quarta-feira, 25 de julho de 2012

Produzir com qualidade

      Vemos que positivo tenha sido o resultado econômico dos governos Lula,  pode se dizer que foi uma resultante ortodoxa.  Pois ao ter democratizado o crédito interno, ter investido nas politicas sociais, no aumento do crédito, no salário mínimo, aumentando os beneficios previdenciários, construiu-se  então um mercado interno de massas, antes praticamente falido.  São receitas já provadas, pode se dizer ortodoxas. Foi o que alavancou a economia com melhoria, ainda insatisfatória, da distribuição de renda e o aumento do emprego formal. 
      Mas precisamos ainda inovar, no tratamento do deficit primário e, principalmente  na sua aplicação. Precisamos rever investimentos, melhorar a industria sim , pois a realidade mudou; agora dramatizada pela situação econômica européia. Precisamos rever  muitas coisas sem mitificações. Inovar tem sido a palavra de ordem, mas não tem sido a resultante final. A resultante útil desejada é aplicar maciçamente esta montanha de dinheiro chamada de superavit primário, sem esquecer que este serve também ao pagamento de juros da dívida pública atrelada a esta coisa esquisita chamada "selic" que nos escraviza a avareza e ao capital especulativo. 
      Realmente a campanha inciada pelo inesquecível Zé Alencar terá de dar resultado, pois ainda vivemos tempos de taxas de juros imorais e  nada mais justifica tais valores de juro e de cotação da moeda. Não precisamos fazer esforço para provar este raciocínio; a Europa já o faz. 
      Tais medidas de redução já são sobejamente conhecidas e defendidas por toda a sociedade brasileira lúcida. Há aqueles que vivem de juros, mas esses sabemos o fim que deverão ter: viver à sua própria sorte.
      Temos que investir na nossa Educação, na nossa Saúde, na nossa Infra-estrutura, nas nossas Empresas e na nossa Cultura ao criar uma rede de comunicação social mais limpa e mais funcional, para libertar nossa população da escravidão midiática à lhes impor péssima qualidade de conteúdo.          O nosso "Made in Brazil" também tem que ter qualidade. Não podemos aceitar que nosso produto seja inferior. Nossa soberania e independência dependem de nosso trabalho e também de nossa qualidade, caso contrário teremos é "Independência ou Sorte".

domingo, 22 de julho de 2012

Poderia ser continuação do artigo anterior !



Elites do Brasil enriqueceram com paraísos fiscais, diz relatório

22/7/2012 16:41,  Por Redação, com ABr - de Brasília
Um estudo inédito, que, pela primeira vez, chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore sobre as quais as autoridades tributárias dospaíses não têm como cobrar impostos, mostra que os super-ricos brasileiros somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) emparaísos fiscais. Trata-se da quarta maior quantia do mundo depositada nesta modalidade de conta bancária.
Paraíso fiscal
O estudo mostra que ricos brasileiros chegaram a ganhar até US$ 520 bilhões em paraísos fiscais
O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor.
O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais. Henry estima que, desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões para US$ 9,3 trilhões a “riqueza offshore não registrada” para fins de tributação.
A riqueza privada offshore representa “um enorme buraco negro na economia mundial”, disse o autor do estudo. Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países como o México, a Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais.
John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou ao jornal da BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, para enviarem seus recursos ao exterior. “Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros”, afirma.
Segundo o diretor da Tax Justice Network, além dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais (mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos fiscais. “As elites fazem muito barulho sobre os impostos cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos”, observa Christensen. “No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de impostos, só posso crer que estejam blefando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo”.
Chistensen diz ainda que no caso do México, da Venezuela e Argentina, tratados bilaterais como o Nafta (tratado de livre comércio EUA-México) e a ação dos bancos americanos fizeram os valores escondidos no exterior subirem vertiginosamente desde os anos 70, embora “este seja um fenômeno de mais de meio século”. O diretor da Tax Justice Network destaca que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.

Outros virão

     Tenho muito falado e trazido textos sobre industrialização, e sobre desendustrialização também,  mas é preciso sobretudo fazermos algumas reflexões acerca da nossa própria vontade e capacidade de nos tornarmos industrializados; aqui utilizando o termo na sua plenitude; ou seja, pesquisando, projetando e fabricando. 
     Mas para conseguir cumprir o ciclo completo será necessário que nós como profissionais e empresários, mais do que governos, sejamos capazes de construir nossas empresas baseadas nos princípios da democracia e respeitando também nossa cultura. Em artigo anterior "Por que o Brasil se atrasa" de  Adriano Benayon, transcrito  do www.algoadizer.com.br, pode-se observar que a própria política de industrialização  está eivada de erros. Já é mais do que sabido que as "cabeças pensantes" da tecnocracia dos quadros do governo também foram formadas nos mesmos centros de formação dos tecnocratas neoliberais dos quadros das transnacionais. Como disse uma vez a Profa. Maria da Conceição Tavares, "esta rapaziada pode ter o coração na esquerda, mas a cabeça ainda pensa com a direita". E isso também é verdade para o empresariado que está aculturado no processo de geração de riqueza de antanho, quando os filhotes iam gastar o resultado do trabalho alheio nas praias de Biarritz, San Sebastian, Côte D´Azur e mais tarde iam esquiar em Chamonix; alguns iam para Aspen CO, e os mais simplesinhos iam para Bariloche ali pertinho.
   Quando a insigne professora falou da bipolaridade coração e cabeça, conseguiu uma síntese quase perfeita do conflito, se existe, que ainda habita a cabeça de empresários e mesmo dos tecnocratas; afinal ambos disputam os mesmos postos na classe média e foram formadas nos mesmos centros acadêmicos. Não importando aí qual a gradação desta média, se alta ou baixa. Importa sim, a competência e o compromisso de quem dirige os destinos da organização, ou privada ou governamental.
     O que temos visto é um descolamento da realidade brasileira, por parte daqueles desta classe que não firmaram um compromisso com o futuro. Quando falo futuro obviamente estou falando dos nossos filhos; e nossos aqui significa todos. 
     A industrialização é apenas fruto da capacidade de trabalho e superação, como foi provado na maior e mais poderosa nação do mundo, independentemente dos meios de exploração interna e externa que utilizaram, e ainda utilizam. Mas foi o resultado do insofismável sacrifício de seu povo
     O nosso povo também tem mostrado esta capacidade, mas as nossas próprias elites não. Mas já começamos com o Irineu Evangelista de Souza que trouxe a energia e a necessidade de sobreviver lá dos pampas. Igual ao Barão, tenho certeza que outros virão.

Transcrição do ALGO A DIZER


A transcrição aqui serve como concordância mas, sobretudo, como alerta.


Por que o Brasil se atrasa

Por Adriano Benayon

A desindustrialização do Brasil não tem sido explicada adequadamente, sequer pelos economistas menos vinculados à ideologia das corporações transnacionais.
2. Em entrevista à BBC (13/7/2012), Gabriel Palma, professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra, lembrou que, em 1980, a produção industrial no Brasil superava a do conjunto formado por China, Índia, Coreia do Sul, Malásia e Tailândia e que, em 2010, já não  representava senão 10% do total produzido nesses países.
3. O economista Leonardo Guimarães Neto, publicou artigo no portal do Centro Celso Furtado, Ano 6 - Edição 8,  Recife, 13.04.2012, intitulado “A retomada da indústria brasileira: o recado de Antônio Barros de Castro”.
4. Nele aprecia o pacote de estímulos, de R$ 60 bilhões, à indústria brasileira (sic), incluindo: desoneração fiscal, ampliação e barateamento do crédito; redução de até 30% do imposto sobre produtos industrializados para o setor automobilístico; redirecionamento de compras governamentais para bens produzidos internamente; redução de impostos  na tecnologia da informação.
5. Deixa de denunciar mais esse absurdo presente à predadora indústria automobilística estrangeira, que não cessa de descapitalizar o País, enviando ao exterior os ganhos oligopolistas arrancados dos consumidores nacionais.
6. Omite também que, sob a presente estrutura industrial, dominada pelas transnacionais, os investimentos e subsídios aos centros de pesquisa tecnológica significam desperdício de recursos públicos, porquanto, não havendo empresas nacionais viáveis no mercado, só ínfima fração do resultado das pesquisas resultará em inovação tecnológica.
7. Observa Guimarães, que, embora bem recebido, o pacote  foi considerado insuficiente por sindicatos patronais e de trabalhadores. Esses reclamam: (i) desvalorização cambial, (ii) redução dos juros e dos spreads bancários e (iii) redução do preço de insumos fundamentais para a atividade industrial, como a energia elétrica.
8. Segundo Guimarães, a perda de competitividade da indústria nacional [sic] não se deve só  ao custo Brasil: enorme carga tributária; juros e spreads bancários altos; elevados preços da energia elétrica; enormes déficits de infra-estrutura de transporte e logística.
9. A perda estaria associada à reduzida capacidade de inovação da grande maioria dos segmentos produtivos da indústria nacional (sic), em contexto de acelerado avanço tecnológico nos países competidores, tais como a China.
10. Precisamos, porém, ir mais fundo. Entender por que essa capacidade é reduzida. Daí, inseri três vezes o advérbio latino “sic”, após “indústria brasileira ou nacional, porque a questão básica, intocada nas discussões correntes, é a desnacionalização, o fato de a produção realizada no Brasil não ser nacional, mas subordinada às matrizes das transnacionais estrangeiras que a controlam.
11. É ridículo falar em inovação tecnológica com a indústria desnacionalizada e com os seus centros das decisões sobre produção e mercados, situados no exterior.
12. Se não há inovação tecnológica no Brasil é porque as transnacionais se apropriaram de tecnologias no exterior, amortizaram-nas com as vendas em outros mercados e as utilizam aqui a custo real zero, tal como acontece com as máquinas e equipamentos importados a preços superfaturados.
13. Por que, então, tais indústrias não são competitivas, se seus custos reais de produção são extremamente baixos, ademais de as transnacionais receberem colossais subsídios prodigalizados pelos governos federal, estaduais e municipais?
14. Porque o valor contábil das despesas das subsidiárias no Brasil é levado às alturas, através dos preços que estas pagam às matrizes nas importações dos bens de produção (inclusive o da tecnologia, jamais transferida): os bens de capital e os insumos, tudo é superfaturado, além de serviços sobrefaturados e até fictícios.
15. Em suma, as políticas de favorecimento às transnacionais, inauguradas em 1954, e intensificadas desde então, fazem que os brasileiros paguem para se tornarem pobres. Os fabulosos lucros reais obtidos pelas transnacionais são transferidos ao exterior, não apenas como tal, mas também através desses superfaturamentos e do subfaturamento de exportações.
16. Estando a economia concentrada por empresas transnacionais e bancos, na maioria desnacionalizados, e os “nacionais” associados aos estrangeiros e com eles ideologicamente alinhados, é esse sistema imperial que elege os “governantes” nos poderes do Estado brasileiro, pois as eleições dependem dos dinheiros para as campanhas e do acesso às redes de TV comerciais, vinculadas aos mesmos interesses.
17. Em tais condições, tornam-se inócuos os votos piedosos dos economistas, quando recomendam reformular a infra-estrutura de transportes e logística, baixar os juros até o patamar internacional (o que viabilizaria reduzir a carga tributária), desvalorizar a taxa cambial etc.
18. Mantendo-se a atual estrutura de poder, essas medidas seriam irrealizáveis, além de que, para funcionarem, acarretariam a necessidade do controle de capitais e da estatização dos principais bancos, ou seja, políticas ainda menos toleráveis para os aproveitadores dessa estrutura.
19. Assim, o governo que empreendesse tais políticas, seria desestabilizado e derrubado antes de promover a indispensável passagem do controle da indústria para capitais nacionais, privados e públicos.
20. Se a indústria não for realmente nacional, jamais terá chance de ser competitiva. O mesmo se aplica à infra-estrutura econômica (energia, transportes e comunicações) e à social (saúde, educação e cultura).  Há que desmercadorizar os serviços públicos e eliminar as agências “reguladoras”, devolvendo o poder delas ao Estado.
21. Também importante para o Estado  recuperar funções perdidas com o modelo do “consenso de Washington” é a total reformulação da administração pública, generalizando-se os concursos públicos, a formação de técnicos e administradores, e instituindo a aferição de desempenho, com possibilidade de demissão, seleção de quadros desde a escola primária etc.
22. Voltando a Guimarães: “Segundo Antônio Barros de Castro ...não se trata hoje de superar um hiato em relação a concorrentes que evoluíam lentamente em termos tecnológicos e de produtividade. Para ele, esta premissa não existe mais, e os concorrentes do Brasil, notadamente a China, ‘ainda estão alcançando novos patamares de produtividade e aumentando o esforço tecnológico para acelerar sua eficiência.’  A China teria superado a fase de "made in China" para outra de "created in China".
23. Ora, como assinalei no artigo “Tecnologia, desenvolvimento e ilusões”, publicado em maio, é incrível que até os  economistas que não se restringem a discutir política macroeconômica, conclamem para a necessidade de inovação tecnológica sem reconhecerem a impossibilidade dela num país cujos mercados estão sob controle praticamente total de empresas transnacionais. 
24. Em artigo próximo tentarei resumir a avassaladora ocupação da economia brasileira, a qual prossegue em tal velocidade, que a empresa nacional é, cada vez mais, espécie em extinção.
25. De novo, Guimarães: “Castro acredita que o Brasil, de início, deve ganhar tempo até induzir as grandes transformações, garantindo superávits no balanço de pagamento por 10 ou 15 anos com petróleo e matérias primas agrícolas, além da expansão do mercado interno ‘colocando areia para limitar a ocupação do mercado interno por importações ...’.”
26. Isso seria, na realidade, perder tempo. E o Brasil já se atrasou demasiado nos últimos 58 anos! Proteção para a indústria, na atual estrutura, só favorece as transnacionais e eleva os incalculáveis prejuízos que vêm causando ao País.
27. De resto, enquanto se dilapidam os recursos naturais através das exportações primárias, as receitas são usadas para pagar por serviços superfaturados e fictícios às matrizes das transnacionais, e para importar bens de alto valor agregado e insumos grandemente superfaturados. Nem se fica sabendo o que valem as matérias-primas exportadas, nem o balanço de pagamentos se equilibra sem endividamento.
28. Isso implica fomentar a estrutura econômica atrasada, como a da Venezuela, por mais de um século, antes de Chávez: exportar quantidades fabulosas de petróleo e ficar com a estrutura econômica mais primitiva da América do Sul, para gáudio do império anglo-americano.
29. Com governos acomodados às imposições do império, até por carecerem de consciência nacional, as transnacionais estão ocupando até os espaços recomendados por Barros de Castro e seguidores, como a agroindústria do etanol e a química baseada na  energia vegetal. Note-se que nem falam dos óleos vegetais, como o dendê, capaz de produzir mais óleo — melhor que o de petróleo — do que a Arábia Saudita.

Adriano Benayon é doutor em economia e autor de "Globalização versus Desenvolvimento" (Escrituras). Contato: abenayon@brturbo.com.br

Da greve dos universitários até Freire

Resgatei este artigo do blog anterior (www. jcarlosoliv.blogspot.com), pois gostaria que a reflexão sobre o atual momento da greve dos professores tivesse este contributo, para dar valor aos valores reclamados.

 Era março de 2010

Abaixo a Pedagogia, (uma mensagem aos pedagogos)

De eleições já falamos, cabe agora seguir com a educação e a segurança como tema; daí ter retirado este texto de algum escrito que já me parece antigo, mas que serve para inaugurarmos uma nova fase "Segurança e Educação", pois estas são produtos mútuos de civiliuzação. Espero que apreciem.
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O título aqui não se trata de uma manifestação revolucionária, jamais pude vê-lo em alguma passeata; seja em 1968 ou agora, seja em Paris ou Rio de Janeiro, ou São Paulo, ou Tókio. Mas não posso dizer que não se trata de um pensamento revolucionário, é sim. Mas de uma revolução que já vem se construindo em cima da antiga forma de ver a sociedade educadora, onde ministrar conhecimento, passava por transferir informação, ou dados e, dependendo da competência ou do bom humor do professor ou da professora, estimular a pensar, liberar as competências naturais sedimentadas por milhares de gerações, ainda que não tão letradas, mas que sofreram, erraram e aprenderam a sobreviver e a evoluir, e ainda instigar a curiosidade. Tal revolução vem ocorrendo desde o teclado do computador até o acesso a rede internet, onde muito se vê, muito se ouve, muito se comunica e muito se informa. Tudo em uma velocidade impossível de ser emulada pelo ensinante, esteja este em uma rica instituição de ensino das grandes capitais ou em uma remota escola rural, ou até em uma estação de trabalho coletiva na praça do vilarejo. A inclusão digital vem crescendo quase que de forma independente até da vontade daqueles que tem como missão instituí-la e mais ainda das pessoas ensinantes. Tudo isto por um único fato, é que na rede probabilística virtual, na web, o aprendizado se faz pela imitação das conexões neurais. Ela, a rede internet, imita as conexões neurais construídas por processos probabilísticos, fazendo então com que a construção do conhecimento, através da busca da informação, “googles” e outras formas, se faça por processos mais próximos ao do aprendente e plasticamente mais adequados, com isso de forma mais rápida e seletiva, sem ter que passar pela estranha epistemologia criada pelo ensinante. O que muito freqüentemente se faz de forma dolorosa, porque punitiva: aprendeu, muito bem, não aprendeu, zero. É preto ou branco. Sem espaços para novas tentativas, áreas cinzas, novas estratégias, novas abordagens. Afinal, como adequar um único processo ensinante para trinta (às vezes mais) diferentes seres humanos aprendentes fechados dentro de uma sala?
Gostaria até de repetir Dimantas[1], “não sou pedagogo”, mas aprendi com eles, o que fazer. Nem posso dizer que o que não aprendi foi por culpa deles, se não pela minha própria malandragem, diria Bezerra da Silva. Mas muito do que não consegui aprender pela forma tradicional, com ou sem esforço do ensinante e do aprendente, eu mesmo, consegui fazê-lo de forma rápida, talvez nem tanto consistente, através do que garimpei na internet nos sítios de livre busca e informação. Poderia citar um sem número de conceitos matemáticos, sociológicos, históricos que consegui capturar baseado apenas na curiosidade estimulada e favorecida pela enorme oferta de informação; comportamento muito semelhante aquele da fome diante de uma mesa farta e variada; a exposição tentadora do conhecimento, fácil de ser construído pela informação abundante e diferenciada, e em boa parte das vezes até inalcançável dado a imensidão das potenciais respostas, mas lá presente. A mente sabedora desta disponibilidade constrói então, por métodos naturais registrados em estratos vagais, uma forma heurística de busca, até satisfazer seu apetite, tal como faria o predador na busca pela sua presa. Aliás, como já o fizemos com sucesso há milhares e milhares de anos atrás; sendo bem sucedidos então, memorizamos a estratégia de busca que acabou se explicitando nos famosos e eficazes algoritmos dos “googles” e semelhantes. Entretanto ocorre que o aprendizado via máquina de busca, depende apenas da intencionalidade do aprendente. A máquina não faz o mínimo esforço em favor da intencionalidade, tampouco tem um compromisso explícito para este fim, apesar de implicitamente os criadores da tecnologia tivessem a intenção e motivação para fazê-lo. Aí então aparece a questão fundamental que deverá ser respondida pelos pedagogos: - será possível construir uma pedagogia distante da tecnologia? Esta questão está sendo colocada não como uma libelo acusatório. A pedagogia como saber estruturado não é passível de acusação ou de elogio, a pedagogia a que me refiro é aquela assumida pelos seus profissionais. Estes sim, terão de assumir cada vez mais a sua condição de ensinante intencional e não um veículo de informação para o aprendente. Cada vez mais esta posição de repassador de informação será assumida pelos sistemas eletrônicos. Seu engajamento na intencionalidade do aprendente terá de ser inteligente, técnica e ainda emocional, pois sem emoção perde para a máquina, como já tinha se observado desde a difusão da televisão. Certa época dava aula noturna em uma faculdade de administração e tive que sofrer a competição desigual com as moças maravilhosas da novela Roque Santeiro. Tive de me passar por Sinhozinho Malta para me engajar no emocional e percebi então que a competição tramava a meu favor; a acumulação de bens, o controle de inventário, a política de pessoal, o planejamento financeiro passavam então a ser os elementos que colocavam o personagem da novela como estímulo a resposta aprendente, pois a punição da nota pouco ou nada podia fazer contra os encantos das personagens e a imensa qualidade artística do elenco. O que estava escrito no Manual do Professor pouca valia tinha para garantir a intencionalidade do aprendente. Estabelecia-se ali, muito antes do advento da internet, uma complexa construção de uma pedagogia inclusiva, onde, não apenas a tecnologia, mas a arte, arquitetavam, em conluio, uma estratégia para vencer. Vencer o descaso, vencer o cansaço da aula noturna, vencer a distância que havia entre o “mundo acadêmico”, o mundo da nota, e o “mundo real”, o mundo de notas. Hoje esta experiência me serviu como base para alcançar a visão da complementaridade entre a “internet” e a “aula”, a complementaridade entre a pedagogia do “ensinante” e a pedagogia do “aprendente”, não mais restrita aos atores que se opõe; de um lado o que interpreta a teoria, e de outro, os que interpretam a realidade da prática. Aliás o fantástico Paulo Freire, mais do que pedagogo, visionário, assim via com décadas de antecedência[2]. Tivesse vivo, tenho certeza, já teria criado um jeito de enquadrar a internet em seus princípios pedagógicos: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural[3].
a. Colaboração - a ação dialógica só se dá coletivamente, entre sujeitos, "ainda que tenham níveis distintos de função, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação" (p.197);
b. União - a classe popular tem de estar unida e não dividida, pois significa "a união solidária entre si, implica esta união, indiscutivelmente, numa consciência de classe" (p.205);
c. Organização - "[...] é o momento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com a transformação da realidade que os mediatiza" (p.211);
d. Síntese cultural - consiste "na ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante". "[...] faz da realidade objeto de sua análise crítica" (p.p.214 -215).
(os grifos são meus)
Estes quatro elementos (colaboração, união, organização e síntese cultural) poderiam perfeitamente se servir da internet pois os atributos “comunicação”, “união solidária”, “realidade mediatizante” e “análise crítica” estão presentes na construção desta rede. Logo o pedagogo da atualidade terá a seu favor, não somente a receita de Paulo Freire mas também os recursos para aviá-la na intenção de curar este mal da educação que assola o país. Assim como não é a medicina que cura o doente mas sim o médico, não será a pedagogia que irá curar este mal, mas o pedagogo. Cabe a este se imbuir da missão, da intenção e da técnica, pois sem ela haverá apenas boas e desastrosas intenções; nem dá para transferir para a pedagogia as virtudes ou as falhas do aprendizado; inexoravelmente estará, sentado diante do teclado do computador, ligado na internet, e mesmo na sala de aula praticando os ideais do Mestre Freire:
o O amor ao mundo e aos homens como um ato de criação e recriação;
o A humildade, como qualidade compatível com o diálogo;
o A fé, como algo que se deve instaurar antes mesmo que o diálogo aconteça, pois o homem precisa ter fé no próprio homem. Não se trata aqui de um sentimento que fica no plano divinal, mas de um fundamento que creia no poder de criar e recriar, fazer e refazer, através da ação e reflexão;
o A esperança, que se caracteriza pela espera de algo que se luta;
o A confiança, como conseqüência óbvia do que se acredita enquanto se luta;
o A criticidade, que percebe a realidade como conflituosa, e inserida num contexto histórico que é dinâmico.
Estes ideais, não importa a natureza dos conflitos da sociedade, não importa quão avançada a tecnologia esteja, tão veloz a internet trafegue pelo mundo, tão eficaz sejam as máquinas de busca, serão eternos como o homem. A pedagogia terá de abraçá-los. Portanto posso dizer: Abaixo a pedagogia, viva o pedagogo.


[1] Hernani Dimantas é coordenador do Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro - USP. Articulador do MetaReciclagem e editor do comunix. – ver Le Monde Diplomatique ( http://diplo.uol.com.br/ )
[2] De teoria, na verdade, precisamos nós. De teoria que implica uma inserção na realidade, num contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente, praticamente. Neste sentido é que teorizar é contemplar. Não no sentido distorcido que lhe damos, de oposição à realidade [...] (Freire, 1979, p.93) .
[3] Freire, Paulo. Educação como prática da liberdade (1979), Paz e Terra. Rio de Janeiro
_______. Pedagogia do Oprimido. (1983). Paz e Terra. ( Coleção O Mundo, Hoje,v.21).