segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Dólar versus heroico povo da Venezuela

Um amigo me sugeriu a leitura do artigo do Jornal GGN de Luis Nassif , o “Como a pressão contra a Venezuela vai corroer o império do dólar, por Michael Hudson” em 08/02/2019. 

Tal leitura buscava o entendimento, tanto por parte de meu amigo quanto da minha parte de questões econômicas. E as questões levantadas por Michael Hudson transitavam em terreno econômico árido para nós, estranhos neste terreno de areia movediça. No entanto, a leitura levantou questões objetivas relativas a soberania da Venezuela perante as contínuas ameaças e agressões por parte dos Estados Unidos. Ameaças estas que têm por objetivo estimular a oposição a Maduro a dar um Golpe e juntamente insuflar uma Guerra Civil que levasse a necessidade de uma intervenção “pacificadora” que por sua vez, dividiria o país em norte e sul, ficando a parte norte, rica em petróleo, nas mãos de quem os Estados Unidos indicassem. Afinal o custo de transporte de petróleo, oriundo da maior reserva do planeta, é menor do que dez por cento daquele que parte do Oriente Médio. Isto já justifica por si só qualquer aventura. A dúvida recai sobre a aventura militar que poderia desencadear um desequilíbrio na América Latina e potencial oportunidade de interferência chinesa e russa; que, mesmo sem poderem refinar o petróleo venezuelano, ainda possuem vários interesses comerciais na região, tanto na área de petróleo e gaz quanto na área de energia elétrica, da geração a distribuição. Leve-se ainda em consideração que Trump já tem problemas internos a cuidar que, se não forem bem gerenciados, podem evoluir para desestabilização ou mesmo um impeachment. Eu pessoalmente não acredito nesta última hipótese, pois Trump tem o apoio do Senado mas...política é política. 

Após a leitura do artigo mencionado (https://jornalggn.com.br/noticia/como-a-pressao-contra-a-venezuela-vai-corroer-o-imperio-do-dolar-por-michael-hudson/) fixei a mente na questão da guerra, pois não há situação mais dramática e imoral no plano das relações internacionais do que a guerra. Até porque, que quase sempre, quem as provoca o faz com ardil e pretexto falso. A invasão da Polônia por parte dos nazistas ainda está na nossa memória, mas há muitas outras. 

Essa situação do nosso vizinho é assaz preocupante no que toca o sofrimento do seu povo, incluindo ainda a escassez de gêneros que estão sofrendo e a crise que se instalou pela interferência e patrocínio dos Estados Unidos, que há muito cobiça aquela reserva de petróleo que dista apenas três mil quilômetros de Nova Orleans. Um atalho, se compararmos aos trinta mil quilômetros que dista o petróleo do Irã e da Arabia Saudita. Co0mo disse, a questão central da corrosão do império do dólar não podemos aprofundar, por falta de conhecimento especializado e porque a questão central, que é a ação armada, domina todo o espectro cognitivo e emocional. Sabemos que os Estados Unidos estenderá sua influência e poder para engajar parceiros na pilhagem. 

Para conseguir o cobiçado butim, os Estados Unidos garroteiam os venezuelanos, impedindo-os de comprar gêneros alimentícios, remédios e tudo o que não produzem; já que a Venezuela não se industrializou nem evoluiu sua agricultura, pois sempre teve suas elites engordadas pelo dinheiro do petróleo; dinheiro este que depositava em bancos americanos. E agora? O Banco da Inglaterra chega ao limite de não permitir que seu cliente depositante tenha suas reservas em ouro disponibilizadas, sendo retidas, sem poder a Venezuela utilizá-las para pagar seu abastecimento. O Banco da Inglaterra simplesmente saqueou os bens do povo Venezuelano, assim como fez com a Argentina e vários outros países que confiaram...ingenuamente. No artigo de Michael Hudson esse saque aparece descrito literalmente. É deste ato que deriva a corrosão do império; afinal ninguém se sentirá seguro com suas reservas ali depositadas; mesmo que faça parte do séquito do imperador. 

Neste momento, o que realmente domina o pensamento, a preocupação e o sentimento de todos que amam a paz é a ameaça de guerra. Aí então devem ser feitas algumas considerações. 

A primeira está baseada na hipótese de invasão direta por parte dos Estados Unidos, sem o concurso das forças dos outros países apoiadores, como Colômbia, Chile, Argentina, Peru e alguns outros controlados do Caribe. Esta parece remota. Com o concurso de outros países da região, para maquiar a intervenção, aí sim, já pode ser considerada. Como esta última, que estava no arsenal estratégico americano, considerando como certa a participação do Brasil, recém capturado na teia, aparentemente, ou mesmo firmemente a invasão foi rejeitada pelos militares brasileiros, terá que haver uma nova variante que exigiria a aprovação da OEA e da ONU para esta aventura. 

Os Estados Unidos tem um histórico dúbio em relação ao cumprimento de recomendações e orientações, pois atacaram o Iraque atropelando a proibição do Conselho de Segurança da ONU. Fizeram-no na Bósnia de forma diferenciada utilizando os outros países da OTAN. Quanto a OEA, por eles controlada, já seria mais fácil, assim como fizeram com as Forças de Paz na República Dominicana, tendo inclusive participação do Brasil em 1968. Essa tem sido a forma pela qual se engajam em intervenções “pacificadoras”, como foi na Síria, na Líbia. Isto sem falar nos tempos da Guerra Fria. 

Ocorre que os tempos são outros, dois novos atores participam agora do jogo geopolítico e militar, após a dissolução da União Soviética. Rússia e China tem protagonismo que obriga a um novo desenho no cenário e que não permite engajamentos militares tão automáticos. Isto tem obrigado a um ativismo maior na fronteira europeia que circunda a Rússia e tenta engajar na aventura os Estados Bálticos (Letônia - Látvia, Lituânia e Estônia), a Áustria, a Polônia, a Noruega e aqueles que margeiam o Mar Negro, neste caso com extremíssimos cuidados. Mas a questão geopolítica não tem apenas este viés militar; ela deriva de enquadramentos econômicos que, por sua vez, derivam da imensa montanha de papeis financeiros sem lastro real de produtos. O PIB mundial que gira em torno de 80 Trilhões de Dólares, tem mais do que o dobro em derivativos e papeis fictícios e o único ativo real que parece poder lastrear essa montanha de papel sujo é o petróleo. A queda da produção industrial motivada pela supervalorização financeira parece constante e acende um sinal vermelho na União Europeia, capitaneada pela Alemanha, que agora toma medidas drásticas para salvar sua indústria de base, da qual boa parte foi parar na mão dos chineses. Este cenário indica que o poder militar americano, que garante mundo afora o seu poder financeiro econômico, agora já não pode se estender sem que comprometa este poder financeiro que o sustenta. Os movimentos de países da Eurásia, juntamente com os BRICS eram exatamente para não mais depender do braço financeiro FMI e Banco Mundial. 

Daí o golpe no Brasil, para retirá-lo do “BRICS”, enfraquecendo-o e removendo a “cabeça-de-praia” no continente americano. A cobiça sobre o petróleo da Venezuela é antiga, mas a premência em garanti-lo, para não depender tanto daquele do Oriente Médio, está levando a aventura no Caribe e mesmo aqui pelo Sul, já que Macri e Bolsonaro foi o melhor que arrumaram para ajudar na pilhagem. 

A sede de petróleo faz os Estados Unidos beber vinte milhões de barris de petróleo por dia, produzem uns onze. Com isso tem que chagar aos portos americanos, todo dia, nove milhões de barris; repito, nove milhões todo dia. Sua reservas mal dão para uns mil dias, ou seja, três anos. Por isso sua situação começa a ficar preocupante. Qualquer desequilíbrio nesta relação dólar-petróleo pode vir a ser o inicio de um problema sem solução. Sadam Hussein tentou esta manobra nos anos noventa, ou seja, não negociar em dólar o seu fornecimento de petróleo, pagou caro. O mesmo ocorreu na Líbia, destruíram o país literalmente. O problema se agrava quando o transporte público americano, fora dos grandes centros, praticamente despreza os meios de transporte de massa. Todos utilizam o automóvel bebedor inveterado de gasolina, e não dão mostra de querer mudar seu estilo de vida. E querem pagar um preço fictício para abastecer seus carrões. 

Abastecer de petróleo, carros, aviões, barcos, lanchas, iates e ainda seus exércitos, é tarefa que os está orientando, e já faz tempo, a pilhar as reservas alheias. 

Mas, simultaneamente a esta ação de garantia de suprimento de petróleo à qualquer preço para, por sua vez, garantir a sua hegemonia, há agora dois atores a disputar esta hegemonia e que combinam entre sí a suficiência de petróleo. Russia auto-suficiente em gaz e petróleo pactua com a China a garantia do seu abastecimento...sem utilizar o dólar como moeda da transação. Fazem agora, pois as condições já o permitem, o que Saddam Hussein e Kadhafi tentaram fazer outrora pagando com a vida. 

Maduro ainda transaciona em dólar...mas os Estados Unidos o está levando a negociar nas moedas ad-hoc. Se China pudesse refinar o petróleo venezuelano não haveria crise. Logo, outros meios terão de ser encontrados para anular este enforcamento do povo venezuelano. Mas todos passam por resistir e parece que Hugo Chaves legou a herança da resistência...Ainda temos que ver até onde vai o heroísmo do povo venezuelano. 



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