quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Os insatisfeitos

Desde o Carnaval deste ano que não consigo externar uma opinião acerca da nossa situação como país. Afora uma pandemia que nos imobiliza deixando até de contratar serviços caseiros e de reparos, o que nos obriga a fazê-los, confesso que me sinto imobilizado mais por incapacidade de compreender a natureza profunda desta nossa situação, mais do que os empecilhos. 

No entanto, percebo claramente que o desenrolar dos fatos que se sucedem desde há sete anos (2013) foram cuidadosa e profissionalmente plenamente planejados, por quem de interesse, apoiados por trânsfugas que se prestaram a este serviço, ou por ignorância, ou por interesse financeiro, ou por ódio, ou por puro “malcaratismo” mesmo.

A imagem de 2009 que me ocorre simbolicamente revela as causas desta desconstrução a que assistimos do Estado Brasileiro, e que repito abaixo, se associa a participação do Brasil nos BRICS, o que oportunizou uma comunicação minha a Presidente Dilma Roussef, alertando das possíveis consequências geopolíticas por parte dos Estados Unidos. Já que seus interesses de domínio geopolítico e sua doutrina de controle da América Latina estavam sim sendo ameaçados pela liderança brasileira e pela “insubordinação” de Evo Morales, de Chaves e de Kirchner.

Ser reconhecido pelo editor na condição de “estar decolando” como país industrializado, ainda que muito pouco, mas dando os primeiros passos na direção para alcançá-la através da educação, alertou a inteligência americana. O Pré-Sal oportunizaria fazer tal decolagem. Urgia então planejar esta desconstrução. Toda a máquina burocrática da inteligência americana, que já estava empenhada desde 2005 com “mensalão” neste projeto de desconstrução, que envolvia desde a aplicação de recursos locais de comunicação de massa, notadamente a Rede Globo, a participação do Judiciário se orientou na remoção da esquerda do poder. Até então não se cogitava da aplicação direta das Forças Armadas. Mas se viu obrigada a utilizá-la, já que pela via eleitoral parecia impossível. Um projeto foi então meticulosamente elaborado, utilizando-se todos os recursos locais disponíveis no inventário da classe aburguesada que há muito se envergonhava (há controvérsias) de ter apoiado torturadores, estupradores e assemelhados. Avaliou-se qual o maior “armamento” que dispunha então o governo petista para fazer frente ao esgotamento de recursos que lhes impunha o Legislativo e o Judiciário: Petrobrás. 

Daí em diante todos, inclusive o mais ardoroso direitista, sabemos o desenrolar. Construiu-se um deus, com pés de barro é claro, para poder dele se desvencilhar quando necessário, que, como juiz, faria o papel de acusador, investigador, e tudo mais. Dele se toleraria tudo, até as mais torpes manobras, pois era o instrumento que seria utilizado para, após aplicar o golpe parlamentar, tal como se perpetrara no Paraguai, impedir o retorno petista ao poder. Bastava encenar o ato final desta “ópera bufa”: utilizar as forças armadas para garantir, através de GLO (medida criada aos tempos do Governo Dilma) possíveis rebeldias. 

Tudo profissional, bem planejado, mas como soe as ações que envolvem banditismo, os partícipes acabam por se desentender, já que o moto de cada um destes implica na eliminação de seu concorrente pelo poder Eis então o quadro que se apresenta, emoldurado por uma pandemia que imobiliza protestos e neutraliza reações: desgoverno e desorganização do Estado.

Mas … E se vier a vacina e todos se sentirem seguros de ir para as ruas?

E, se por processos intrínsecos à bioquímica do vírus, a pandemia arrefecer? O que me parece improvável até 2022.

E se? Incluindo aí uma “virada” no governo americano.

E se...os militares brasileiros, por algum motivo esotérico, se sentirem envergonhados por terem sido usados nesta patranha contra o Estado Soberano?

Haverá muitas condicionantes, mas uma coisa é certa: arrefecida a pandemia a reação natural a esta sandice irá se desencadear, pois o nível de destruição que se aproxima é imenso.

No entanto, por maior que seja o desastre, estaremos inseridos no cenário global e a mudança em uma variável modifica o estado deste sistema complexo e imenso; tanto em direção a sobrevivência, quanto em direção a destruição.  Nestes últimos dez mil anos uma tem prevalecido, apesar de muitos impérios terem desaparecidos e muitas nações já nem existirem mais, apesar de milhões sucumbirem nas guerras insufladas por poderosos, apesar da impotência biológica diante de um agente micrométrico: a desesperada necessidade de sobreviver aliada ao progresso impulsionado pelos insatisfeitos.


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