quinta-feira, 13 de junho de 2013

Complexidade laranja.

    Estava da minha janela, ainda escuro de manhã, à cismar o quase nascer do sol, absorto em pensamentos que sempre esbarravam na eterna dúvida matinal: fazer ou não fazer barba. Dúvida espectral que me persegue, sem que eu possa construir um método que sistematize e simplifique este problema transcedental diário. Em meio à reflexão e a elucidação deste eterno problema, me surpreendo ao ouvir um galo, remanescente no ambiente urbano. ( Estivesse em Recife estaria propenso à sair ali mesmo para rua ). Como teima este galináceo em sobreviver e ainda não foi designado para fazer companhia ao aipim em alguma panela gourmet? Este apego à vida me fez seguir pensando em autopoiese, pensando no avanço de Varela e Maturana, no salto qualitativo de Luhman, de Lynn Margulis, que junto com Carl Sagan procriaram a ideia dos procariontes autotróficos. Recordei meu pensamento sobre a aventura da mitocôndria, a colaborar para a complexa usina de alta suficiência energética que me mantinha vivo. Krebs me ajudara na construção da idéia de competição versus equilíbrio . Mas não ajudava resolver o dilema do barbear...Ah, deixa a barba pra lá.
    Voltando aos pensamentos autopoiéticos e, principalmente à Margulis, olhava da janela para até onde a vista alcançava e via na paisagem construída de concreto, junto ao contorno da Serra dos Órgãos, a confirmação da hipótese da vida. Fritjof Capra em "Conexões ocultas", já tinha feito as conexões que eu via agora claro naquele ambiente ainda escuro. O repetir diário daquela cena ensinara o galo avisar que não havia mais o perigo do predador noturno, invisível, fugaz ( tivesse ele lido as memórias críticas de Saint-Simon, saberia que o grande predador trabalhava nas cozinhas de Luiz XV). 
      Aqueles pensamentos, vagos, dispersos, me levavam a novas e mais complexas percepções, que confirmavam a complexidade. Aqueles minutos na janela deixaram a incumbência de rever Edgar Morin; não poderia fugir da complexidade. 
    O galo repetira algumas vezes o aviso do fim da madrugada. Seu canto entoava a vida, complexa, breve, mas infinitamente bela. O Sol pintara o horizonte de laranja.

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