terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fé, fá, sol, sal, sá da terra


( do facebook npm)


     Estava a assistir uma série de TV chamada “Inspector Maigret”, baseada na obra do escritor franco-suisso George Simenon. Série policial que reproduz, com fidelidade cenográfica perfeita, a Paris dos anos 40 e 50. Lá pelas tantas do filme, aparece uma cena dentro de um cabaré, onde umas coristas dançavam ao som de música brasileira, tocada de maneira até meio tosca, por flauta doce e percussão. Eram músicas antigas brasileiras, daquela época, “Mamãe eu quero”, do inigualável maestro Jararaca, “Tico-tico no fubá” do mestre de Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha de Abreu. Ainda “Ta hi”, de Joubert de Carvalho, médico que emprestou a sua arte para que Carmen Miranda estourasse em sucessos nos anos 30. A “Pequena notável”, assim como a chamou Almirante (a maior patente do rádio brasileiro), imortalizou e universalizou músicas que até hoje ouvimos e que o nosso Carnaval não deixará esquecer.
     Tive muito que refletir, pois não há como deixar de se emocionar ao vermos nossos artistas, músicos, compositores, do mais ilustre ao mais simples, serem valorizados, tanto pelos meios de comunicação convencionais, quanto pela mera audiência pessoal, ainda que na festa do play, ainda que no coreto da praça, ainda que na Folia de Reis, em qualquer canto, em qualquer lugar. Afinal são estes que traduzem o que se passa no interior de nossas almas, são estes que dão voz aos nossos sonhos, nossas fantasias, nossos mitos, ou seja, a nossa cultura. E para que esta voz seja autêntica e verdadeira, não poderá se calar ninguém, seja o clássico virtuoso, seja o caipira simplório, seja o sertanejo popular, seja o pagodeiro da periferia, seja o funkeiro da cidade, seja o roqueiro citadino, seja o sambista famoso ou seja um mero batuqueiro do fundo de quintal. 
      Do rock pesado ao caipira, passando por todos os estágios de manifestação cultural terá de haver espaço para aquele brasileiro cheio de esperança à cultivar seus sonhos e mostrar a sua alma. Há espaço para todos no enorme ventre desta mãe querida, queiram ou não dela descender.
    Muitos simplesmente se desvencilham de nossa cultura, por simples e absoluto preconceito, sem perceber que há espaço para todas as manifestações culturais, sem exceção, do roque metaleiro até a catira, como já disse. Sem excluir ninguém, mas ninguém mesmo. Até porque esta mãe pátria brasileira tem muitas fontes onde a inspiração do artista pode ir beber. 
     Se lembrarmos que Villa Lobos baseou toda a sua obra em música brasileira, da folclórica à modinha, até a clássica, se voltarmos nossa atenção para Caetano e Gil, para os Novos Baianos, se ouvirmos Chico Cesar, de quem sou fã incondicional, Djavan, Milton Nascimento, Kid Abelha, Claudinho, meu amigo professor e doutor Sérgio que nos legou “Vital e sua moto”, sucesso dos “Paralamas”, do "Bode a gasolina" do meu amigo Wagner Grego, e do meu primo Fernando Mello, que tem várias composições espalhadas por aí, tantos, tantos outros, iremos ver que a nossa mãe é gentil e não deixa secar a fonte da inspiração. Bem já dizia o letrista Duque Estrada:
       Terra adorada,
       Entre outras mil,
       És tu, Brasil,
       Ó Pátria amada!
       Dos filhos deste solo és mãe gentil,
       Pátria amada,Brasil!
(imaginem um tamborim, um surdo, batendo miúdo e sincopado esta estrofe na voz profunda da adorável carioca Sandra de Sá, ou mesmo da potiguar Roberta Sá... Bota sá nisso, sô)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Labor omnia vincit

    De volta, após afastamento prolongado, já que a atividade de implantação de um sistema computacional de grande escala domina totalmente a mente e esgota as capacidades reflexivas adicionais ao trabalho imediato, não poderia deixar de comentar o que li e ouvi ao longo deste período, onde a atenção mais se deslocava para o imediato, sobre a badalação política. Falo sobre a badalação do "mensalão". Não falo julgamento, pois é lamentavelmente badalação e mais faz parecer comício político ou festival de rock. É triste mas é uma realidade irrebatível.
    Independentemente da peça acusatória do Gurgel, que perdeu a oportunidade de contribuir para o processo político eleitoral, e do ministro relator que, independentemente de seu voto, se comportou mal como um Ministro, com atitudes incompatíveis com a dignidade e importância de seu cargo, tal como deboches e cinismos, o que posso dizer deste caso político, infelizmente tão somente político, que alimentou muita página de jornal, é que o povo não deu a importância que este merece. 
    Não quero fazer diagnósticos, pois não me acho preparado para tal, mas percebo claramente que os canais da mídia saturaram o tema e então "ipse venena biba". De  tanto se envolverem no evento,acabaram por fazer parte e então deixaram de informar e serem isentos, passaram a votar. Passo definitivo para a perda de credibilidade a falta de isenção. Como julgamento político que foi, à ponto do Gurgel aberta e despudoramente se pronunciar por um resultado político, retirando o manto de respeitabilidade que o solene lhe entrega, nada surtiu efeito. É como se os acusados e condenados fossem recompensados com reconhecimento público. O bombástico, o midiático, a badalação, prestaram um enorme desserviço a causa política, onde os temas "financiamento de campanha", "natureza e constituição dos partidos políticos" e demais, que precisam evoluir, tiveram um hiato de contribuição.
    Mas, como diz o ditado latino, "veritatis simplex oratio", a verdade dispensa falação, vamos em frente no tema preferido que é a industrialização do Brasil e a nossa evolução científica e tecnológica. Aliás a Presidenta Dilma hoje recebe o presidente da alemã BMW que veio escolher o local da nova fábrica de automóveis. Aliás já escolheu; onde já se fala alemão, Santa Catarina, no município de Araguari. Fabricar BMW's no Brasil cai bem; ambas são marcas de prestígio. Uma, nação emergente e progressista, a outra, empresa de maior prestígio mundial em automóveis. Mas já temos uma pareceria interessante: o interior do jato executivo Lineage 1000 é projetado pela BMW (só para dar um gostinho, visitem neste site o interior do jato executivo da Embraer):
 http://www.embraerexecutivejets.com/portugues/content/aircraft/lineage1000_home.asp)
  No mais, é esperar pra ver o que resultará deste imbroglio, pois ninguém duvida mais que esta história não vai acabar por aí. Pois por agora ainda não se sabe, se ganhou o bem ou o mal. Se quem ganhou foi o bem, que bom, se foi o mal vale o ditado popular: o mal ganhado, o diabo o leva (mala parta, male dilabuntur)
   Prefiro então seguir o bem e o trabalho. Labor omnia vincit.