segunda-feira, 30 de julho de 2012

Gratidão ao mestre

      Após ter escrito sobre produção com qualidade me recordo dos anos 70 e 80 quando estava na moda a "Qualidade Total". Vários consultores, animadores de congresso, falavam e davam conselhos sobre a qualidade nesta época. Os inspetores de qualidade valorizaram seus currículos; os desempregados pela iniciante crise industrial já buscavam colocação munidos de diplomas em cursos especializados em TQC (total quality control), CEP( controle estatístico de processo), KANBAN (conceito intraduzível, pois seria apenas "cartão"). 

      Os malabaristas do palco e da palavra cobravam rios de dinheiro para animar seminários, cujo tema hoje se perde na memória. Muitos dos que participavam, nem mais se lembram do que tratava o assunto e a tal "Qualidade" passou a ser uma palavra vazia e desacreditada. Afinal ela implica em valores cívicos. 

      No entanto, incólume aquela onda que derivada do "Milagre Japonês", a globalização se alastrava pelo mundo alimentando a recém acesa fogueira neo-liberal; queimando indústrias iniciantes e mesmo as antigas mal administradas. Ninguém podia fazer frente aos japoneses. O Japão produzia de tudo e vendia toda a sua produção para o ocidente, pois em preço e qualidade eram imbatíveis.  Alguns se perguntavam como os japoneses conseguiam realizar tal proeza, já que não possuíam matéria-prima alguma, apenas munidos de disciplina, vontade férrea e excesso de trabalho.

     Lembro-me de ter assistido a um seminário do saudoso Eliyahu Goldratt em 1978 em Hollywood-by-Sea onde ele mostrava a causa do milagre japonês que diferia do ocidente, já que disciplina e vontade não faltava também nos lados do sol poente, simplesmente as indústrias japonesas trabalhavam com folga de capacidade. Baseado na sua "Teoria das Restrições" recém formada,  Eliyahu Goldratt percebeu que com sobra de capacidade fabril (mão-de-obra) as faltas e atrasos acabavam se acomodando melhor ao fluxo produtivo desejado.
     O que o ocidente guardava nos estoques, os japoneses geravam de ocupação de mão-de-obra. Isto é, pleno emprego fazendo frente à variações de demanda, apesar de salários baixos  se comparados ao do primeiro mundo ocidental, melhor dizendo Estados Unidos e Europa rica. Os japoneses aproveitaram a lição bélica da derrota e fizeram das suas deficiências e de suas qualidades, um conjunto de vantagens competitivas que os alçou a condição de G8.
      Se formos encurtar a história, podemos dizer que se repetiu agora com a China o que ocorreu com o Japão. Realidade cujos fundamentos técnicos e sociológicos foram magistralmente tornados públicos e simplificados por Eliyahu Goldratt, cuja memória hoje homenageio.
     A síntese fundamental está na geração do pleno emprego, na geração da capacidade técnica, científica e educacional, mas sobretudo na proteção absoluta de seu mercado e seus interesses econômicos. Tiveram que atropelar algumas restrições impostas pelos seus concorrentes e por na frente de tudo a sua vontade de produzir. O que o mestre Goldratt percebeu muito bem.

    Vivenciamos  o momento de recuperação da pandemia neo-liberal que veio desaguar na atual crise econômica. Não consigo comparar a crise econômica atual com a destruição absoluta sofrida pelo Japão na Segunda Guerra. Consigo sim, ver a superação de qualquer crise vivida pelo homem e pelas nações que dela sobreviveram. Nós não seremos ex cessão ( se quisermos sobreviver ).
      Este meu pensamento amadurece desde a conversa com Eliyahu Goldratt em 1978; estou mais do que seguro dele. Daí minha gratidão ao mestre. 

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