terça-feira, 24 de novembro de 2015

Paris e nossas memórias


Este atentado de sexta-feira (13) diz muito do clima criado pela instabilidade na Síria e suas consequências. 
Os estados ocidentais vem insuflando a guerra na Síria já faz alguns anos e, com mais intensidade, nos últimos dois anos. Não sei dizer o que levou o EUA a armar esta gente, notoriamente fundamentalista, já financiada pela Arábia Saudita, berço dos wahabitas, que é um ramo próximo dos sunitas.

Agora vejam a situação: - O ocidente arma esta facção, ( assim como fez como as comandadas por Saddam Hussein, Bin Laden e muitos outros ); apoia militarmente e abertamente a Arábia Saudita; não tem um programa seguro para se contrapor a saída de jovens à engrossar as fileiras do ISIS; estimula os combates sangrentos em Alepo, Latakia, Damasco; repele milhares de refugiados; abastece e compra os combustíveis das refinarias tomadas pelo ISIS. Ou seja, cria todas as condições para manter esta barbárie, e ainda tem dificuldades de contê-los no território europeu.

Claramente não existe no zeitgeist, na consciência ocidental, oposição ao componente da violência, a motivação GUT para enfrentar a violência. Ou seja, a violência trafega e habita no inconsciente social  ( e no consciente também ) de forma sistemática. Financiamos fartamente a produção de filmes heroicos, mas violentos. Agora chegam a ser hemorrágicos. Fazemos dos espetáculos MMA uma banalidade. Um dia endeusam a bela Ronda Rousey, no outro parecem gostar de mostrar seu rosto deformado de tanta pancada.  

A própria França tem as suas histórias tenebrosas. Tive a oportunidade e a sorte de conhecer o genial maestro Jean D´Arco, um legítimo pied noirargelino, que adotou o Brasil como pátria, e ele contava suas aventuras na Legião Estrangeira e o como o poder colonial se impunha. Na base da brutalidade.

Ainda está na memória o tenebroso Maurice Papon que, mesmo após a execução sádica de mais de duzentos argelinos em 1961, ainda foi promovido. Lembro que ele serviu ao desdenhado Petain em Vichy, e mesmo após a guerra.


Que não mais se armem notórios sanguinários, como se fez com Bin Laden, Saddam Hussein, Ceausescu, Slobodan Milosevic e mais uma lista interminável de sádicos que em dado momento são de interesse do ocidente ( mesmo que depois venha executá-los ).

Realmente urge esta mudança; já não basta a imensa desigualdade social, a brutal concentração de renda, a notória demonstração de violência à nadar no caldo de cultura da miséria.

A nossa memória tem que falar, gritar as nossas mazelas. Paris também. 

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