Um questionamento que para mim é mais do que uma constatação:
- O que é melhor ? Um aliado bem posicionado no BRICS ? Ou ter que enfrentar o crescente poder da China, agora mais aliada ainda da Rússia, sem qualquer intermediário estratégico e eficiente diplomaticamente ?
Eis a questão que me ocorre, que implica em ações que se refletem
neste conturbado quebra-cabeças interno, artificialmente construído,
ou melhor, financiado, e que precisa agora ser desmontado
progressivamente até que se consiga, em 2018, uma solução mais
definitiva.
Vejo também que aquela conversa da senhora Presidenta com Henry
Kissinger no mês passado não teria sido apenas sobre futebol.
Seria até ingênuo admiti-lo, sabendo que o Ministro de Assuntos
Estratégicos Mangabeira Unger, que a acompanhava, é comensal
frequente nos encontros entre aquele e Obama. Parece-me óbvia a
pavimentação de um caminho cooperativo neste momento. A vontade
está aí, as pedras nem se fale; só precisa é começar o trabalho.
O questionamento acima reflete uma avaliação possível da
estratégia que passa a vigorar quando do enfraquecimento europeu,
que fica ainda mais aparente perante a evolução política e
econômica dos novos atores abaixo da linha do equador.
Sabendo ainda que o atual desequilíbrio mundial, a qual chamamos de
crise, baseia-se na própria instabilidade econômica e política do
hegemon, pois dela se iniciou em 2008, é razoável admitir que
este perceberá a necessidade de reconstruir as bases, sejam
políticas, sejam econômicas, sejam militares, de influência e
domínio a partir de alianças que venham complementar os já
desgastados alicerces europeus.
Não tenho ilusão sobre o cumprimento transparente e fiel dos
acordos que forem alinhavados. É da natureza do hegemon alterá-los,
ou mesmo extingui-los unilateralmente, segundo a sua real ou
imaginada necessidade. Mas, um passo foi dado. E este refletir-se-á
nas nossas plagas.
Vale lembrar que aqui pelo sul já existe uma união, ainda que
adolescente. Argentina, Brasil, Uruguay, Paraguay e mesmo o Chile, e
agora a Bolívia, ( nem quero mencionar a Venezuela ) e esta implica
na posse de respeitáveis reservas de petróleo, gás, minérios,
terras raras e, sobretudo, admiráveis estoques de alimentos e
energia.
Os atores são conhecidos, o
teatro (de operações) é, apesar de mutável, o mesmo. O que muda
é a forma de agir, agora mais azeitada pela visita; e mais urgente
também, já que no outro lado do mundo Merkel, Lagarde e Draghi não
conseguem uma solução para os problemas que foram criados pelo
próprio Estados Unidos. E lá se vão quarenta anos que Paul
Volcker, Willian Simon e George Schultz armaram esta bomba que está
a estourar agora na mão de Obama, já que seu antecessor só fez
piorar as coisas.
Aqueles senhores, ainda nos anos
70, aboletados no trono do FED, e banqueiros mancomunados com um
presidente pitoresco, Regan, legaram um mundo com uma economia onde o
volume total de derivativos passou de aproximadamente US$ 700
trilhões em 2008 para US$ 1.200 trilhões em 2011 contra um PIB real
de US$ 70 trilhões. As transações entre investidores individuais
foram substituídas por transações que ficaram sob o controle dos
grandes bancos. E 96% dos derivativos financeiros nos EUA são
controlados por apenas cinco grandes bancos: JP Morgan, Citigroup,
Bank of America, Goldman Sachs e Morgan Stanley.
Acho que Obama acordou para a urgência do problema que não admitirá
mais alianças interesseiras, principalmente aqui no Sul.
O tempo dirá que estou certo.
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