sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A esperança da educação

Após ler as notícias do leilão de Libra, tanto os que esclareciam o complexo sistema de partilha, quanto os que o criticavam, à partir da minha perspectiva própria de apoio a esta arrojada iniciativa de longo alcance geopolítico, que indubitavelmente foi a engenharia de formação deste consórcio, chego a conclusão que somente poderia  ter sucesso se fosse, como foi, gestado por três mulheres. Tivesse sido gestada a solução da partilha e o processo de oferta por homens, dificilmente iria se chegar ao ponto minimalista que se chegou.
Já tive a oportunidade de externar esta opinião a alguns companheiros que acharam que era uma provocação, ou troça, ou brincadeira da minha parte. Mas não é não, acho mesmo que estas três mulheres, as senhoras Dilma, Maria da Graças e Magda engendraram esta abrangência como só as mulheres sabem fazer. É a vocação intrínseca à gestação complexa destas mulheres que fez do leilão, um caso concreto de parto natural de uma solução complexa, já que o problema de maximização dos interesses consorciados não poderia obviamente ter uma solução que não tivesse sido previamente simulada, negociada, ensaiada dentro de uma ambientação propícia. Um leilão nos moldes tradicionais, teria sido um desastre, não importa a direção que tomasse e quem saísse vitorioso; todos sairiam perdendo. Porque o problema de conciliar interesses diversos, distintos e até conflitantes não aceita uma solução trivial e rápida; tem de ser construída. O problema não é trivial. 
Mas a capacidade de arranjar os recursos, a prospecção de interesses e a avaliação das potencialidades  é uma das competências naturais femininas. Junte-se a estas competências naturais, o fato que uma economista, uma engenheira química e uma engenheira civil terem a vocação natural da proteção. São mulheres. Portanto não foram apenas os números e as engenharias, desenvolvidas durante um bom tempo, que levaram ao caso ótimo. Foi a proteção de interesses comprometidos que inclusive atendeu ao requisito de defesa.
Empresas como a Shell, a Total e as chinesas, formam um misto de equilíbrio onde pode se apoiar a Petrobrás tanto no plano exploratório, com seus custos superlativos, quanto no plano da produção.  Além disso é patrimônio do Brasil e de parceiros em alianças de alcance estratégico. Podemos agora ir trabalhar com a certeza que aventuras afoitas já não serão mais prováveis e mesmo possíveis.
Entretanto, cabe um preceito de temperança e de cuidado: - cuida bem deste regalo. Há uma frase latina que diz "bona quae venniunt, si sustineantur, opprimunt", isto é: "a riqueza que chega, se não é sustentada, esmaga". 
Agora começa então a fase de desenvolvimento e proteção deste que nasceu para um futuro brilhante. Muitos estudantes o esperam, agora têm esperança.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pré-Sal, dia da Soberania

O pré-sal não é a única região do globo que irá merecer a atenção dos nossos amigos americanos. Não, em qualquer lugar onde houver petróleo lá estará uma frota à garantir os interesses na proteção do padrão de vida que privilegia o transporte pessoal, o desperdício e, sobretudo, na garantia de abastecimento da imensa máquina militar; máquina esta que consome cada vez mais petróleo. Esta situação realimenta a dependência da economia americana ao petróleo. 
Mesmo que a Marinha Americana esteja revendo a doutrina da utilização dos super-portaviões, devido ao seu custo e, mesmo sendo nucleares, à extrema demanda de combustível dos seus aviões acaba por alterar algumas prioridades e dependências tecnológicas. No entanto a evolução cibernética e a força de submarinos nucleares lhes dá uma imensa capacidade de projeção de poder que somente pode ser influenciada pelo desenho dos planos geopolíticos e a construção de alianças que a coloquem numa situação de zugswang(1).  Não será por outra condição que a atual situação da Síria não desbancou para a simples ocupação, tal como o Iraque em 1990 e a Líbia mais recentemente. Escusado dizer que ambas as situações se deram em áreas de produção de petróleo. 
Não posso ver a situação do leilão de Libra, sem considerar este fator preponderante, a manutenção de sua segurança e a garantia dos investimentos feitos, atual e futuramente. A razão desta garantia  será dada pelo descompasso entre a popularização das tecnologias alternativas emergentes e a escassez crescente das fontes de petróleo. Haverá então inexoravelmente um momento desfuncional, onde a escassez poderá justificar ações mais ousadas. Basta ver no mapa abaixo o grau de importância que o petróleo tem no cenário geopolítico, à partir da perspetiva americana. Não fora outra a razão de reativação da Quarta Frota em 2008. Observem no mapa a importância relativa da Quinta Frota.
Distribuição espacial das Frotas da Marinha Americana

Comparativamente a 7ª. Frota, que cobre grande parte do Pacífico e a 3ª. Frota que cobre o Pacifico vizinho ao território continental, e mesmo a 6ª. Frota que tem a cobertura da área da OTAN e o Atlântico Sul, estas não se comparam a 5ª. Frota que tem a missão de cobrir a região do Oriente Médio. Ou seja, é o fator que determina gastos imensos de manutenção, o acesso as jazidas de petróleo. 
Portanto não sejamos ingênuos em querer aferir a importância do Pré-Sal na escala ideológica ou apenas econômica. Vendo a distribuição do jogo no tabuleiro geo-político internacional, não podemos negligenciar a Defesa desta riqueza. E a Defesa desta riqueza passa pela construção de alianças que estabeleçam um contraponto de dissuasão. Caso contrário, deixada desguarnecida a região, deixaremos a porta aberta para uma aventura. Sozinhos não seremos capazes nem de explorá-la à contento e muito menos de defendê-la de uma tentação aventureira. Cabe a nós construir a parceria dissuasória. E esta tem a China como nosso melhor aliado. Tem as necessidades de abastecimento na região compensando os gastos de prospecção e extração e a posição de aliado, militarmente falando.
As regras complexas de partilha, que derivam de uma engenharia comercial abrangente e também complexa dificultam o entendimento pela  maioria das pessoas com quem já conversei. Lembro que problemas complexos cobram soluções que serão inevitavelmente complexas. Mas a cultura da leitura de manchetes e a tendenciosidade sistemática e virulenta da mídia contra o governo Dilma, junto à melodramática peroração dos que querem guardar o petróleo à espera de uma aventura (quem sabe?),   nem esclarecem  o tema nem levantam a questão da Defesa. 
Daí me sinto na obrigação de levantar o tema e propor o apoio lúcido à esta complexa, mas arrojada, iniciativa do leilão. Hoje é o dia da soberania.

(1) - posição no xadrez onde não se pode mover sem que se ponha na situação de perder, independentemente da vantagem estabelecida.