quarta-feira, 17 de julho de 2013

Esperteza e sobrevivência

    Sou obrigado a fazer algumas reflexões acerca do dia 11 de julho, quando os sindicatos se uniram para fazer frente ( ou mesmo aproveitar a oportunidade ) aos movimentos que se diziam apolíticos. A reflexão advém da observação sobre a idade média dos participantes sindicalistas; era alta mesmo. E como se explica isto? Posso dizer que lamentavelmente pelo longo período de desindustrialização, propiciado por governos de inclinação neo-liberal. O fenômeno que vivemos, viveram também os estados europeus e os EUA; agora correm atrás do prejuízo e tentam retornar as fábricas que se bandearam para China, atrás de mão-de-obra barata, negligenciando o seu mercado interno. Já satisfeitos e abarrotados de quinquilharias, dizem alguns. Pois bem, os mercados continuaram consumindo quinquilharias, só que agora produzidas na China. Por que? Porque o consumismo desenfreado já tinha se instalado no tecido social e estabelecido a metástase do mal através dos veículos publicitários também contaminados. De nada adiantou transferir industrias, senão à curto prazo. Houvesse uma estrutura produtiva forte com a indústria bem estruturada, não haveria "sub-prime" que abalasse a vida das nações, hoje em meio à uma crise pior que a de 29.

    Estas reflexões também faço agora, diante da cena de jovens violentos que, com certeza, não tinham esperanças, como tiveram aqueles operários que chegaram a desfrutar de um mercado de trabalho na indústria que foi destruída pelo neo-liberalismo. E que tanto nos custa agora reconstruir.
    Tivesse o presidente entreguista FHC conseguido vender a Petrobrás, ( o que realmente tentou, mas recuou devido a reação de várias forças sociais, inclusive os militares ), hoje estaríamos sem protesto, sem esperança e sem solução. 

    Como a minha idade é próxima, se não superior a média dos sindicalistas da passeata, testemunhei o fechamento de várias empresas onde trabalhei. Posso testemunhar na minha área, nos anos 70, a construção e projeto de equipamentos de computação e na área eletrônica em geral. A indústria naval, nem se fale. A Embraer também, e só foi reerguida pela vontade política.  
    Tivéssemos os jovens bem preparados para enfrentar o desafio de uma industria de ponta, não estaríamos vivendo aqueles momentos de virulenta manipulação. Em 68, quando Cohn-Bendict liderava passeatas e enfrentava a polícia no Quatier Latin, e ainda não pensava nos verdes ( Die Grünen ) chatos e improdutivos de hoje, também reclamava. Como reclamou Servan-Schreiber da desindustrialização da França; e mais, do baixo investimento em educação.
   A semelhança com os dias de hoje seria mera coincidência? Não. Tal semelhança anuncia a oportunidade de correção de rumo, no sentido de reafirmar o compromisso com o trabalho, a reafirmar a oportunidade de atendimento aos pleitos dos trabalhadores. Oportunidade que, sinergicamente, é a mesma para as indústrias; cujos donos aprenderam que na mesa de negociação com os sindicalistas, do outro lado, sentava-se o maior guardião de seus interesses, um metalúrgico.
     Não fora ele, o neo-liberalismo já teria devorado seus ativos, destruído seu patrimônio e estariam vertendo as mesmas lágrimas que gregos, espanhóis, irlandeses, portugueses, italianos, e até ingleses e franceses. 
    As passeatas não vão decapitar definitivamente o monstro neo-liberal, que vive rondando nas cabeças  vazias, mas irão criar a oportunidade de por em evidência os acertos, erros e as necessidades reais de produção e da industrialização do país.
    Se algum tolo imaginou a desestabilização oportunística, é melhor ir buscar outra forma; para isso já tem a mídia comprometida até os ossos.
   Como diz o meu povão aqui da Central do Brasil: "Vamo acabar com essa frescura e arranjar serviço". É com eles que estou tentando me graduar, ou pós-graduar, em esperteza e sobrevivência. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lição de Nuremberg

    Tive a oportunidade de participar da passeata promovida pelos Sindicatos em 11 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro. A passeata não pode chegar ao fim programado mas alcançou o seu fim, que foi colocar 20.000 pessoas na rua. No meio desta multidão estão aposentados, velhinhos que mostravam uma juventude ímpar, pois saíram às ruas como se fossem jovens. Havia jovens maduros, como se fossem os experientes de passeatas de 68, de 84 e de muitas outras. 
    Mas a passeata não pode chegar até o final da monumental Avenida Rio Branco; não pode chegar a Cinelândia, local histórico de manifestações emoldurada pelo magnífico Theatro Municipal, pela Biblioteca Nacional, pela Câmara dos Vereadores. Foi antes emboscada e atacada pela turba de neofascistas, comandados por quem ainda não sabemos. Haveremos de saber sim. É uma questão de tempo. Mas que foram comandados foram; pois vi perfeitamente o ponto eletrônico que um dos neonazistas encapuzados utilizava. Vi o ponto de encontro previamente marcado, pois para lá fui testemunhar, acompanhando os encapuzados e mascarados que não foram nem um pouco incomodados ao passarem acelerados pela passeata. 
    Valorizo esta oportunidade do irrefutável testemunho e, à partir deste, reflito sobre o que se passou para chegarmos à este ponto tão decadente. Se era indignação, não justificava a agressão à um homem caído no chão e atacado covardemente por vários, à ponto de receber dez pontos na cabeça; não importa se era um policial ou qualquer outro ser humano. Se era protesto, menos ainda justificava tal comportamento. Mas o meu testemunho revela uma inexorável explosão de ódio e intolerância. Não para com o Governo, seja o Estadual, seja o Federal ou o Municipal, pois ódio se expressa contra pessoas, não contra coisas. E é aí que podemos estender nossa reflexão. O ódio que ali via era aquele mesmo que motivava torturadores no passado. Era o mesmo destilado nas mentes fracas e preconceituosas que "gerenciavam" o DOI/CODI e os campos de concentração; mentes que mais tarde se justificaram no cumprimento do dever e no combate à inimigos.
    Este mesmo ódio é que se voltou contra homens e mulheres idosos que também protestavam. Mas protestavam cívica e politicamente de forma honrada. 
    Afinal, quem destilou tanto ódio na mente de jovens que poderiam estar ombreados com aqueles que reclamavam um futuro melhor para estes jovens mesmos? A rede social? A rede social não fala por si própria. Os colegas emaranhados nestas redes? Nem sabiam se eram "fakes". A resposta está na arte de Regina  Riefenstahl, na eficácia de Goebbels, e na eficiência de Brilhante Ulstra.  Todos trabalhavam na arte de condicionar mentes; inclusive as das suas vítimas.
    Mas uma coisa a história nos ensinou: a inexorável degradação dos seres e organizações fragilizados pelo ódio. Aqui no Brasil a finda UDN, semeou o ódio, instada por interesses externos que permanecem até hoje. Aqui no Brasil as Forças Armadas serviram aos interesses econômicos manipulados por civis; tiveram um triste ocaso à época de Collor e FHC. Custa crer que ainda existam alguns na reserva, nem sei se envergonhados, que idolatram seus algozes.  Complexo o ser humano, não?
Lamentavelmente, se eu estiver errado na minha conclusão, não sobrará mais desculpa para um covarde que ataca o idoso que clamava por uma sociedade mais justa para este. Não poderá jogar a culpa na "rede", no "facebook"; não lhe sobrará perdão. Que lembrem a lição de Nuremberg.