quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Alea jacta est.

 Diante de tantas sandices, de tantas maldades e de tantas traições a soberania do país, acompanhado pelo parlamento e pela excelsa corte deste mesmo país, e nada acontecer, vemos claramente que tal cenário somente se reverterá para uma condição minimamente soberana, quando influenciado pelo meio externo.

Esse pensamento me acode quando do anúncio do resultado das eleições americanas. A influência nos meios políticos e no meio empresarial foi obviamente detectada pela imprensa e esta se divide,  entre a crença na epifania de nossa redenção, por um lado, e pela piora nas relações internacionais dado a histórica belicosidade do democratas americanos incluindo aí o governo Obama.

Não importa qual dos dois caminhos serão trilhados, ou mesmo um terceiro, nossa situação, o estado em que nos encontramos, será afetada, e esta resiliência do esquema Bolsonaro será inexoravelmente quebrada. Não apenas devido ao seu comportamento, metido a esperto, agressivo e sem compostura, mas pelo fato do establishment não mais aceitá-lo. Temos que lembrar também que, após o dia 2 de janeiro do ano que vem, Bolsonaro não será mais útil, já que poderá ser descartado sem haver, por parte deste mesmo establishment, risco de nova eleição para presidente. Neste caso de descarte do incômodo presidente, seu vice Mourão, bem mais palatável aos donos reais do poder, ou seja o capital especulativo, bem mais domesticado pelos formadores de opinião sediados em Langley-Virginia, poderá terminar a obra de desmonte do Estado Brasileiro; já que não lhe fazem oposição os meios de comunicação de massa ora dominados pelos agentes do capital internacional. 

A julgar pelos generais que fazem parte do atual governo, retirando aqueles que acreditavam ingenuamente na seriedade de propósitos do presidente miliciano, podemos concluir que o vice ora em questão não terá muito mais lucidez para tratar a complexidade das relações internacionais imbricada nos, mais complexos ainda, problemas internos de nossa economia e de nossa realidade político-social. Se considerarmos seu discurso primário somente poderemos aproveitar esta janela de oportunidade de mudança de estado se recuperarmos o Itamaraty, com um diplomata que tenha sua carreira provada nos últimos anos de sucesso da diplomacia brasileira (vide  se "Os insatisfeitos" de 28/10/20).

Se realmente houver alguma grandeza por parte daquele que vier assumir o lugar do presidente miliciano, chamaria Celso Amorim para reconstruir o complexo relacionamento Brasil x Estados Unidos, que foi degradado por Trump, não apenas desastrado como inocente útil na mão do complexo industrial-militar, mas como o excelso mau-caráter. Não que Binden não carregue na sua vitória compromissos fortes com este mesmo complexo; mas a sua alavancagem e sua vitória se deveu ao apoio do cidadão negro e desempregado que espera menos gastos militares e mais gastos sociais. Pouco difere em suas esperanças do nosso conterrâneo. 

Para todos efeitos, alea jacta est.


domingo, 8 de novembro de 2020

Milagre americano

Hoje li o discurso de Binden; realmente merece ser elogiado. Mas é um discurso. Revela intenções, verdadeiras ou não. Revela mudanças reais no quadro político americano. Mas uma coisa é o discurso de animação das bases, outra coisa é governar sem maioria no Senado americano. Nem sei se os democratas fizeram maioria na Câmara.

De qualquer forma a administração democrata, para efeito de política externa, não estará muito distante nos seus fundamentos do inventário de intervenções e sanções, da política republicana. Vamos nos lembrar que a maioria das recentes “revoluções coloridas” mundo afora ( ênfase para a Ucrânia) ocorreu sob os auspícios da administração democrata Obama. As sanções impostas ao Irã, a Rússia, a “perigosíssima” e ameaçadora Cuba (que ainda tem em seu território a excrescência da prisão de Guantánamo) vem desde de tempos democratas e o próprio Binden, como senador, apoiou e incentivou a invasão do Iraque à época do Presidente Bush. Nem quero me referenciar a Assange, Portanto, esperar pacifismo por parte da administração Binden, não me parece lógico.

No entanto, no que concerne ao nosso país, acho que podemos esperar alguma melhora nas relações diplomáticas, ainda que esteja viva a memória da interferência, ou melhor da tutela, na Lava-Jato.

Cabe sim, as nossas Instituições, ou seja, seus representantes e seus mandatários, estabelecerem uma relação mais profissional e mais soberana. Isso passa por um comportamento menos juvenil e lacaio e mais profissional por parte destes profissionais, sejam estes civis ou militares. Parece óbvio que esperar tal comportamento de parte do capitão insurreto e jubilado, que hoje tripudia sobre generais, é mais do que ilógico; seria infantil.

As relações internacionais irão sim ser afetadas pela situação da Síria, onde os comandantes militares americanos, que até iriam desocupar o território sírio, partiram para o mais escrachado mercenarismo, “rachando” a venda do óleo sírio com os terroristas da DAESH. Há fotos e testemunhas americanas comprovando a pirataria. Será que a nova administração democrata vai dar vim a esse comportamento vergonhoso por parte dos militares americanos na Síria? Como vão lidar com a situação que criaram na Ucrânia na “Revolução Laranja”? Incluindo também as ligações (escusas?) do filho do presidente eleito com a Burisma Holding. Ainda há a intervenção nada sutil na Bielo-Rússia, as sanções impostas aos construtores do NordStream-2, que incomodam tanto os alemães. A lista de intervenções, provocações, etc.. mundo afora é bem grande. Sobra então a mais importante: - Como irão se relacionar agora (comércio e militarismo) com a China?

Acho mesmo que a nossa vez na fila das reformas e consertos na diplomacia ainda está longe; o que pode nos levar até o ano que vem, ter que varrer “a nossa administração”. Na lista da “basura” estarão inexoravelmente Salles, Ernesto Araújo e mesmo Guedes.

Não dá para vaticinar, mas cobrar um comportamento mais maduro, soberano, decente, menos subalterno por parte dos comandos militares e um Legislativo e um Judiciário mais confiável, é o mínimo que podemos fazer.

Entramos neste fosso, ou nesta fossa; temos que sair com nosso próprio esforço. Esperar pelo “milagre” americano só mesmo alguém “deitado eternamente em berço esplêndido”.