sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Limite de profundidade

A grande questão que se apresenta, em meio ao sentimento de dúvida, desespero, descrença, desânimo,  e tudo que possa ser creditado à desesperança, é se encontraremos uma saída para esta situação humilhante de país de segunda classe, habitado por escravos, feitores, capitães-do-mato e senhores munidos de instrumentos eletrônicos do século XXI para desenvolver e transitar  mundo afora as suas riquezas mas aos moldes dos tempos coloniais. Assim estamos. Quando resolvemos desmontar tudo que construímos com suor e sangue e adentrar ao século IXX.
Na conversa que tenho tido com quem compartilha das minhas esperanças, ou desesperanças, emerge esta questão, a de como poderíamos sair desta situação.
Só vejo uma saída agora, ...lamentavelmente, pela força.
Depois de acabar com o programa PROSUB, de entregar reservas criadas em 1984 ao capital descontrolado, de querer agora acabar com a Petrobras e a Eletrobrás ( nem estou mais falando de Previdência Social )  o governo postiço que temos terá de ser retirado à força, pois os outros poderes estão, se não coniventes, apáticos.
Aguardo, sinceramente, para breve uma mudança neste quadro; ou desautorizando-o, mas mantendo as aparências, ou simplesmente depondo-o.
Se deixarmos seguir este  despautério chegaremos em 2018 sem país. muito menos eleições.
Se afundarmos mais não conseguiremos mais respirar.

Privatização ou escracho?

Transcrita da Carta Capital artigo de William Nozaki, Professor de Ciência Política e Economia na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) e integrante do Grupo de Estudos Estratégicos e Propostas da Federação Única dos Petroleiros:



Há mais de duas décadas a política macroeconômica tem sido orientada por juros elevados e câmbio valorizado, em um cenário internacional marcado, do ponto de vista financeiro, pelas oscilações dos ciclos de liquidez e, do ponto de vista produtivo, pela emergência das cadeias globais de valor.

Essa combinação de fatores contribuiu para a mudança no perfil do empresariado industrial, que, progressivamente, passou a diversificar parte dos investimentos produtivos, convertendo-os em aplicações financeiras, de modo a auferir ganhos menos com lucros de médio e longo prazos e mais com rendimentos imediatos.

A financeirização que ao longo dos últimos anos foi tratada como uma questão prioritariamente macroeconômica agora revela sua face microeconômica. O caso atual da Petrobras tem sido emblemático, o rentismo não impõe sua influência sobre a petrolífera apenas de fora para dentro, ele também exerce seu poder de dentro para fora ocupando assentos nos espaços decisórios do conselho, da diretoria e da própria presidência da empresa.

Como se sabe, observa-se atualmente em curso um projeto acelerado de desmonte do arranjo institucional e estatal que criou condições para o desenvolvimento brasileiro. No epicentro desse processo encontra-se a Petrobras.
Desde 2003, a estatal preservou-se de uma forte interferência dessa lógica financeirizada na gestão interna. Ou seja, a estratégia e os projetos desenvolvidos pela Petrobras ficaram à cargo de um corpo técnico e diretivo ligado à própria empresa e/ou a especialistas que não materializavam, ao fim e ao cabo, os interesses rentistas. Foi agora, na gestão Pedro Parente, que houve, porém, uma forte reconfiguração desse cenário.

A atual gestão apresentou um novo Plano de Negócios e Gestão (2017-2021) cuja centralidade está no pacote de desinvestimentos e privatizações. Desde então, a Petrobras estabeleceu como meta se desfazer de ativos e patrimônios estimados em 34,6 bilhões de dólares (perto de 110,7 bilhões de reais).

A companhia retira-se dos ramos da petroquímica, biocombustíveis e fertilizantes, abre o mercado de refino para uma centena de importadoras, sinaliza para a abertura de capitais da BR Distribuidora, encolhe sua atuação logística, se desfaz de suas térmicas e promove a venda de campos estratégicos do pré-sal, abrindo o mercado nacional para multinacionais como a Total (francesa), a Statoil (norueguesa), a Taiyo Oil (japonesa) e a Alpek (mexicana), entre outras.

Para além da chegada de grandes companhias petrolíferas no País, o que chama a atenção é a participação de grandes fundos de investimentos no atual processo de privatizações, como é o caso, por exemplo, do Brookfield, que arrematou a compra da Nova Transportadora do Sudeste (NTS) por 5,2 bilhões de dólares (16,6 bilhões de reais).

Não só as empresas do setor, mas o mercado financeiro está sedento pelas novas oportunidades abertas pela Petrobras.

Dessa vez, é importante destacar: os interesses financeiros assediam a Petrobras a partir do seu interior e gera desconfianças sobre a possibilidade de existência de conflitos de interesse e tráficos de influência na companhia e no seu plano de privatizações.

A despeito de alardear a eficiência de seu novo programa de governança, compliance e de seus testes de integridade para a nomeação do alto escalão da companhia (background check), é no mínimo curioso notar que parte dos diretores e conselheiros da Petrobras permanece atuando ou atuou em segmentos empresariais diretamente interessados no desmonte da Petrobras, com destaque para conexões que deságuam no setor financeiro.

O diretor-executivo de governança e conformidade, João Adalberto Elek Jr., foi diretor financeiro do Citibank por mais de 20 anos e acabou recentemente afastado temporariamente do cargo, pois contratou sem licitação a consultoria financeira Deloitte, empresa onde sua filha trabalha. Em outras palavras: o responsável por apurar casos de conflitos de interesse é ele mesmo um interessado em conflito com as normas éticas da própria empresa. O atual diretor de estratégia, organização e sistema de gestão, Nelson Silva, foi CEO da BG e da Comgás, essa última concorrente da Liquigás Distribuidora, também privatizada.

No conselho da Petrobras, por seu turno, dos nove conselheiros, ao menos quatro tem relações pregressas ou presentes com empresas hoje interessadas na venda dos ativos da Petrobras: Luis Nelson Guedes de Carvalho e Durval José Soledade Santos, dividem suas atuações, simultaneamente, no conselho da Petrobras e no conselho administrativo da BM&FBovespa.

Francisco Papathanasiadis foi presidente da Associação Brasileira de Mercado de Capitais e Marcelo Mesquita trabalhou nos bancos Garantia e BTG Pactual. Em todos os casos, observa-se uma intensa presença de interesses financeiros na órbita e no interior da Petrobras.

Talvez o caso mais emblemático seja o do próprio presidente da Petrobras. Pedro Parente mantém seu posto de presidente do Conselho Administrativo da BM&F Bovespa justamente num momento em que a companhia realiza desinvestimentos e abertura de capitais de algumas de suas subsidiárias, além de ter atuado como CEO da Bunge, grande interessada na área de atuação da Petrobras Biocombustíveis, também privatizada.

Mais ainda: Parente é proprietário de uma empresa especializada em gestão financeira de ativos de famílias milionárias ou bilionárias, a Prada Ltda., onde tem como sócia sua esposa, oriunda do JP Morgan e do Credit Suisse, além de uma gestora egressa do setor financeiro da Booz Allen.

Em 2014, quando Parente saiu da Bunge, a Prada Ltda atendia uma carteira de 20 famílias, todas com patrimônio acima de 20 milhões de reais. Em 2016, depois de Parente ter sido nomeado presidente da BM&F Bovespa e da Petrobras, sua empresa privada passou a atender 91 famílias e 4 empresas, agora incorporando clientes com patrimônios bilionários.

Além disso, Parente é também conselheiro do grupo RBS, sucursal da Rede Globo no Rio Grande do Sul, e do Grupo ABC, empresa de propaganda que tem como sócios Nizan Guanaes e Armínio Fraga, este último, por seu turno, proprietário da Gávea Investimentos, que estabelece relações com grandes bancos e fundos internacionais interessados nos pacotes de desinvestimentos da Petrobras.

Os atuais gestores da maior petrolífera da América Latina tem por hábito defender as virtudes do mercado em contraposição aos vícios do Estado. Se dizem liberais, mas não cultivam a suposta impessoalidade e a propalada separação entre público e privado que eles mesmos dizem ser um traço essencial do liberalismo, no lugar disso se enroscam em tramas envolvendo laços de família e amizade que se convertem em troca de favores travestidas de operações técnicas e isentas. Desse modo, operam o desmonte de Estado e das empresas estatais como se estivessem numa ação entre amigos. São exatamente esses “operadores amigos” que encomendaram a privatização da Eletrobras.

Tantas possibilidades de conflitos de interesses, como no caso atual da Petrobras, causaria vergonha a qualquer liberal digno do nome, mas no Brasil, como se sabe há muito, o liberalismo é ideário de fachada, mero verniz para disfarçar a porta que abre aquela antessala onde se encontram os vendilhões do patrimônio público e os mercadores financeiros da iniciativa privada.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Chega

Entender o que ocorre no Brasil à partir de fora é impossível. Vários testemunhos já foram dados, muitos até assisti, seja por europeus ricos, seja por autoridades governamentais, seja por orientais que observam desde longe, mas atentos agora, seja por quem for, entender é impossível. Impossível entender e admitir a passividade que nos domina. Já ouvi comparações com o povo grego, irlandês, espanhol e não se consegue traçar nenhum paralelo, tampouco encontrar justificativas.
Deixamo-nos enganar  pelo impeachment. Assistimos a campanha feita pela mídia orquestrada, desde os agentes (Milleniun, Amcham, Lemann e vários outros) passando pelos notórios Temer, Cunha, Jucá, Aécio, Padilha, Moreira Franco, e achamos que não ia acontecer nada. E simplesmente tudo ia continuar tranquilo e calmo. Os mais exaltados, achavam até que iria melhorar. Mas como? Se uma campanha de ódio destilada por estes agentes visava exatamente a destruição do Estado. 
A quem mais interessaria a demolição do Estado Brasileiro ? Sua mundialmente conceituada engenharia civil e hidráulica, sua indústria aeronáutica, seu petróleo, sua produção agrícola, sua gigantesca produção de proteína animal? A quem, senão aos concorrentes ?

Ocorre que nós não vimos, cegos que estávamos pelo ódio e pela extrema negação de nossas origens, consequência da mente enfraquecida e já entorpecida pela subliminar campanha. Falo da nossa cabeça, da nossa elite. Realmente, a cabeça estava aqui, mas o coração estava em Miami, ou Nova York, ou Paris, ou Londres. Nossos valores já não eram mais aqueles do Ariano Suassuna, do Câmara Cascudo, do Guimarães Rosa, do Drummond, da Cora Coralina, do Mário Quintana. Não, simplesmente havíamos os esquecido, de tanta arenga e mutilação do idioma, dos costumes, das nossas cores.
Passeatas verde e amarelas financiadas por banqueiros matreiros e mesmo por agentes estrangeiros, sem saber o que mesmo significavam aquelas cores das casas dos Habsburgo e dos Bragança. Assim como copiávamos o bater de panelas chilenos, quando lá faltava a comida (o que não ocorria aqui, pois tínhamos até um bolsa família).
Aquele verde e amarelo das passeatas insufladas já não se vê mais pois, como disse Drummond ", ... a cor do arrependimento também desbota ".
A diuturna campanha, hoje é substituída pela vã tentativa de justificar o injustificável e muito menos explicável.
Tudo está desmoronando e nós não sentimos, pois perdemos a capacidade de sentir. E já faz tempo.
Mas pergunto então:  Nós quem ?
Nós, aqueles que nunca nos desempregamos. Nós, aqueles que nascemos em condições econômicas de conforto?
Fico em dúvida. Será que aqueles, que agora perdem os irrisórios auxílios do Bolsa Família, reagirão tão passivamente ?
Será que as comunidades faveladas dos grandes centros estarão tão anestesiadas ? 
Os indicadores sociais já não são tão tranquilos. 
Já há sinais de intranquilidade. Mas há aqueles que ainda não se deram conta que esta passividade levará ao desespero. Repito então Drummond. "Não é fácil ter paciência diante dos que a têm em excesso".
Ninguém consegue mais entender, nem os que estão de fora.
Chega.