quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Educação & Trabalho

 Na nota do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, hoje (29/08/12) publicada na Carta Maior, após extensa e lúcida análise sobre educação, já que o título "Realidade e Educação" assim propunha, pude extrair no parágrafo 26 uma constatação que, além de lúcida, coloca o problema nos seus devidos termos e também coloca nos trilhos os devaneios de uma burguesia "culta" que jamais pensou ( sentir já é demais ) na dívida social coletiva assumida nos períodos de ficção. Tampouco percebe holisticamente que se insere na pior das situações, viver a civilização de empréstimo, diria Euclides da Cunha, viver de aparências. Quando a favela está ali do lado da sua janela.  
    Pensar em educação sem pensar em trabalho, em pleno emprego, é uma das formas mais absolutas, e disfarçadas, de elitismo e é a mais rasa demonstração de burrice. Eis então o que o mestre diplomata coloca no seu derradeiro parágrafo:

 " 26. Fazer crer que a educação isoladamente é o maior desafio da sociedade brasileira sem associar a educação à necessidade de aumento da capacidade instalada e do emprego contribui para evitar o debate sobre a concentração de renda e de riqueza, e a urgência cada vez maior de promover sua desconcentração, etapa indispensável para construir um verdadeiro Brasil Maior. "

 Nada mais há a dizer depois de síntese tão absoluta.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A consciência da possibilidade

   O artigo do Luís Nassif  intitulado "A luta pela reindustrialização" * serviu para perceber no próprio texto e nos diversos comentários a dificuldade de se abordar o tema na sua plenitude. Primeiro porque a industrialização não se faz apenas pelo desejo; existe, afora a conscientização social,  uma energia  imensa para reverter um quadro de desindustrialização. É como tentar ultrapassar um corredor que corre à sua frente. Ele não apenas corre como procura impedir que o ultrapasse. 
   Os nossos concorrentes exteriores usam de todas as possíveis manobras para inibir o processo de desindustrialização, incluindo o dump, o subfaturamento, a tonelada de mil e duzentos quilos. Não bastasse todas estas dificuldades a serem enfrentadas ainda temos a burocracia inerte e ainda conivente do Estado, à fazer da exportação uma batalha sangrenta, que desestimula qualquer um.
    Os diversos comentários retratam a amplitude do tema e, sobretudo, no que tange a carga tributária. Mas gostaria de colocar uma questão que acho mais importante e que está realmente sendo tratada de modo correto pela Petrobrás, que é, e foi, o instrumento que o Governo utilizou para a retomada do desenvolvimento para se salvar da paralisante epidemia neo-liberal. Os Governos do Estados, em todas as esferas, incluindo a Municipal, tem de optar pela encomenda do nacional. Não bastam os 25%  da 8666 (ainda que corretamente a´licados) ; temos de ser preferenciais, na maioria dos casos. Mas não podemos deixar de mencionar, e mesmo contrapor alguns comentários, que o BNDES tem recursos sobrando que não são demandados pela empresa nacional. Será a extrema burocracia do BNDES, a causa desta ausência? Será o  nível ainda insuficiente da gestão e controle das empresas brasileiras? 
   Acho que, como qualquer problema complexo, é a concorrência de todos estes fatores que engendram uma situação de atraso. Não se pode eleger apenas o fator tributário/fiscal, nem tampouco a burocracia de Estado, nem tampouco a incapacidade técnica. Para vencer o conluio destes fatores, que ainda estabelecem uma sinergia com sinal negativo, temos que "ultrapassar o corredor da frente"; ou seja, temos que agir com o que temos. Ninguém espera ficar bom do "resfriado" para então respirar. O enfrentamento do problema da desendutrialização exige que se lute com todos os meios ao nosso alcance. 
    Nossos concorrentes contam com nossa inércia: exportamos  barra de aço e importamos laminados, exportamos tecido e importamos roupa, enfim, exportamos commodities e importamos manufaturados, muitos, mais do que supérfluos, inúteis. Não bastam as medidas de estímulo a produção, pois é ingênuo admitir que, se não penalizarmos a importação de supérfluos, não teremos um saldo a estimular o empreendedor.
   Produzir é uma atividade que exige do homem, da sociedade como um todo, um desafio constante e uma vontade de se superar. Teremos que nos esforçar ao máximo na conscientização da preferência pelo nacional, assim como fizeram os suecos, os franceses, os alemães, os finlandeses e todos que conseguiram dar o salto qualitativo em suas sociedades. Não basta ter vontade apenas, é preciso lutar contra aqueles que de tudo fazem para puxar pra baixo nossas esperanças, nossa auto-estima e nosso futuro. 

 *- ver em (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-luta-pela-reindustrializacao