quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Ganharam no grito

 A imensa dificuldade que tenho sentido em, não apenas de externar meu pensamento sobre a nossa triste situação política, social, cultural e o mais que seja, mas de fazer deste pensamento algo organizado e coerente, foi aliviada pela leitura de João Paulo Nogueira Batista Jr. (https://jornalggn.com.br/artigos/bolivia-chile-bacurau-por-paulo-nogueira-batista-jr/) . Sempre procuro buscar neste experiente e lúcido economista e cientista social a inspiração e as lições do que me faltam, e muito. 

O leitor ou leitora que está aí, invisível, inacessível, atrás da tela onde ora vou digitando essas palavras, esse leitor ou leitora haverá de compreender, de certo, que escrever se mostra cada vez mais difícil? Estou à beira de desistir. Mas retiro o ponto de interrogação. Não cabe a dúvida – ironicamente presente na expressão “de certo”. O leitor desta coluna compartilha comigo alguns valores, opiniões e – sobretudo – angústias. Quem vivencia o momento atual, no Brasil e no mundo, sem angústia, sem pelo menos uma ponta de angústia, dificilmente estaria lendo estas palavras neste momento.

Diante desta citação acho que me cabe exteriorizar a enorme preocupação e incômodo com a cobertura das eleições americanas por parte da mídia; como se o resultado final daquele furdunço, mesmo afetando, em diferentes graus, a vida econômica de todas as nações do mundo, fosse mudar profundamente esta situação em que nos encontramos, onde a justiça é vilipendiada, as nossas forças armadas desmoralizadas e o povo mergulhado em desesperança e angustia. Eis a minha ponta de angústia.

Como não podemos nos omitir ou mesmo nos isolar diante deste certame, ainda que pouco vá interferir no comportamento de nosso presidente e seus acólitos, vejo que inexoravelmente a nossa economia acabou sendo afetada, ainda que indiretamente: - aproveitaram-se do frisson das eleições americanas e passaram no Senado a "privatização" do Banco Central, que já era uma autarquia federal bem independente. Se os banca queria mandar na economia e na finança do país, já está a meio caminho andado, só faltando a aprovação da Câmara. Cabe então a pergunta: - Afora os Estados Unidos, onde os Bancos Centrais são autônomos independentes dos governos nacionais? Considere-s ainda o caso do Banco Central da União Europeia. 

Espero que, independente de quem ganhe esta eleição nos Estados Unidos, a componente final das forças internacionais, incluindo o poder econômico da China, a capacidade militar da Rússia, a auto-afirmação da Alemanha, a "reconstrução" de países vizinhos da América do Sul, nos afete e pressione a refletir sobre a necessidade de sair deste laço que nos amarra. Que possamos desfrutar da ciência, que nos oferece a possibilidade das vacinas, a instalação do 5G, a educação estendida aos mais necessitados. 

Lembro que D.Pedro I, arrancou os laços do chapéu par gritar "Independência ou Morte". Se não lutarmos agora pela independência e continuarmos amarrados, amordaçados e algemados por esta súcia jurídica, parlamentar e militar só nos restará a morte como nação. O grito de Pedro I, duzentos anos depois, terá sido em vão.