quinta-feira, 28 de junho de 2012

Um pouco de brio

      As vezes me pego pensando se não seria uma tautologia, no sentido linguístico, a repetição do tema "Produzido no Brasil", quase um erro. Não, pois do ponto de vista lógico a negação de uma tautologia é uma contradição. Ou (usando uma tautologia linguística) trocando em miúdos: repetirei à exaustão o tema da opção pelo nacional. 
      Esta tautologia lógica se deve a necessidade de fixar uma idéia que está por traz da solução dos problemas sociais, políticos que enfrentamos. Tivéssemos optado pela "produção nacional" nos anos de paranóia globalizada, nem teríamos que nos socorrer no FMI, nem tampouco demolido a nossa indústria. Deve se notar que o que se recuperou ainda foi pouco. 
      Mas então cabe a prgunta: Mas os oito anos de governo Lula não corrigiram aquela anterior enfermidade política? A resposta é: Sim, mas não de todo. A ação propedêutica realmente criou as condições necessárias para se atacar o problema crônico que ainda habita no âmago da nossa alma: a pouca valorização do trabalho.  Problema que ainda permanece nas entranhas da estrutura social.
     Entenda-se o problema de forma política, entenda-se o problema de forma sociológica, ou de forma econômica, a solução deste irá convergir para a criação de um valor inerente ao homo-faber, impregnado na nossa memória límbica, nos neurônios, nas nossas amigdalas, nos nossos arquétipos.
      E para fazer o sistema, que incorpora este problema crônico, mudar de estado, será necessário, como em qualquer sistema, introduzir energia, de fora para dentro diria, usando uma linguagem termodinâmica. Mas o "de fora para dentro" aqui significa, de fora dos estratos sociais patologicamente sedentários para dentro destes. Porque a maior parte dos estratos sociais da nação não está contaminada, ainda.
      Novamente trocando em miúdos, a solução será intervir no processo, para que gerando atividade produtiva, saiamos do estado sendentário, queimando as toxinas da preguiça, do luxo fácil, da corrupção consequente,  e das outras mazelas que nos atrasam.
     Ocorre que para mudar de estado e para esta intervenção temos de usar energia; e esta energia não se obterá de fora, erro cometido por alguns ingênuos nos tempos da Guerra Fria. A energia terá de ser obtida dentro das próprias forças produtivas da nação. Terá de ser o nosso próprio sistema imunológico que terá de vencer a patogênese da preguiça, da corrupção, da destruição de valores simbólicos, da baixa auto-estima. 
    Mas caberá essencialmente ao Governo Federal, aos Governos Estaduais, aos Governos Municipais, induzir a mudança para o estado sadio; eles mesmo saindo do estado sedentário. Será encomendando produtos e sistema nacionais, será incentivando a criação destes, será expressando claramente esta intenção, que fará com que o resto da sociedade se animará a levantar a bunda da cadeira e ir correr, não a maratona, mas a distância que diariamente irá aumentando, à proporção da melhoria de sua musculatura. Uma dietazinha ajuda; nada de buginganga importada, seja a caneca de plástico chinesa, ou o automóvel europeu. 
    Temos que ter a consciência que esta tautologia, este é o termo, não é nem chauvinismo, nem tampouco patriotada; é princípio da sobrevivência, pura e simplesmente. Se o Estado brasileiro, isto é, o Governo deste, não tomar as medidas de proteção ao nacional agora, voltaremos vergonhosamente aos tempos neo-liberais e ter que pedir esmola de novo. Os daquela época não tinham um pingo de vergonha em pedir esmola, mas agora, que já tomamos um pouco do gosto da soberania, será mais fácil de se esforçar, de apertar o cinto, de ir trabalhar e produzir.
    Aqueles que ainda estão no tempo das diligências, que se esforçam para voltar às condições de colonizados cultural, social e economicamente, irão criar todas dificuldades possíveis, qual o tumor que se alimenta do próprio tecido sadio. Então será cortando a alimentação deste (bloqueando a angiogênese)  que iremos criar as condições propícias à cura. 
     Cabe-nos agora, após as analogias biológicas, saber quem é quem no controle do Estado, seja no Executivo, seja no Legislativo, no Judiciário, no Ministério Público e ainda nos segmentos produtivos, da comunicação, da produção e também do lazer, da mídia.
      Se em todos houver a preferência pelo nacional, se em todos se exigir a criação, a produção e o nosso talento, então estaremos criando as condições sadias para que em futuro breve possamos colocar etiquetas em produtos "made in Brazil", sem nenhum chauvinismo, mas apenas criando as condições para que não tenhamos mais miséria, nem uma divisão de riqueza vergonhosa. Não estamos pedindo muito, apenas que tenhamos vergonha, brio e vontade de produzir no Brasil
   

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Não somos inatacáveis

      Lenta, mas contínua, a marcha em direção ao controle do continente ao sul se verifica agora com notoriedade. O ainda poderoso estado do norte tem visto, pouco à pouco, a sua influência diminuir no extremo oriente, onde a China passa a ser a potência controladora, militar e economicamente. Há pouco a imprensa divulgou a nota diplomática pedindo que o EUA se retirasse do sul do Mar da China. No que prontamente foi atendido. A China no momento não pode ser colocada contra a parede, pois uma simples saída de dólares de sua reserva, já criaria um embaraço sem proporções na economia americana e ocidental. Qualquer ameaça neste sentido, ou potencial, ou suspeita, já cria problemas incalculáveis. Imagine-se se A China resolver descarregar esta reserva; é uma arma de guerra. 
      A situação do Afeganistão, e mesmo a do Iraque, não indica uma saída honrosa. A situação da Síria coloca os EUA perigosa e potencialmente  em trajetória de confronto com China e Rússia.
      Portanto um recuo é uma opção estratégica possível e necessária. Tal recuo implica em reforçar a presença nos Estados latino americanos. Presença que em si mesmo não tem nada de errado, não fosse a forma a que está o império do norte habituado historicamente. Tivesse aprendido à lidar com os Estados vizinhos de forma pacífica, absolutamente não-intervencionista, hoje tal situação estaria até reforçada. Ocorre que, a história mostra, não houve esta evolução política e diplomática. Lamentavelmente Honduras serve de exemplo, e mostra que ainda sobrevive a antiga forma imperial intervencionista. Daí nasce a questão: o que pensar então do Paraguai? Onde um presidente se mostrou ingenuamente negociador demais e acabou "dando carona para o escorpião atravessar o rio".
      Diante do cenário que se apresenta temos mesmo que por as barbas de molho. Sabemos sobejamente que temos internamente uma não pequena quantidade de forças políticas e econômicas que estão à serviço do império. Esta afirmativa não é nenhuma novidade e nem cabe aqui conotações ideológicas; é  fato que todas as correntes políticas tem consciência;  à menos de alguns ingênuos, todos, inclusive os interessados que lucram de algum modo, o sabem muito bem.  E esta gente atua no cenário político e estratégico, com um discurso como se fossem patriotas. Mas a máscara vem caindo e a população em geral já percebe os movimentos sutis no teatro de operações. As coincidências começam a ser óbvias e artificialmente engedradas. Demais para não serem percebidas pelo inconsciente coletivo.  Daí termos que estar preparados.
      Estar preparado é ter alguma auto-suficiência tecnológica, não apenas no que tange a fabricação de itens de defesa e segurança. É independer de importações que, muitas vezes, são utilizadas como instrumento de controle do país exportador. Também é formar recursos humanos à altura desta demanda, como é para todas as demandas sociais e econômicas, e que deve se iniciar com qualidade desde os primeiros anos escolares. 
      Estar preparado é fazer a máquina do Estado dar preferência ao produto nacional e nele investir.
    Estar preparado é combater a corrupção que, além de enriquecimento ilícito, ainda trabalha em favor de outra nação 
    Estar preparado é por os recursos do Estado, suas agências de fomento, à serviço do novo, do arriscado, mesmo sabendo que parte dos recursos, será consumida em honestas e patrióticas tentativas, ás vezes sem sucesso.
    Estar preparado é formar a opinião pública, ou melhor, permitir que esta se forme de maneira soberana, independente e lúcida. E não à reboque de qualquer prestigitador de feira que apareça na mídia.
      Temos de estar preparados para proteger nossa soberania. Muitos no passado deram suas vidas com este ideal.  Se herdamos esta honradez e patriotismo, então chegou a hora. Não somos inatacáveis.