sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

ERP, simulação

           Retomando a evolução do MRP em direção aos mais atuais sistemas, temos que reiterar a ideia de modelo.  Modelo entendido como representação do produto da empresa, expresso na "Lista-de-Material", o "que", e do processo produtivo, o "como". O planejamento de produção resolverá então o "quanto" e quando". Lembrando que historicamente a evolução destes sistemas ocorreu em ambiente de grande verticalidade, principalmente na indústria automotiva, toda a representação basicamente restringia-se a quantidades, e derivando então a demanda através da Lista-de-Material, estabeleciam-se quantidades ao longo do tempo. Eis então a síntese da derivação de demanda, utilizando-se os recursos de representação de produto, sua estrutura mímica da visão explodida do produto (fig.01), e a aplicação de políticas de ressuprimento: quantidades ao longo do tempo.


          Como o MRP/MRP-II  serviam, com maior intensidade, a indústria manufatureira metal-mecânica, montadora e eletro-eletrônica, as demais, que se utilizavam de processos produtivos diferenciados, praticamente não dispunham de sistemas, senão aqueles desenvolvidos para sua aplicação individual; geralmente desenvolvidos, ou em casa, ou sob encomenda. Lembro da experiência que tive, há mais de trinta anos, ao desenhar e desenvolver um sistema de planejamento da demanda de embarques e acompanhamento de produção de uma empresa mineradora, onde a "Lista-de_Material" basicamente representava, em lugar de "quantidade", a "qualidade" do seu produto; ou seja, como este era especificado em termos de tolerâncias, máximos e mínimos,  dos seus componentes, alguns destes determinados como impurezas. Vejam a diferença imensa existente na capacidade de desenvolvimento do modelo do produto e do seu processo produtivo. A derivação de demanda partia da especificação intermediária em termos de qualidades e quantidades. A fig. 02 representa o produto final estocado em pilhas, a ser embarcado, que evolui dos estágios:
                                          🚢porto
                                                                             planejado para embarque
                                                                                                   
                                                              (quantidade/qualidade/data de embarque(eta))
                         ╦   quantidade de estoque planejada                   
                                                                                ▓
                                                                          ▓estoque empilhado
                         ║                                      pátio de estocagem do porto - local de embarque 
                           ---------------------------------------------- ↓------------------------------------
                                                                             [💻derivação da demanda]
                               demanda líquida 
                          (quantidade, qualidade, data)
                              --------------------------------------↓--------------------------------------------
                                                           🚊 Transporte desde as minas até o pátio do porto 

                                                     💻 - Planejamento da Produção
                                                          (quantidade,qualidade, período)
                               Lavra🗾
                               linha do tempo------------------------------------------------------------------>                                                                                                                                                       FIG.02

             Todos os elementos e variáveis quantitativos aplicados no MRP convencional, isto é quantidade e tempo, estão presentes, sendo ainda adicionada a variável qualidade. Denominou-se então o modelo de KQt (quantidade, qualidade e tempo).

             Observe-se, no exemplo acima a essência do problema de logística e ressuprimento que está presente em qualquer processo produtivo. E o que é objeto de intervenção simulado pelo ERP será a aplicação de políticas que afetarão os níveis de estoque, as quantidades e lotes típicos (que estarão condicionados por restrições e condições produtivas) e...níveis de segurança; ou seja, da quantificação de riscos. Mais adiante ainda adicionaremos a discussão dos aspectos relativos a capital e trabalho.

     Existiram, e ainda existem, conceitos e métodos de gestão que praticamente orientam o planejamento do suprimento em direção a demanda.Tais métodos nasceram em ambientes de demanda garantida e recursos de suprimento (material, mão-de-obra e capital) também garantidos, até mesmo pelo Estado. Estamos falando do Japão nas décadas de setenta e oitenta. Entretanto...estes tempos de recursos "inesgotáveis" parece que já vão longe. Mas acabou deixando uma herança positiva de eliminação de desperdícios através do método Lean.  Porém o que nos interessa neste momento é enxergar o que se projetou nos ERP ao longo deste meio século, desde Joseph Orlicky, que  chamaria de "derivação de demanda" generalizando sua aplicação em ambientes industriais além do que se denominaria "manufatura tradicional", sabendo que as empresas de manufatura se inserem no ambiente negocial da cadeia de suprimento (supply chain) agora acelerado pelas faculdades B2B (business to business) e B2C(business to consumer) da internet. Ao final o que se propõe aqui é extender a evolução do ERP em direção as capacidades de simulação "what-if" através dos recursos mais atuais de aprendizado de máquina, de análise bayesiana e de redes neurais.

         Serve mencionar o texto abaixo extraído do excelente sítio da internet (https://www.qad.com/pt-BR/

A manufatura tradicional não possui os ciclos de feedback necessários para responder rapidamente às mudanças na cadeia de suprimentos. Como resultado, os fabricantes podem ser vítimas de desafios externos sem a profundidade adequada ou amplitude de informações críticas. ...

        Responder com velocidade, ainda não é suficiente: - há de se estabelecer uma estratégia de aplicação das capacidades de simulação na mesma velocidade, pois a experiência nos mostrou no passado que a simulação tardia não surtiu os efeitos que se buscava no ambiente de manufatura mais verticalizado, mais complexo e de ciclo mais longo que outros mais horizontalizados (caso do sucesso japonês dos anos 70/80).

   ( como este texto já ultrapassou uma página seguiremos na postagem seguinte )