terça-feira, 3 de julho de 2018

Resistir é possível

Havia dito previamente que não sairíamos dessa situação complicada em que hoje nos encontramos de forma simples; haveria a necessidade de uma ajuda externa. Por que afirmo desta forma? Não afirmo peremptoriamente que não sairemos, tampouco acho que haverá motivação e energia interna que possa impulsionar o povo a buscar o resgate de sua independência agora usurpada.

Há razões de natureza sistêmica que nos indicam a existência de atratores direcionados a manutenção do status quo. Uma delas é a capacidade que tem o governo(?) atual de buscar apoio americano para gerar situações desestabilizadoras do calendário eleitoral. A visita do Pence (é o quanto vale) semana passada é mais do esclarecedora.  Arrumar uma desculpa com um conflito com a Venezuela, ainda que fictício, para aplicar o texto constitucional de suspensão das eleições não está fora de seu arsenal. Evidentemente que o Comando das FFAA, (não o Ministro da Defesa, é claro ) não veriam com bons olhos uma pata-quada desta...mas. Estou falando de uma razão apenas dentre as que poderiam gerar o "atrator"; ainda existem a jurídicas que têm os tribunais como capoeiristas da lei; pernada pra todo lado.

Mas existem também os fatores que, à partir de pressões externas, podem forçar o deslocamento deste "root locus", deste centro de estabilidade do sistema em direção a uma posição mais facilmente facilitadora de uma reação popular na esperança da recuperação de sua soberania e sendo, ela mesma, moto de apoio de outras forças políticas e inclusive as forças armadas, que não desejam retomar o desconfortável papel interpretado no passado e que hoje mancha sua imagem.

Como o nosso golpe se insere no desdobramento do cenário de manutenção da hegemonia americana, vemos que tal manutenção tem descambado para o lado do oriente com forte confrontação comercial, política e militar (vide as recentes provocações no Mar da China) ao bloco hoje formado pela China, Rússia, Irã e Paquistão agora. A posição titubeante da Índia deve-se a questão de ocupação do Tibet por parte da China desde 1950 que mantém suas relações em um determinado nível de tensão, ainda que pequeno.  Considerando que a Índia ainda tem contencioso com o Paquistão desde 1947 até os recentes incidentes na fronteira da Caxemira, a confrontação com a China acaba por ser como que esquecida, já que não pode manter duas frentes de tensão. Este conflito sempre foi descaradamente explorado pelos países da OTAN, no intuito de criar uma frente adicional ao sul da China e da Rússia. Como, tanto a China como o Paquistão possuem armas atômicas e transporte de médio alcance  (mísseis intercontinentais ICBM Agni-5, por parte da Índia e os NASR por parte do Paquistão, ambos com capacidade nuclear) a instigação manipulada pelas grandes potências arrefeceu, pois perceberam que estariam criando um conflito incontrolável de proporções mundiais, pois iria inexoravelmente incorporar a Rússia e a China. Washington achou mais eficaz provocar a Revolução  Laranja, pois atingiria a Rússia mais proximamente, a Ucrânia. No entanto, a resposta de Moscou veio rápida, ocupou a Península da Crimeia. Mostrou o tamanho do problema e do risco associado: aqui não !

Mas o que tem a ver este cenário internacional com o nosso golpe afinal?  A resposta vem em termos geopolíticos simples: - Não se pode manter várias frentes de competição ao mesmo tempo; estas, por exigir constante atenção e aplicação de recursos, no caso de alguma falha, podem se converter em pontos de tensão e até conflito. Com isso, as nações da América Latina, principalmente o Brasil, a maior economia do  grupo, tem que se manter em estado subalterno de controle. O crescimento do protagonismo do Brasil passou a ser preocupante para os analistas de Washington, e de Langley também. Viam os analistas americanos a possibilidade dos BRICS funcionarem no desmonte da hegemonia americano. Brasil, África do Sul eram objetivos de fácil manipulação, os demais exigiam mais esforços e mais atenção. A China então era um caso especial, pois passou a ser a maior potência exportadora do planeta.

O planejamento da demolição dos governos Lula e Dilma teria de ser planejada com antecedência e cuidado, pois estes dois presidentes contavam com apoio de três quartos da população brasileira. A desconstrução demorou algum tempo em planejamento, quando em 2013 iniciaram a fase de ação.
Treinaram e cooptaram o poder judiciário, controlaram militares, compraram a mídia e, aí sim, iniciou-se a ação de campo. Nesta fase estava articulada a compra do legislativo, o que não foi muito difícil. Com o treinamento no Paraguai e em Honduras, era uma questão de gerenciamento e controle.

O que pergunto a mim mesmo é como as agências de inteligência se comportaram. Ou já estavam cooptadas previamente, o que é bem provável também; ou demonstraram ser absolutamente incompetentes, o que é também provável. E ainda existe a hipótese salvadora: eram ambos os casos.

Quando foi descoberta a espionagem de Dilma e Ângela Merkel por parte da NSA e reveladas por Eduard Snowden, houve a oportunidade de abortar o planejamento e a construção do golpe. Por qual razão Dilma não tomou a iniciativa de desmontá-lo e revelar os seus conspiradores. Poucos, ou somente ela sabe responder. Ameaça ? Ou apenas não sabia da extensão ? Não sabemos e acho que irá demorar muito para a verdade aflorar. Até lá, resta-nos resistir apenas. Como? Através deste governo (?) é que não é. Logo, resta-nos a ajuda dos parceiros dos BRICS, os nossos maiores compradores de grãos e proteína animal. Eles estariam dispostos a aplicar a sua força comercial? Acho que já começaram a agir, sobretaxas e retenção de pedidos...É o que podem fazer, por enquanto.







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