na nossa terra, e dela não nos redimirmos, pagaremos caro, e mesmo com sangue.
Lembro Hebreus 9:22 - "quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão".
Fiquem atentos para o "quase" que eu mesmo sublinhei.

Um feriado sem Thomas Mann

Não consegui escrever durante esta semana de feriado, pois ando numa atividade de desenvolvimento e implantação de sistemas que não tem deixado espaço para outros escritos e leituras. 
Até planejei reler nos feriados a "Montanha Mágica" de Thomas Mann, que seria a minha quarta leitura de décadas. Thomas Mann me faz, à cada vez, surpreender  com os seus mesmos personagens. Ou estão vestidos de roupas mutantes, ou eu mesmo começo a ver  "através de" à cada vez, como diria o mexicano c. Não deu, tive que imaginá-los, revivê-los na minha própria história. Fico me devendo.

Mas hoje não poderia deixar de comentar com o meu decano o atual momento político ( atual por quantos dias ? ). Momento que é fugaz a seu modo e confuso na intenção de alguns. Alguns estes que já não mais podem se esconder.
Como disse em comunicação passada, a máscara caiu; mesmo que alguns ainda não o tenham percebido, ou por sua natureza naif  ou por quererem calar a própria consciência. Alguns, eu sei, por ódio; paciência.

Não tendo mais discurso "impichante" ( já que quem o inaugurou perdeu o mínimo de credibilidade, até mesmo nas suas próprias hostes  ) voltam-se a "pièce de resistance" que é o Lula.

Inauguraram a campanha de 2018 agora, à tentar criar um zeitgeist verídico; como a busca de Tadzio por Aschenbach. (Morte em Veneza, lembra ?) . Já é mais do que desespero; começam a queimar as próprias vestes. Não sobrará mais nada em 2018, pois já vestiram o Lula de presidiário, personificaram-no no extremo rancor. 
É como dizia Shakespeare, "“o rancor é uma taça de veneno que você toma na esperança que faça mal ao seu inimigo". O drama shakespeariano parece até estar presente: - Não conseguem matar Hamlet. Nem com espada envenenada, nem com a taça de veneno, pois bebem-na à cada dia.

Agora, me pergunto: - Tudo isso pra que? Bastava comprar as ações da Petrobrás na Bolsa de Nova Iorque.  Talvez saisse até mais barato.

Assim vejo o tempo presente.

e-mail para amigos

Hoje estive na gare da Central do Brasil, e algo ficou claro na minha mente ouvindo o meu ambiente. Animado com que ouvi, resolvi externar minha opinião que "dans mon âme il brûle encore a la manièr' d'un grand festin", como na "Chanson pour L´Auvergnat" de George Brassens.

Usando expressão bem antiga, após ficar um pouco afastado das lides, sem tempo até para ler manchetes, "fiquei dando tratos à bola" sobre a questão desta crise que o Congresso construiu, evidentemente com apoio de parte do Judiciário e do Ministério Público, sem falar nos quintas-colunas dentro dos próprios quadros do Executivo que, acostumados ao tráfico de influência e a negociata, não se sentem confortáveis com a Presidenta rabugenta, como já ouvi falar.  "Não tem jogo de cintura" comentam. Como se ela fosse passista de escola-de-samba ou dançarina de baile funk. 

Realmente falta faz a mente aguda e mordaz de um Sérgio Porto, que derivaria do "febeapá" ( para os mais novos "Festival de Besteira que Assola o País" ) um novo neologismo ou acrônimo. "Festival de Ódio que Devasta a Economia" ? Não, este não seria bom. "Muitos Energúmenos Rejeitam Dilma Aleatoriamente" ? Não, não seria bom também.

Teria de ser algo mais curto e mais ao gosto dos "uppish yuppies"  como o kiss ( keep it simple stupid ) que eu agora diria ( keep it seemly stupid ).

Mas o que me vem a mente mesmo para o acrônimo deriva de " - Vamu acabá com essa zona e vamu trabalhá po..... O acrônimo seria a própria palavra no final da frase, pô. 

A paciência da gente está acabando. Critica, reprova e prende quem tem de prender e vai dar golpe lá na ...acrônimo

Não há mais o que debater e justificar. Vamos produzir, gerar riqueza e emprego e parar com essa hipocrisia moralista que só cabe na boca de falsos, pois até os mais simplórios (tinha muitos lá na gare da Central) já perceberam quem está por traz disto tudo....
A máscara caiu.

Um abração do Zé

Patroas, porém


Um pensamento que me aflora agora, justo nesta hora, vem mais do sentimento do que razão e, talvez por isso mesmo, sinta-me até mais lúcido para abordar a questão do "amok" a que referi em mensagem passada. Gostaria de expor então.

Atento, até por dever de ofício, a exposição pública do chamado "auto-de-resistência"  (está em todos  jornais e na mídia eletrônica - não que isso lhe dê importância maior do que já tem) forjado no Morro da Providência, estabeleço a conexão óbvia entre o poder do Estado e a população favelada que, como já mencionei na mensagem passada,  está em torno de 4 milhões de pessoas na nossa Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que para ali foram, pelo único e exclusivo fato de que este mesmo Estado, lhes negou as oportunidades que deveriam ser comuns a todos os cidadãos; seja na educação, seja na saúde, seja no lazer, seja na difusão de sua cultura.
A imagem que agora choca revela a relação antiga deste mesmo Estado para com o habitante destas comunidades, que emergiram desde a diáspora do campo após 1888 e, mesmo durante todo século XX, quando lhes foram negadas terras que, por direito, seriam utilizadas para seguir com seu trabalho.  Não é um fenômeno hodierno senão  presente desde a nossa formação como Estado. Estado este, controlado pela elite (branca como eu, diga-se de passagem) que detinha poder e terras. Terras de onde foram expulsos pela miséria e pela automação agrícola. Terras trabalhadas à exaustão por estes refugiados dentro de seu próprio país.  

Quero citar de www.loveira.adv.br/material/agrario/agrario_reforma_EUA.doc/: "O Presidente Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a Homestead Law, sendo de fato, a reforma agrária processada nos EUA. Esta, assegurava a cada cidadão ou na iminência de sê-lo, o direito de requerer uma propriedade de até 160 acres de terra do Estado, com o pagamento de uma taxa de 1 dólar e 25 centavos, com reconhecimento do domínio pleno, após cinco anos de posse efetiva da terra. Mais tarde, esse direito foi modificado para aquisição de área de até 640 acres". Podemos dizer que estamos atrasados um século e meio.


As consequências da nossa incapacidade de fazer a nossa reforma agrária estão agora aí expostas publicamente; seja na manifestação violenta nas praias por parte dos marginais plenos, seja na execução de quem deveria estar na escola, ou mesmo conectado na internet como nós agora, podendo ler sites em inglês, ou outro qualquer idioma. Nem creche, nem escola, nem lazer. Nada. Onde a razão poderá encontrar qualquer vestígio de sanidade ?
Onde poderemos chegar se não corrigirmos imediatamente, sem demagogia, esta brutal distorção de valores morais e humanos ? 
Quando poderemos tirar estes 150 anos de atraso ?

Perdoe-me o desabafo amigo e confidente Francisco, mas este pensamento emergiu quando ouvi, agora pela manhã, a seguinte frase: - " devia era matar toda esta gente mesmo ". Era uma senhora bem vestida, nova, mas com a alma apodrecida. Devia ser companheira daquelas retratadas na passeata pelo impeachmente ( ver as fotos ).



Agora me diga, sem querer cobrir, ou encobrir, os meus colegas armados: - Que diferença existe entre eles e estas senhoras ?
Elas estarão soltas.

Não tenho dúvida que o "amok" só tenderá a continuar. Nas terras malaias, onde este fenômeno acontecia, agora se produz arroz para exportação para todo o Oriente; - a reforma agrária não apenas acabou com o amok mas fez de Kuala Lumpur exemplo. É lá que estão as Torres Petronas.

Aqui estão as patroas...Ridículas, mas patroas.

Amok ou Arrastão ?

Afora o meu inconformismo com a situação dos dois brasileiros que estão presos há meses ( sem culpa formada ), o Sr. Marcelo Odebrecht e o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva ( que aliás a própria PF sugeriu sua soltura por não haver qualquer prova de ilícito ), estou dando um testemunho que nasce da minha perplexidade com a situação criada no Rio de Janeiro no final de semana, onde a temperatura levou as praias milhares de pessoas e uma onda de violência de menores oriundos das áreas distantes e das favelas próximas interrompeu o lazer gratuito daqueles que lá foram.

Independentemente da época, ou do verão fora de época, onde os termômetros marcaram mais de 36º Celsius, a memória me diz que estes fenômenos de violência são recorrentes. Basta ver o registro do domingo ensolarado de 18 de outubro de 1992, há 23 anos onde o mesmo fenômeno ocorreu. E vem ocorrendo.
Não é novidade, como não é novidade que as "vilas-miséria", as "bidonville"(*), as favelas despejam ano após ano nos domingos ensolarados a mesma quantidade de menores com o mesmo grau de violência.


Onde está o problema então ?

Alguns dizem até que está no governo do PT. Outros dizem que está na nossa tolerância com o crime. Alguns até nada dizem. 

Mas eu perguntaria: O que fizemos para oferecer de lazer alternativo ? 
O que fizemos para que o menor tivesse uma creche onde pudesse se distanciar do crime ? 
O que fizemos com a educação em tempo integral ? Para todos os habitantes, das favelas ou não; de qualquer extrato social.

Sempre escuto a mesma resposta todos estes anos: - Não há dinheiro para isso tudo.

Mas claro, não há dinheiro que chegue para pagar juros. Rolar dívida acaba como uma bola de neve. 

Não atacamos a raiz dos problemas sociais, fora aqueles que há muito, décadas, já eram para ser implantados e demoraram muito para surtir efeito no presente. ( "Bolsa Família", "Minha casa, minha vida" são exemplos ).

O tempo todo ficamos à falar um economês debochado que pensa poder esconder a realidade do país.  Cada um mostrando mais beletrismo que outro, esteja à esquerda ou direita do espectro do pedantismo e da superficialidade intelectual.

Temos uma população, só na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que conta com 17 municípios e é quase 3 vezes mais populosa que a Finlândia (padrão de sociedade igualitária), onde a população favelada  está em torno 4 Milhões de habitantes. Se apenas 1%( um porcento ) destes 4 Milhões forem violentos ou marginais, teremos então 40.000 delinquentes. Um contingente maior do a Polícia, e boa parte destes armados. Se apenas 4.000 forem para as praias não haveria polícia que chegue.

Ouvimos as mais primárias, infantis  e parvas soluções. Todas restringindo-se à violência pela violência apenas, sem atacar o problema real. 
Desde 1982, onde pude testemunhar a presença prévia ao "arrastão" das câmeras da Globo na Praia de Copacabana (altura da Rua Santa Clara) que vejo este "amok"(**)  como inevitável resposta a nossa burrice social e política. 

Quando vamos aprender ? Já ocorre há mais de trinta anos o mesmo problema.
Ou a nossa pseudo-elite aprenderá por bem ou, infelizmente, na própria carne.  

Parece que estamos condenados a segunda opção...de tão... É, é isso mesmo.


* -ver Le-monde de maio de 1991; "Misère et solidarité dans les vieux bidonville*s"
** - amok : palavra malaia que se refere ao "arrastão" que ocorria quando uma turba violenta invadia as aldeias atrás de ópio.

Tudo se conecta...

Durante uma conversa ontem, onde apareceu o nome de Richard Attenborough, sobre um filme, dentre vários (Jurassic Park, Ghandi, ...) em que trabalhou, imediatamente associei o nome de seu irmão David Attenborough; naturalista famoso, que apresentava um programa na televisão chamado “A vida secreta das plantas”.

O relato que faço agora parte de uma experiência ímpar que tive assistindo, em companhia de meu filho ainda pequeno, este programa de David Attenborough. Experiência que descrevi a um par na conversa e à pedido deste faço um breve relato que serve à guisa de discussão e de exegese, pois o texto a seguir assim se revelará:

Assistindo o programa me deparei com a descrição do processo de disseminação da semente da Acácia pelos elefantes africanos. Eles comem suas sementes e vão defecá-las quilômetros adiante, quando ainda a regam com a urina rica em nitrogênio. Uma garantia de propagação da espécie vegetal propiciada pela associação cooperativa de uma espécie animal; milagre ecológico que ocorre há milhões de anos.
Mas aquela menção a acácia me fez fazer a associação com o texto bíblico em Êxodo 25: 10-16


.Também farão uma arca de madeira de acácia; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura de um côvado e meio, e de um côvado e meio a sua altura.
.E cobri-la-á de ouro puro; por dentro e por fora a cobrirás; e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor;
.E fundirás para ela quatro argolas de ouro, e as porás nos quatro cantos dela, duas argolas num lado dela, e duas argolas noutro lado.
.E farás varas de madeira de acácia, e as cobrirás com ouro.
.E colocarás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca.
.As varas estarão nas argolas da arca, não se tirarão dela.
.Depois porás na arca o testemunho, que eu te darei.

A acácia é citada no texto sagrado sem dizer a razão de sua escolha. Várias interpretações exegéticas foram feitas ao longo dos séculos, com base nesta árvore ser resistente a pragas. Mas esta espécie é designada pela uma variedade imensa de aparências e nomes. Ou seja, a acácia, além de ser uma madeira, é um símbolo, já que abriga várias variedades de árvores, que dá base a interpretação, não apenas exegética mas ainda hermenêutica. Dela então havia tirado uma citação para um capítulo do livro que escrevia e que cabei intitulando “A árvore da acácia”. Não havia melhor nome para expressar a ideia e o tema central deste livro que versava sobre sistemas de produção e apresentava técnicas, métodos e heurísticas de otimização de produção. Baseava-se, à princípio, em equivalentes termodinâmicos, mas a simples citação do texto bíblico, não somente lhes emprestava credibilidade, como expandia conceitos e significados. Se não, observem os seguintes quesitos:
. A madeira: simples, humilde, resistente, incorruptível e farta na natureza. Matéria prima de qualidades intrínsecas e de logística simplificada.
. As medidas: convertidas ao sistema métrico, percebe-se a sua característica ergométrica e uma relação próxima ao segmento áureo, ou suficientemente próxima, que sugere conceitos matemáticos que apareceriam por volta do século V, e que até hoje estabelecem proporção de estética e equilíbrio. Além do conceito de “proximidade” inerente ao pensamento probabilístico.
. As instruções: as instruções de “montagem” e acabamento muito se parecerem, ou mesmo indicam as técnicas industriais que se aplicaram após a Revolução Industrial Vitoriana, ou século IXX da nossa era.
. Os materiais: a semelhança com os circuitos impressos, sobre base de fibra barata e conexões de ouro, nos induz a imaginar os computadores atuais.
A lista de similitudes e relações potenciais não tem fim. Consegui até fazer ilação com Kurt Gödel, vai longe então a amplitude epistemológica do tema.
Mas o que procurei mostrar foi a amplitude das relações e ilações do pensamento, que se expandem do puro racional até a percepção suprarracional, mostrando que mesmo a nossa estrutura vagal, simpática e parassimpática se liga a extratos superiores, que por sua vez se conectam a outros, e outros, e outros, induzindo a uma conexão aparentemente sem limite.
Vejam só, uma “bolota” do elefante tem o mesmo significado epistemológico que a matemática de Kurt Gödel.. - Pode?