( do facebook npm)
Estava a assistir uma série de TV chamada “Inspector Maigret”,
baseada na obra do escritor franco-suisso George Simenon. Série
policial que reproduz, com fidelidade cenográfica perfeita, a Paris
dos anos 40 e 50. Lá pelas tantas do filme, aparece uma cena dentro
de um cabaré, onde umas coristas dançavam ao som de música
brasileira, tocada de maneira até meio tosca, por flauta doce e
percussão. Eram músicas antigas brasileiras, daquela época, “Mamãe
eu quero”, do inigualável maestro Jararaca, “Tico-tico no fubá”
do mestre de Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha de Abreu. Ainda “Ta
hi”, de Joubert de Carvalho, médico que emprestou a sua arte para
que Carmen Miranda estourasse em sucessos nos anos 30. A “Pequena
notável”, assim como a chamou Almirante (a maior patente do rádio
brasileiro), imortalizou e universalizou músicas que até hoje
ouvimos e que o nosso Carnaval não deixará esquecer.
Tive
muito que refletir, pois não há como deixar de se emocionar ao
vermos nossos artistas, músicos, compositores, do mais ilustre ao
mais simples, serem valorizados, tanto pelos meios de comunicação
convencionais, quanto pela mera audiência pessoal, ainda que na
festa do play, ainda que no coreto da praça, ainda que na Folia de
Reis, em qualquer canto, em qualquer lugar. Afinal são estes que
traduzem o que se passa no interior de nossas almas, são estes que
dão voz aos nossos sonhos, nossas fantasias, nossos mitos, ou seja,
a nossa cultura. E para que esta voz seja autêntica e verdadeira,
não poderá se calar ninguém, seja o clássico virtuoso, seja o
caipira simplório, seja o sertanejo popular, seja o pagodeiro da
periferia, seja o funkeiro da cidade, seja o roqueiro citadino, seja
o sambista famoso ou seja um mero batuqueiro do fundo de quintal.
Do
rock pesado ao caipira, passando por todos os estágios de
manifestação cultural terá de haver espaço para aquele brasileiro
cheio de esperança à cultivar seus sonhos e mostrar a sua alma. Há
espaço para todos no enorme ventre desta mãe querida, queiram ou
não dela descender.
Muitos
simplesmente se desvencilham de nossa cultura, por simples e absoluto
preconceito, sem perceber que há espaço para todas as manifestações
culturais, sem exceção, do roque metaleiro até a catira, como já
disse. Sem excluir ninguém, mas ninguém mesmo. Até porque esta mãe
pátria brasileira tem muitas fontes onde a inspiração do artista
pode ir beber.
Se lembrarmos que Villa Lobos baseou toda a sua obra
em música brasileira, da folclórica à modinha, até a clássica,
se voltarmos nossa atenção para Caetano e Gil, para os Novos
Baianos, se ouvirmos Chico Cesar, de quem sou fã incondicional,
Djavan, Milton Nascimento, Kid Abelha, Claudinho, meu amigo professor
e doutor Sérgio que nos legou “Vital e sua moto”, sucesso dos
“Paralamas”, do "Bode a gasolina" do meu amigo Wagner Grego, e do meu primo Fernando Mello, que tem várias
composições espalhadas por aí, tantos, tantos outros, iremos ver
que a nossa mãe é gentil e não deixa secar a fonte da inspiração.
Bem já dizia o letrista Duque Estrada:
Terra
adorada,
Entre
outras mil,
És
tu, Brasil,
Ó
Pátria amada!
Dos
filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria
amada,Brasil!
(imaginem
um tamborim, um surdo, batendo miúdo e sincopado esta estrofe na voz
profunda da adorável carioca Sandra de Sá, ou mesmo da potiguar
Roberta Sá... Bota sá nisso, sô)
Me sinto honradíssimo pela citação do amigo querido, primo e padrinho, com quem tive oportunidade de interpretar repentes de belos blues; nos momentos de descanso no Projeto Carajás; também formando meu ouvido nos ensaios, a que fui assistir, do coral da igreja na infância, em que você com bela e bem impostada voz de Baixo Barítono, cantava clássicos com muita propriedade. Tudo isso fez parte da minha formação e me trouxe a esta honra desta citação. Obrigado pelo "upgrade" de luz neste fim de tarde que prolongou a alegria do dia ! Abraços e parabéns pelo ótimo texto !
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