quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Decepção

Ontem me enchi de paciência e assisti o discurso de Bolsonaro em Davos. Afinal foram menos de dez minutos, então arrisquei. O que vi, foi a máscara cair; a máscara de um indivíduo que a vestiu para entrar no baile. Não fazia a menor ideia de sua insignificância.
Quero contar aqui a vez que tive de assistir uma palestra, se é que se podia assim chamá-la, do Olavo de Carvalho no Clube Militar. Lá estava também Jair Bolsonaro, quinze anos mais novo. Corria o ano de 2002. 
Na plateia havia um misto de generais reformados, e toda a hierarquia abaixo, mas não passava de umas quarenta pessoas. Uns, totalmente embevecidos pela peroração anticomunista de Olavo. Outros, notoriamente estavam ali obrigados, como era o meu caso. Mas a primeira fileira, a dos generais que fazem das reuniões do Clube Militar uma atividade para preencher o tempo e para saudosismos da caserna, estava a apoiar Olavo de Carvalho, apesar da fumaceira dos seus mais de dez cigarros assoprados na cara da primeira fila.

O Jair Bolsonaro não podia estar na primeira fila, mas lá estava a beber as palavras de seu mestre.
Relembro que hoje decorrem quase dezessete anos, e o então deputado ali ia buscar material para seus discursos na Câmara, já que não tinha ideias próprias e tampouco poderia iniciar uma fala na Câmara que não fosse de agressão e clichês surrados da Guerra Fria.

Ao terminar o evento fui tomar o metrô na Cinelândia de volta para casa e lá estavam, na plataforma vazia pois já era tarde,  alguns dos assistentes do evento e o Deputado, que tentou entabular comigo alguma conversa, da qual providencialmente fui salvo pelo trem que se aproximava na direção oposta a do meu, mas que serviu para minha evasão. 
Vi que ali estava um indivíduo neófito, primitivo, um bronco que fazia do seu cargo no Parlamento uma profissão e uma escada para galgar a rampa do poder.  
Seu mandato nada mais era que resultado de uma mentira que aplicava as viúvas de militares e do discurso furioso que fazia em nome daqueles que fingiam em não acreditar em torturas nos porões da ditadura. Pois como justificar perante a seus netos, esposa, filhas as torturas e os estupros feitos por homens fardados? Até hoje não conseguem. Tampouco filhos e netos, tal a vergonha que lhes corroeria a alma. Alguns não, nem lhes afeta. Não sei em que caso se enquadra Jair Bolsonaro.
Mas uma coisa é certa: - também vive da mentira.
Uma frase muito conhecida, creditada a Abraham Lincoln (*) expressa bem o momento deste ex-capitão discípulo daquele Olavo de Carvalho de quem já falei, até em outras postagens, que teve a mentira agora exposta bem distante daqui, onde ele não sabia que era frequentada pelos mais ardilosos e capazes prestidigitadores das finanças internacionais, formados em Chicago e outras Universidades de prestígio, dominando vários idiomas; íncubos dos burgueses e da alta classe média brasileira. Lá em Davos também se duelam as mais sofisticadas mentes do planeta. Não fora por outra razão que Trump nem deu as caras por lá.  Bolsonaro não percebeu que lá estaria exposta a sua mentira. Bastava não ter ido, já que seu patrão o dispensara. 
Para aquela classe-média que o aceitava, apesar da sua precariedade intelectual, agora ele expunha a verdadeira razão de sua eleição, a mentira. E por azar, teve de ser exatamente onde esta classe média mais venera, no exterior. Tinha que expô-la perante os povos superiores, cuja cultura esta mesma classe faz tudo para imitar. 
Bolsonaro agora não merece mais o perdão dos pseudo-cultos, dos pseudo-honestos e dos pseudo-brasileiros; ainda mais agora metido com milicianos dos subúrbios. Que decepção.
  
(*) - "Podeis enganar toda a gente durante um certo tempo; podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo; mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.“

Um comentário:

  1. Exato Zé, os basbaques calam-se pois a mascara caiu, como v. diz logo de início.
    O que podemos esperar? É como se estivéssemos em uma sala de cinema e a tela iluminada mas totalmente branca.

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