segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pré-Sal, dia da Soberania

O pré-sal não é a única região do globo que irá merecer a atenção dos nossos amigos americanos. Não, em qualquer lugar onde houver petróleo lá estará uma frota à garantir os interesses na proteção do padrão de vida que privilegia o transporte pessoal, o desperdício e, sobretudo, na garantia de abastecimento da imensa máquina militar; máquina esta que consome cada vez mais petróleo. Esta situação realimenta a dependência da economia americana ao petróleo. 
Mesmo que a Marinha Americana esteja revendo a doutrina da utilização dos super-portaviões, devido ao seu custo e, mesmo sendo nucleares, à extrema demanda de combustível dos seus aviões acaba por alterar algumas prioridades e dependências tecnológicas. No entanto a evolução cibernética e a força de submarinos nucleares lhes dá uma imensa capacidade de projeção de poder que somente pode ser influenciada pelo desenho dos planos geopolíticos e a construção de alianças que a coloquem numa situação de zugswang(1).  Não será por outra condição que a atual situação da Síria não desbancou para a simples ocupação, tal como o Iraque em 1990 e a Líbia mais recentemente. Escusado dizer que ambas as situações se deram em áreas de produção de petróleo. 
Não posso ver a situação do leilão de Libra, sem considerar este fator preponderante, a manutenção de sua segurança e a garantia dos investimentos feitos, atual e futuramente. A razão desta garantia  será dada pelo descompasso entre a popularização das tecnologias alternativas emergentes e a escassez crescente das fontes de petróleo. Haverá então inexoravelmente um momento desfuncional, onde a escassez poderá justificar ações mais ousadas. Basta ver no mapa abaixo o grau de importância que o petróleo tem no cenário geopolítico, à partir da perspetiva americana. Não fora outra a razão de reativação da Quarta Frota em 2008. Observem no mapa a importância relativa da Quinta Frota.
Distribuição espacial das Frotas da Marinha Americana

Comparativamente a 7ª. Frota, que cobre grande parte do Pacífico e a 3ª. Frota que cobre o Pacifico vizinho ao território continental, e mesmo a 6ª. Frota que tem a cobertura da área da OTAN e o Atlântico Sul, estas não se comparam a 5ª. Frota que tem a missão de cobrir a região do Oriente Médio. Ou seja, é o fator que determina gastos imensos de manutenção, o acesso as jazidas de petróleo. 
Portanto não sejamos ingênuos em querer aferir a importância do Pré-Sal na escala ideológica ou apenas econômica. Vendo a distribuição do jogo no tabuleiro geo-político internacional, não podemos negligenciar a Defesa desta riqueza. E a Defesa desta riqueza passa pela construção de alianças que estabeleçam um contraponto de dissuasão. Caso contrário, deixada desguarnecida a região, deixaremos a porta aberta para uma aventura. Sozinhos não seremos capazes nem de explorá-la à contento e muito menos de defendê-la de uma tentação aventureira. Cabe a nós construir a parceria dissuasória. E esta tem a China como nosso melhor aliado. Tem as necessidades de abastecimento na região compensando os gastos de prospecção e extração e a posição de aliado, militarmente falando.
As regras complexas de partilha, que derivam de uma engenharia comercial abrangente e também complexa dificultam o entendimento pela  maioria das pessoas com quem já conversei. Lembro que problemas complexos cobram soluções que serão inevitavelmente complexas. Mas a cultura da leitura de manchetes e a tendenciosidade sistemática e virulenta da mídia contra o governo Dilma, junto à melodramática peroração dos que querem guardar o petróleo à espera de uma aventura (quem sabe?),   nem esclarecem  o tema nem levantam a questão da Defesa. 
Daí me sinto na obrigação de levantar o tema e propor o apoio lúcido à esta complexa, mas arrojada, iniciativa do leilão. Hoje é o dia da soberania.

(1) - posição no xadrez onde não se pode mover sem que se ponha na situação de perder, independentemente da vantagem estabelecida.
    


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário