sexta-feira, 27 de novembro de 2015

FHC: o homem que consegue ficar pequeno até diante de Jader Barbalho


por Fernando Brito, desde:  www.tijolaco.com.br

Quando um homem passa a raciocinar com as rótulas, não é de esperar que ele entenda os pensamentos e posições alheias senão  sempre pelo dobrar os joelhos a que se acostumou.
É isso o que fica evidente na declaração feita na noite desta quinta-feira pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para ele,  os senadores “engoliram” a decisão do STF.
– A decisão tomada ontem, eu não quero discutir se é constitucional ou não, tinha que ser tomada. Já que os políticos não tomam, eles tomaram e o Senado engoliu a decisão dramática.
Para FHC, os senadores que votaram pela manutenção do dispositivo regimental que previa o voto secreto, nesta decisão, o fizeram porque “que defender: ‘olha, tem que ser secreto porque, se não for, eu caio’.”
Sirvo-me de um exemplo esclarecedor para revelar a pequenez moral de Fernando Henrique. Porque conseguir ser menor moralmente do que Jáder Barbalho é algo realmente digno de nota.
Barbalho defendeu de peito aberto a votação secreta, quando ninguém ainda o fizera. E, no voto aberto, apoiou a prisão de Delcídio.
Pior fizeram senadores que recorreram da decisão por voto secreto antes de que a maioria do Senado o praticasse, o que recusou fazer, por ampla maioria.
Foi esta a única confrontação de poderes que se ameaçou ter neste caso. Um decisão individual, monocrática, provisória, de um único Ministro do Supremo, o Dr. Luís Fachin, poderia ter confrontado não apenas a presidência do Senado mas uma eventual maioria que a apoiasse.
Realmente, é uma proeza de Fernando Henrique. Não apenas ser menor que Jader Barbalho , mas ser menor que Jader Barbalho e Renan Calheiros, juntos.
Para Fernando Henrique, os senadores “engoliram” o que mandou o STF.
Talvez, sim, aqueles com seus padrões morais de biruta de aeroporto, que se inclina para onde o vento sopra.
Como, talvez, tenham “engolido” a compra de votos para sua própria reeleição que, segundo ele, “não fomos nós que fizemos”, embora tenha sido ele o beneficiário.
É páreo duro com o “foi por razões humanitárias” com que Delcídio Amaral  procurou hoje, em seu depoimento, explicar o plano de fuga que queria traçar para Cerveró, mal sabendo que a gravação que dele fizeram é que era o verdadeiro “plano de fuga”, pela via da delação premiada.
Fernando Henrique tem esta ilusão de ótica que projeta em todos. É um homem que crê que, quanto mais alguém se ajoelha, mais cresce.
Vem daí o tamanho que tem na história brasileira, mesmo com toda a sustentação que a mídia lhe dá.
Não há palanque que transforme em gigante quem é um anão moral.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Mensagem ao amigo Francisco

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paris e nossas memórias


Este atentado de sexta-feira (13) diz muito do clima criado pela instabilidade na Síria e suas consequências. 
Os estados ocidentais vem insuflando a guerra na Síria já faz alguns anos e, com mais intensidade, nos últimos dois anos. Não sei dizer o que levou o EUA a armar esta gente, notoriamente fundamentalista, já financiada pela Arábia Saudita, berço dos wahabitas, que é um ramo próximo dos sunitas.

Agora vejam a situação: - O ocidente arma esta facção, ( assim como fez como as comandadas por Saddam Hussein, Bin Laden e muitos outros ); apoia militarmente e abertamente a Arábia Saudita; não tem um programa seguro para se contrapor a saída de jovens à engrossar as fileiras do ISIS; estimula os combates sangrentos em Alepo, Latakia, Damasco; repele milhares de refugiados; abastece e compra os combustíveis das refinarias tomadas pelo ISIS. Ou seja, cria todas as condições para manter esta barbárie, e ainda tem dificuldades de contê-los no território europeu.

Claramente não existe no zeitgeist, na consciência ocidental, oposição ao componente da violência, a motivação GUT para enfrentar a violência. Ou seja, a violência trafega e habita no inconsciente social  ( e no consciente também ) de forma sistemática. Financiamos fartamente a produção de filmes heroicos, mas violentos. Agora chegam a ser hemorrágicos. Fazemos dos espetáculos MMA uma banalidade. Um dia endeusam a bela Ronda Rousey, no outro parecem gostar de mostrar seu rosto deformado de tanta pancada.  

A própria França tem as suas histórias tenebrosas. Tive a oportunidade e a sorte de conhecer o genial maestro Jean D´Arco, um legítimo pied noirargelino, que adotou o Brasil como pátria, e ele contava suas aventuras na Legião Estrangeira e o como o poder colonial se impunha. Na base da brutalidade.

Ainda está na memória o tenebroso Maurice Papon que, mesmo após a execução sádica de mais de duzentos argelinos em 1961, ainda foi promovido. Lembro que ele serviu ao desdenhado Petain em Vichy, e mesmo após a guerra.


Que não mais se armem notórios sanguinários, como se fez com Bin Laden, Saddam Hussein, Ceausescu, Slobodan Milosevic e mais uma lista interminável de sádicos que em dado momento são de interesse do ocidente ( mesmo que depois venha executá-los ).

Realmente urge esta mudança; já não basta a imensa desigualdade social, a brutal concentração de renda, a notória demonstração de violência à nadar no caldo de cultura da miséria.

A nossa memória tem que falar, gritar as nossas mazelas. Paris também. 

Mate-se a cobra

É tarefa urgente, premente, ingente e agônica da sociedade brasileira,  lúcida, esmagar o ovo da serpente (do Roberto Amaral) antes que seu veneno, à escorrer pelo imperceptível do subconsciente, contamine por completo o corpo social, criando lentamente as bases para um Estado reacionário, conservador, autoritário, burro e, ninguém se engane, proto-fascista. 
Ele se manifesta sob as mais variadas formas, no Congresso e na vida social.
O antipetismo em nome de um moralismo de araque – esse que a imprensa destila – é apenas uma só de suas máscaras, como moralismo é apenas um disfarce. Já que tudo, fatos e criações, é parte de um instrumento, de uma tentativa, em marcha desde 2013, ou antes, de implantação, entre nós, de uma clima de violência que lembra (pelos efeitos psicossociais) o fascismo italiano e o nazismo alemão em suas infâncias, deteriorando a sociedade
Outrora  caminhavam pelas ruas, os "camicie nere", os grupos paramilitares quebrando lojas,  espancando homossexuais, prostitutas, negros,  ciganos e comunistas. Mas hoje, este mesmos, conspurcam velórios, jogam bombas e atacam o Instituto Lula. Outrora, nos anos da ascensão integralista brasileira, os camisas verdes das hordas de Plínio Salgado até tentaram assassinar Vargas em um putsch (qual o de Munich em 1924)  
Lembra Roberto Amaral : - " Nos idos brasileiros da repressão militar, grupos de aloprados depredaram no Rio de Janeiro o Teatro Opinião e em São Paulo invadiram o Teatro Ruth Escobar durante montagem de “Roda Viva”? Nos estertores do terrorismo praticaram atentados contra a OAB e a Câmara Municipal do Rio de Janeiro e tentaram o felizmente frustrado massacre do Riocentro. São sempre os mesmos, variam os países, variam as datas e os pretextos mas a ideologia do ódio e a covardia na ação são as mesmas."
Há pouco vimos, bando de sarados e bem nutridos, vestidos ou não com a camisa da seleção canarinha, tentam, em todo o país, mediante o amedrontamento físico, interditar, em um hospital, nas ruas, nos bares, nos aviões, nos aeroportos, a livre circulação de homens de bem. Guido Mantega, João Pedro Stédile e, de último, o ministro Patrus Ananias que o digam. No velório de Dutra, um vexame,  nem isso se pode dizer.
Eram muito poucos, é verdade, mas apenas um já seria vergonhoso e decadente.
Vamos adiante com Roberto Amaral : - "Tudo isso está na crônica jornalística. Mesmo em seus momentos mais acres de disputa política, a direita brasileira jamais havia ousado tanto e jamais nossas esquerdas haviam recuado tanto, e jamais os liberais foram tão omissos.
Os primeiros sinais foram dados na abertura dos Jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro (2007), e replicados em Brasília na abertura da Copa das Confederações em 2013. A esquerda não quis ver nem ouvir, fez-se de morta, como se as vaias e as agressões – primeiro a Lula, depois a Dilma – não lhes dissessem respeito e, assim, silente e inerte permaneceu sem qualquer tentativa de compreender as jornadas de 2013 – prenúncio as dificuldades de 2014, que assistiu atônita.
 não dá para esconder
Cunha, Aécio e Paulinho durante o 1º de maio da Força Sindical (foto: reprodução do YouTube)
O moralismo da elite financeira que sonega impostos e suborna funcionários públicossempre foi a chave para a conquista da classe média.Dele sempre se valeu a direita, no Brasil e em todo o mundo.
Assim foi entre nós nos idos de 1954 quando a classe média, majoritariamente, e setores liberais da sociedade, populares e mesmo o movimento estudantil, e mesmo setores da esquerda e comunistas sob a liderança de Pestes, abraçaram o cantochão da direita que a todos mobilizou no pedido de renúncia de Getúlio Vargas, quando o alvo, encoberto pela denúncia de um ‘mar de lama’ que jamais existiu, era a política nacionalista do ditador feito presidente democrata. A história não se repete, mas há pontos de contato entre dois momentos históricos tão distintos.
Getúlio também levara a cabo uma campanha presidencial levantando as teses progressistas do nacionalismo e do trabalhismo, mas, para executa-las, montara um ministério reacionário. Era a sua forma de compor com as elites, especialmente paulistas, que sempre lhe foram hostis. Era a velha ilusão da conciliação de classes, que conquistaria Lula tantos anos passados.
Não deu certo com Getúlio como não daria certo com Lula e não está dando certo com Dilma. Atacado pela direita, inconformada com a aliança do trabalhismo com o nacionalismo, viu-se Vargas em 1954 sem o apoio das massas trabalhistas. Essas só foram às ruas – e foram como turba, sem vanguarda – depois do suicídio. E, aí, nada mais havia a ser feito.
Naquela altura como hoje, e como nos preparativos de 1964, a imprensa brasileira, igualmente monolítica e igualmente de forma quase unânime, servia à saturnal dos ódios que envenenava a opinião publica e deixava aturdido o povo, mesmo os trabalhadores – então como agora desassistidos ideologicamente por seus partidos e organizações.
Uma vez mais o governo de centro-esquerda se vê no cume de uma campanha de descrédito presidida pela imprensa, uma vez mais a partir da cantilena moralista. Uma vez mais o governo de centro-esquerda se vê desprotegido no Congresso, onde dominam ora uma oposição ensandecida, ora uma base parlamentar movida a negócios e negociatas e negocinhos a cada votação.
Para não dizer que a história se repete, lembremos que os postos antes ocupados por Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro e outros de igual calibre é exercido hoje por Paulinho da Força, Jair Bolsonaro, Ronaldo Caiado e Eduardo Cunha – o que apenas diz que o aviltamento da linguagem e dos procedimentos alcançou o mais baixo nível da República.
Uma vez mais, agora como em 1954, as grandes massas não afluem em defesa de seu governo.
Uma vez mais a moralidade é um mero biombo dos grandes interesses em jogo.
Pois o que está em jogo não é a moralização dos costumes – e quem é contra? – nem é só a tentativa de assalto ao mandato legítimo da presidente Dilma. Não é só a destruição do PT e dos demais partidos de esquerda, inclusive daqueles que ainda hoje pensam que passarão incólumes. Não é apenas a destruição de Lula, ainda a maior liderança popular deste país depois de Vargas.
O que está em jogo são os interesses dos trabalhadores, da economia e da soberania nacionais, de defesa ainda mais difícil após eventual derrocada do atual governo. Adiada – até quando ? – a hipótese do impeachment clássico, a oposição põe em prática um novo projeto de golpe, contra o qual nem a base parlamentar do governo – heterogênea e frágil –, nem muito menos sua articulação política parecem preparadas para enfrentar.
Trata-se da tática de impedir o governo de governar, e contra essa artimanha nem mesmo as últimas negociações ministeriais – penosas, rasteiras, pedestres e nada republicanas – se mostraram eficientes. E enquanto o governo não governa e se desgasta perante a opinião pública, a direita governa, desfazendo, no Congresso ordinário, as grandes conquistas da Constituição de 1988.
A direita, sob a batuta de Eduardo Cunha, faz sua parte, e dessa desconstituição conservadora fazem parte o fim do desarmamento, o fim da demarcação das terras indígenas (fim dos índios?), o fim dos direitos sexuais das mulheres, e a quase legalização do estupro, o fim da pós-graduação pública gratuita.
Este é o golpe.
A destruição do governo Dilma levará de roldão a política de prioridade nas compras estatais aos produtos e bens nacionais, levando consigo, de saída, a indústria naval brasileira. Levará de roldão os projetos sociais, como o Minha casa, Minha vida; o Luz para Todos; como o Bolsa Família. Mudará a política de reajuste do salário-mínimo e, fundamentalmente, a política de transferência de renda.
Será a renúncia ao pré-sal (já caminha o projeto José Serra), será o fim de uma política externa autônoma, com a aliança subserviente e submissa aos interesses dos EUA, será o fim do Mercosul e a retomada da Alca, nossa recolonização, será um torpedo contra os BRICS e uma ameaça às experiências de governos independentes na América do Sul. 
Por isso, certa está a Frente Brasil Popular por entender que os erros da atual política econômica – agravados pela crise ética que assolou os governos do PT – não podem servir de argumento para a omissão na defesa do mandato da presidente Dilma, ou, dito por outras palavras, nem a defesa do mandato inviabiliza a crítica à política econômica, nem a crítica à politica econômica inviabiliza a defesa do mandato.
Ao contrário, a defesa do mandato deve ser feita de par com o combate à política recessiva e esse combate deve ter em vista a reaglutinação das forças progressistas de esquerda, com objetivo claro, deter a reação. Para isso é preciso construir uma nova correlação de forças."

Roberto Amaral é preciso e cirúrgico em sua análise. Eu seria mais curto e grosso; - Ou somos um bando de frouxos e covardes ou temos de defender as conquistas, legado para nosso filhos.