quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

ERP-simulação-continuação 4

Evoluindo a resposta a primeira questão, dentre as três do texto anterior (ERP, simulação-continuação-2)
. Situação ótima, é a de maior lucro?                                               
. Sobre que elementos incide a ação de simulação?                         
. O exercício de simulação (what-if) é a única heurística possível?
é necessário rever a evolução do ERP, partindo da solução de Joseph Orlicky (MRP-Material Requirements Planning), passando pela solução (MRP-II, Manufacturing Resource Planning) de George Plossl, que tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em 1981 e a evolução dos segmentos comportamentalistas que propõem as soluções, como a Teoria das Restrições de Elyiahu Goldratt, que tive a oportunidade de acompanhar em 1981 também, a LEAN e outras que emergiram do progresso e das experiências bem sucedidas das industrias japonesas no anos 80. Todas estas técnicas, sejam sistêmicas, sejam gerenciais, partiam da demanda independente já resolvida alhures. Ou seja, dado o conhecimento desta, partia-se então para a busca da maximização do lucro, como elemento aglutinador de capacidades e de competências; no limite, tendo a demanda do mercado como irrevogável e determinante dos esforços empresariais, dos recursos (material, mão-de-obra, energia, capital) sem medir suas restrições sejam internas ao negócio ou sejam inerentes a toda a cadeia de suprimentos (supply-chain). Por que então trazer esta visão, digamos histórica? Porque toda esta evolução e todos estes esforços acadêmicos, técnicos, partiam de um pressuposto de ter o lucro atendendo a uma determinada perspectiva de demanda. Em uma simulação "what-if" exige-se a memória (marcação histórica) destes exercícios; daí o repositório Histórico de Análises.
      Então esta primeira questão compreendo que somente pode ser plenamente respondida se forem considerados os seus desdobramentos sociais; mas não é este o presente escopo e não possuímos conhecimento para nos aventurarmos nesta área social e econômica. Está de bom tamanho.

      Quanto a segunda questão [ Sobre que elementos incide a ação de simulação? que poderia ser respondida sinteticamente declarando os dois únicos elementos passíveis de simulação e interação, (ou seja: os estoques de insumos e o "lote de ressuprimento", ou em outros termos a "quantidade a suprir", seja por encomenda a fornecedores, seja por produção interna), deve ser mencionado que estas duas grandezas devem respeitar na simulação as restrições pertinentes. No caso de estoque, as restrições de quantidade (espaço, capacidade de estocagem, tempo de estocagem) e no caso do "lote de suprimento", seja na encomenda externa, seja na produção interna, deve se considerar as quantidades mínimas de encomenda, as quantidades máximas, múltiplas e a época-sazonalidade, pois podem existir restrições quantitativas e mesmo meteorológicas (intensidade de chuvas, neve, temperatura). A antiga fórmula do EOQ (economic order quantity) ou Lote de Wilson, criada na década 20 (um século), que ainda hoje vemos em alguns sistemas ERP, já não se aplica a nenhum caso de simulação.

       Quanto a terceira questão [ O exercício de simulação (what-if) é a única heurística possível?] temos que admitir que estando tratando de sistemas computacionais. A heurística aqui proposta é simular a "rodada" do Planejamento de Produção (MRP) ensaiando Lotes e níveis de estoque, de todos os itens participantes, a partir de posição real de forma alcançar, dentro do Horizonte ensaiado, a condição atendimento a demanda...com a menor utilização de recursos possível. Ou seja, ao menor custo. respeitando todas as restrições reais. Logicamente, terá de haver ensaios tantos quantos atendam a solução ...É a acumulação de experiências (simulações) que construirá progressivamente a validade da análise "what-if". Nem pode se considerar a construção de uma metodologia "what-if" que não tenha coberto um período superior a pelo menos três ciclos de produção. Assim, a definição de horizontes de análise também deve cumprir tal recomendação, visto que as consequências, os efeitos das providências neste período é que construirão os critérios de "verossimilhança", de "confiança", de "viabilidade" aplicáveis aos "palpites" bayesianos. O aprofundamento e completação da resposta desta última questão ainda irá requerer considerações de natureza sistêmica, ou seja no ramo computacional, relativas a construção das estruturas de dados. 

(haverá um intervalo na sequência ERP) quando outro assuntos serão tratados, voltando a questão ERP a partir de 9 de janeiro do ano que vem. Feliz Ano Novo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

ERP-simulação-continuação 3

     Como continuação ao ERP-simulação-2, onde as três questões foram apostas, temos que escolher responder um delas, mesmo sabendo que estas questões estão intimamente interligadas. Escolhemos então responder na ordem que foram apresentadas.

      Retirando da resposta qualquer componente de ordem econômica, ou microeconômica, pois estaríamos reduzindo a resposta a simples comparação entre pagar e receber; o que por sua vez se reduziria ao ponderamento da redução de quantidades e preços de insumos e aumento de quantidades e preços de vendas. Não é esta a abordagem proposta, pois qualquer que seja a ação de diminuição de pagar implica em redução nos insumos e, da mesma forma, aumento de receber, implica em aumento de preços e/ou de quantidades de vendas.

      Ocorre que para ambos os casos, haverá restrições; tanto relacionadas a valores, quanto relacionadas a quantidades. Se aplicadas a insumos, i.e. mão-de-obra, material, energia e capital,  estas restrições irão determinar por sua vez os limites a serem considerados na oferta dos produtos e, por interação, a demanda independente. No diagrama a seguir, expansão do anterior, algumas funções são expandidas mas a essência é representada para balizar a resposta de: A situação ótima é a maximização do lucro?

      Se a resposta fosse apenas a afirmação, a maximização do lucro, nem seria necessário tanto esforço analítico. A resposta nos obriga a avaliar, dentre os vários horizontes (curto, médio e longo prazo) o comportamento da demanda, inclusive perante os fatores exógenos, externos, para os quais não teremos controle o quão estes afetam a demanda ao longo do horizonte para garantir a sobrevivência, sendo o lucro, o reinvestido no negócio, este sim a parcela a ser maximizada.. Aquela parcela distribuída societariamente, esta sim, é cofator de simulação e de escolha gerencial (ver seta vermelha em direção a Análise Tentativa no Horizonte H0.


      Ao se aprofundar na escolha de fatores externos, aí sim estaremos estabelecendo, através dos instrumentos analíticos{correlações históricas, inferência bayesiana, aprendizado de máquina, etc...) que valores escolhidos à priori, segundo cada Horizonte, estarão validando os parâmetros quantitativos (quantidade e valor)e mesmo os qualitativos no caso do exemplo da mineração, que irão projetar a demanda. 

        Para o estágio seguinte, ainda será necessário o aporte das restrições internas e a posição das ordens já compromissadas..Aí sim podendo ser gerado o Planejamento de Produção que será resolvido no ciclo seguinte. 

        Todo o processo terá de ser memorizado (gravado) em um Histórico que auxiliará na futuras hipóteses; hipóteses estas que darão base para o aprendizado futuro. Ou seja, será a evolução e repetição do exercício que trará confiança (verossimilhança) nos ensaios ao longo da vida do negócio e nas escolhas inerentes a cada Horizonte escolhido.

           O exercício da simulação é que dará confiança na construção da situação ótima.  Sempre são os erros, sua percepção e correção, que nos indicam a situação ótima. Aliás, a vida nos ensina. 

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

ERP, simulação-continuação-2



(atenção: este texto é originário de editor externo e está aqui inserido como imagem



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

ERP, simulação-continuação-1

       No parágrafo último, da página anterior (abaixo reproduzido)  ênfase foi dada a velocidade de simulação, pois a experiência de "rodada" do "Relatório Supply - Demand", nome dado ao resultado do programa MRP, na forma "dummy", ou seja, "não real", devido as várias manobras necessárias de processamento de dados, não atingia plenamente o objetivo de saber, a tempo, se o Plano de Produção alimentado seria viável em termos de ressuprimento e de produção. Nem se avaliava o impacto financeiro.

 Responder com velocidade, ainda não é suficiente: - há de se estabelecer uma estratégia de aplicação das capacidades de simulação  na   mesma  velocidade,   pois a experiência   nos  mostrou no  passado  que  a simulação tardia não surtiu os efeitos que se buscava no ambiente de manufatura mais verticalizado, mais complexo e de ciclo mais longo que outros mais horizontalizados (caso do sucesso japonês dos anos 70/80).

         A resolução do Plano de Produção tentativo, (entenda-se que se admite que a demanda original, proveniente do mercado, da clientela, para este exercício de simulação é estabelecida por critérios definitivos não podendo ser, por consequência, alterado por este Plano) irá produzir ações relativas a ressuprimento; ou seja, níveis de estoque e parâmetros de suprimento, sejam estes para itens comprados ou para os itens produzidos.  Percebe-se então que somente estes dois parâmetros (nível de estoque e lote de ressuprimento) são instrumentos de otimização ao longo do tempo. Ocorre que existem restrições, internas ou externas, derivadas da tecnologia do processo produtivo, da logística do abastecimento,(tamanho de container, ferramental, opções logísticas externas, etc...) que impõe quantidades mínimas, múltiplas e/ou ótimas, estabelecendo os graus de liberdade na simulação. Tornando o exercício de simulação mais complexo e mesmo demorado, se não for utilizado uma estratégia de determinação de seus contornos e seus limites, independentemente da velocidade de simulação...que em qualquer situação deve ser rápida. Rápida o suficiente para a oportunidade de tomadas de decisão. Ou seja: quanto e quando comprar e/ou produzir. Um Plano de Produção que não coteje minimamente a capacidade de buscar uma situação de satisfação da demanda ao melhor custo sem comprometer os parâmetros de capacidade (presente e futura) não levará o negócio senão a uma situação de risco.

    Duas questões então se apresentam: 

        . Quanto e quando se vendeu, ou venderá, houve o conhecimento do que se possa obter como garantia de entrega e suficiente lucratividade ?

         . Formalizou-se a relação mútua de dependência de suprimento e demanda? Isto é: a demanda independente, vendas presentes e futuras, interagiu com as análises relativas a Planos de Produção tentativos/simulados?

      Aqui já vemos que  simulação, além de exigir uma velocidade útil, implica e se reconhecer restrições, tanto no plano de capacidade fabril quanto financeira. Quando mencionamos capacidade fabril estamos incluindo facilidades de instalação (planta, máquinas e ferramental) e mão-de-obra; em última instância custos. 

    Com estes referenciais temos que estabelecer a estratégia de aplicação do exercício de simulação. 

    O que afinal iremos simular dentro de um Horizonte de tempo estrategicamente definido

       I. O Planejamento de Demanda  e suas variações, dentro do Horizonte previamente estabelecido, a partir da capacidade instalada e dos planos de investimento?

       II . O Planejamento de Produção, a partir do Planejamento de Demanda já estabelecido e fixado no Horizonte então definido?

      Visivelmente o Planejamento de Demanda antecede o Planejamento de Produção e a definição do Horizonte é que será a precedência maior, já que a depender do produto, suas sazonalidades e/ou encomendas potenciais e mesmo a tecnologia aplicada a este, é  que será a escolhida técnica de previsão/simulação. Como já mencionado, no passado, somente se dispunha das técnicas estatísticas regressivas, i.e. baseadas na experiência pregressa.  Daí a interação necessária dos três estágios de simulação. Ver diagrama abaixo:

         Neste diagrama pode se observar que os dados reais são alimentados na simulação, visto que Ordens já compromissadas  terão de ser consideradas, juntamente com a Lista-de-Material (ambos simbolizados por "disco"  que representa o produto propriamente dito, sua tecnologia e processo produtivo. 

          Alterações na estrutura do produto e/ou qualidade obrigam a construção de inferências pois afetam as "derivações da demanda". No exemplo anterior, tanto a indústria manufatureira verticalizada ou não, como o caso da empresa de mineração, se simularem diferentes quantidades de uso na Lista-de-Material ou na qualidade do produto, implicariam em diferentes produtos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

ERP, simulação

           Retomando a evolução do MRP em direção aos mais atuais sistemas, temos que reiterar a ideia de modelo.  Modelo entendido como representação do produto da empresa, expresso na "Lista-de-Material", o "que", e do processo produtivo, o "como". O planejamento de produção resolverá então o "quanto" e quando". Lembrando que historicamente a evolução destes sistemas ocorreu em ambiente de grande verticalidade, principalmente na indústria automotiva, toda a representação basicamente restringia-se a quantidades, e derivando então a demanda através da Lista-de-Material, estabeleciam-se quantidades ao longo do tempo. Eis então a síntese da derivação de demanda, utilizando-se os recursos de representação de produto, sua estrutura mímica da visão explodida do produto (fig.01), e a aplicação de políticas de ressuprimento: quantidades ao longo do tempo.


          Como o MRP/MRP-II  serviam, com maior intensidade, a indústria manufatureira metal-mecânica, montadora e eletro-eletrônica, as demais, que se utilizavam de processos produtivos diferenciados, praticamente não dispunham de sistemas, senão aqueles desenvolvidos para sua aplicação individual; geralmente desenvolvidos, ou em casa, ou sob encomenda. Lembro da experiência que tive, há mais de trinta anos, ao desenhar e desenvolver um sistema de planejamento da demanda de embarques e acompanhamento de produção de uma empresa mineradora, onde a "Lista-de_Material" basicamente representava, em lugar de "quantidade", a "qualidade" do seu produto; ou seja, como este era especificado em termos de tolerâncias, máximos e mínimos,  dos seus componentes, alguns destes determinados como impurezas. Vejam a diferença imensa existente na capacidade de desenvolvimento do modelo do produto e do seu processo produtivo. A derivação de demanda partia da especificação intermediária em termos de qualidades e quantidades. A fig. 02 representa o produto final estocado em pilhas, a ser embarcado, que evolui dos estágios:
                                          🚢porto
                                                                             planejado para embarque
                                                                                                   
                                                              (quantidade/qualidade/data de embarque(eta))
                         ╦   quantidade de estoque planejada                   
                                                                                ▓
                                                                          ▓estoque empilhado
                         ║                                      pátio de estocagem do porto - local de embarque 
                           ---------------------------------------------- ↓------------------------------------
                                                                             [💻derivação da demanda]
                               demanda líquida 
                          (quantidade, qualidade, data)
                              --------------------------------------↓--------------------------------------------
                                                           🚊 Transporte desde as minas até o pátio do porto 

                                                     💻 - Planejamento da Produção
                                                          (quantidade,qualidade, período)
                               Lavra🗾
                               linha do tempo------------------------------------------------------------------>                                                                                                                                                       FIG.02

             Todos os elementos e variáveis quantitativos aplicados no MRP convencional, isto é quantidade e tempo, estão presentes, sendo ainda adicionada a variável qualidade. Denominou-se então o modelo de KQt (quantidade, qualidade e tempo).

             Observe-se, no exemplo acima a essência do problema de logística e ressuprimento que está presente em qualquer processo produtivo. E o que é objeto de intervenção simulado pelo ERP será a aplicação de políticas que afetarão os níveis de estoque, as quantidades e lotes típicos (que estarão condicionados por restrições e condições produtivas) e...níveis de segurança; ou seja, da quantificação de riscos. Mais adiante ainda adicionaremos a discussão dos aspectos relativos a capital e trabalho.

     Existiram, e ainda existem, conceitos e métodos de gestão que praticamente orientam o planejamento do suprimento em direção a demanda.Tais métodos nasceram em ambientes de demanda garantida e recursos de suprimento (material, mão-de-obra e capital) também garantidos, até mesmo pelo Estado. Estamos falando do Japão nas décadas de setenta e oitenta. Entretanto...estes tempos de recursos "inesgotáveis" parece que já vão longe. Mas acabou deixando uma herança positiva de eliminação de desperdícios através do método Lean.  Porém o que nos interessa neste momento é enxergar o que se projetou nos ERP ao longo deste meio século, desde Joseph Orlicky, que  chamaria de "derivação de demanda" generalizando sua aplicação em ambientes industriais além do que se denominaria "manufatura tradicional", sabendo que as empresas de manufatura se inserem no ambiente negocial da cadeia de suprimento (supply chain) agora acelerado pelas faculdades B2B (business to business) e B2C(business to consumer) da internet. Ao final o que se propõe aqui é extender a evolução do ERP em direção as capacidades de simulação "what-if" através dos recursos mais atuais de aprendizado de máquina, de análise bayesiana e de redes neurais.

         Serve mencionar o texto abaixo extraído do excelente sítio da internet (https://www.qad.com/pt-BR/

A manufatura tradicional não possui os ciclos de feedback necessários para responder rapidamente às mudanças na cadeia de suprimentos. Como resultado, os fabricantes podem ser vítimas de desafios externos sem a profundidade adequada ou amplitude de informações críticas. ...

        Responder com velocidade, ainda não é suficiente: - há de se estabelecer uma estratégia de aplicação das capacidades de simulação na mesma velocidade, pois a experiência nos mostrou no passado que a simulação tardia não surtiu os efeitos que se buscava no ambiente de manufatura mais verticalizado, mais complexo e de ciclo mais longo que outros mais horizontalizados (caso do sucesso japonês dos anos 70/80).

   ( como este texto já ultrapassou uma página seguiremos na postagem seguinte )

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

ERP/MRP Modelo

MRP - Modelo 

    Tendo como objetivo evoluir uma estratégia de desenvolvimento de ERP, e mesmo da evolução de produtos ora vigentes, vale revisitar o primeiro artigo quando se mencionava Joseph Orlicky, o precursor da tecnologia/metodologia MRP. A proposição de Orlicky que utilizava tecnologia gestão de dados BOMP/DBOMP fazia organizar a Lista-de-Material (Bill-Of-Material) de forma que representasse um item material, dentro do conjunto de todos os itens utilizados nos Produtos fabricados, de forma que indicasse a sua posição relativa (um código) dentro da Lista-de-Material, fosse um conjunto, um subconjunto ou uma matéria-prima, perante a todo os demais indicando o nível mais baixo; denominou-o low-level-code (LLC). Era uma forma de orientar o processamento do MRP, ou seja, a resolução do plano de produção, a que se calculasse o saldo restante após todas as demandas, nos diversos níveis, serem apresentadas perante o estoque em mãos, fosse este item um componente comprado, uma matéria-prima ou um conjunto montado ou um sub-conjunto.

  Tal método de cálculo de saldo potencial/demanda líquida resolvia o problema de indústrias manufatureiras que apresentavam complexos processos de produção verticalizados, onde se fabricava do parafuso ao automóvel. Foi realmente a indústria automobilística que alavancou este método.

    O que guia então o processo do cálculo de demanda líquida é a ordem estabelecida pelo LLC do item e a sua representação na Lista-de-Material. A Lista-de-Material, o LLC e os parâmetros de suprimento e produção perfazem sinteticamente o modelo do negócio.

Apenas para lembrar…


Item Nível

A  1

B  2

C  1

F  3

P 0

P 0

P 0

        Embora o Item da Lista de Material mostre o item F aparecendo no nível 1, 2 é designado o LLC, i.e. o nível mais baixo onde este aparece, ou seja o nível 3, e assim também para o Item B que assume no nível 2, apesar de ter ligações no nível 1… e assim para todo e qualquer Item, seja este um Conjunto, um Subconjunto e mesmo um componente comprado.

    Esta forma de representar a Lista-de-Material é que foi disponibilizada pelo BOMP (Bill-Of-Material-Processor)/DBOMP no ínicio dos anos 60.

    A base atual de registro e representação da Lista-de-Material e demais componentes do ERP utiliza a tecnologia de banco-de-dados. Teremos que abordar este recurso tecnológico para, utilizando a mesma técnica de modelagem da Lista-de-Material e cálculo MRP adicionar funcionalidades que não os mudam em essência, mas temos que adicionar as capacidades de simulação e dimensionamento tanto do suprimento quanto da demanda.

    A essência já havia sido desvendada pelo pioneiro Orlicky. No excelente blog QUAD dedicado a ERP, há uma menção ao trabalho de Orlicky e a sua base MRP:

The fundamental questions that MRP systems set out to answer are still at the heart of manufacturing today, despite all the upheaval and hoopla that came with the lean revolution, the drive for supply chain visibility and the relentless need for speed. One basic concept that hasn’t changed is Orlicky’s assertion that a company should never try to forecast what it can calculate.

As questões fundamentais que os sistemas MRP se propuseram a responder ainda estão no centro da fabricação hoje, apesar de toda a agitação e comoção que veio com a revolução lean, o impulso para a visibilidade da cadeia de suprimentos e a necessidade implacável de velocidade. Um conceito básico que não mudou é a afirmação de Orlicky de que uma empresa nunca deve tentar prever aquilo que pode calcular.

Vale a pena mencionar aqui que a tal Revolução Lean também foi iniciada lá pelos anos 70, quando as técnicas japonesas eram exemplo de gestão.

    Temos ainda que abordar as questões de acesso a dados, em termos de segurança e velocidade, com que os bancos-de-dados facilitaram a construção do ERP. Mas não podemos nunca esquecer que estaremos explorando “modelos”; modelos computorizados de processos e negócios.

Até breve



quarta-feira, 23 de novembro de 2022

ERP+Br em diante

 Após dizer no último texto:

O que os sistemas ERP, (já então potencializados com recursos de tratamento de demanda-machine learning, análise bayesiana, redes neurais, etc….) tem a ver com esse fenômeno? Resposta: Antevendo comportamentos e viabilizando reações racionais. Então, mãos a obra i.e. desenhar, projetar, construir sistemas com tais potencialidades. Tudo made in Brasil.”

fica aqui a responsabilidade de, pelo menos, tentar contribuir de alguma forma para tal empreitada. Utilizo-me então da experiência, deixando todo espaço para a criatividade e a aplicação das novas técnicas de representação de dados e do aprendizado de máquina (i.e. machine learning).

A experiência passada de tentar simular as diversas situações de demanda “Antevendo comportamentos e viabilizando reações racionais” a qual dava-se o nome de what-if, era efetuada através do processamento do planejamento de produção, ou seja, rodando o MRP, exercitando a análise de ressuprimento valorizando produção e compras. Tal processo obrigava a uma “rodada” completa do planejamento, informando as demandas e suas variações, como se fossem reais. O que implicava na manipulação de arquivos e bases de dados não reais; ou seja, um trabalho demorado e complexo, pois exigia o controle dos diversos suportes (fitas e discos magnéticas).

Este simulacro de “what-if” não podia ser disponibilizado frequentemente pelo “cpd”- (nome que dava ao centro de processamento de dados) pois demandava tempo de processamento e mesmo de análise de ressuprimento por parte dos analistas de produção e suprimento.

Um pouco mais tarde, com a evolução tecnológica, principalmente por parte dos discos magnéticos e dos sistemas operacionais, ainda que não dispensando a análise das ações de suprimento, seja a avaliação da viabilidade de produção, seja da viabilidade de compras, já havia uma maior frequência do processamento de tal simulacro, i.e. do “what-if”.

Ocorre que tal simulacro somente respondia por ações de suprimento. Ações relativas a gestão da demanda (vendas, desenvolvimento de mercado, etc…), somente seriam feitas após reconhecer as disponibilidades e conveniências da cadeia de suprimento.

Uma nova estratégia é agora exigida, quando a velocidade de comunicação propiciada pelas interfaces fornecedores-produção-clientes, e novos arranjos negociais, implicam em consequente velocidade de resposta, et pour cause, da simulação, caso variações ultrapassem limites impostos por análises e resoluções prévias. Novas ferramentas de simulação e nova arquitetura de sistemas são agora exigidas no produto ERP.

A construção de uma base “espelho” é uma solução, registrando as ações de suprimento e demanda, processando nesta base então, as funções de análise e simulação de demanda combinando com as reações da cadeia de suprimento, tanto no que tange a sua viabilidade financeira e funcional. Esta é sinteticamente a capacidade “what-if” de se processar rapidamente o simulacro que irá dar a resposta:

Resposta: Antevendo comportamentos e viabilizando reações racionais. Então, mãos a obra i.e. desenhar, projetar, construir sistemas com tais potencialidades. Tudo made in Brasil.

Desenvolveremos posteriormente o texto que descreverá simplificadamente a estratégia de desenvolvimento, buscando explorar o quanto possível o estado-da-arte da tecnologia dos sistemas de gestão de base de dados e as técnicas de aplicação (Interação/Otimização) a partir de parâmetros e restrições (análise do espectro da demanda, análise de capacidade produtiva, análise de viabilidade funcional de abastecimento e análise de capacidade financeira e realimentação em busca do estado ótimo, aferido pelos parâmetros escolhidos).

    Vamos  adiante


terça-feira, 22 de novembro de 2022

ERP+Br


Como vimos nos textos anteriores (dias 17 e 18/11/22) relativos aos sistemas de planejamento e controle (MRP/MRP-II/ERP), respeitando a exiguidade deste espaço, e da minha própria exiguidade de conhecimento, tais sistemas têm, sinteticamente, a missão de adequar o processo produtivo e logístico da empresa à variação de demanda de seus produtos. Buscando assim a economia evitando desperdícios de recursos, seja de mão-de-obra, de energia, de materiais e financeiros.

A conclusão óbvia é que o ambiente de pleno emprego industrial é que irá gerar um comportamento de demanda crescente e economicamente útil. A conclusão que se desdobra desta primeira, é que apenas as nações industrialmente desenvolvidas terão o pleno benefício, ou benefícios, de demanda e de oportunidade de aplicação destes recursos sistêmicos de planejamento e controle. Podemos perceber a profusão de sistemas na era da expansão industrial do anos 60 e 70; tanto nos EUA, quanto na Europa e no Japão, com suas técnicas autóctones.

Não quer dizer que nos ambientes não tão desenvolvidos tais sistemas não tenham na sua aplicação a capacidade de economia de recursos. Mas o que se observa é que em um ambiente industrial com comportamento errático e exíguo da demanda, as funções de otimização acabam por não serem aplicadas; seja pela influência direta da reprogramação/postergação de pedidos dos clientes ou mesmo seus cancelamentos, e mesmo pela dificuldade e incapacidade de suprimento.

Observa-se então a orientação do desenvolvimento desdes sistemas na direção das funções relativas as interfaces funcionais; ou seja, aquelas concernentes a parte fiscal e econômica/financeira. Basta ver a crescente complexidade das funções de expedição/faturamento referentes a cálculo de impostos (incidência – descontos – variabilidade) e mesmo as referentes ao recebimento de insumos.

Incorporando-se então as facilidades da internet (B2B e B2C) nas interfaces fornecedores/clientes a capacidade de resposta a variações encadeia o comportamento errático a toda cadeia de suprimento. Com isso passam os recursos produtivos (mão-de-obra e estoques i.e. capital imobilizado) a terem importância superlativa na atenuação destas variações.

Vale a pela lembrar a época já mencionada do “milagre japonês” por volta dos anos 70, quando a filosofia do “zero inventory” (estoque zero) se disseminou mundo afora. Não poucas empresas foram desabastecidas por não perceberem que o estoque-zero se aplicava principalmente ao estoque de produtos intermediários ( conjuntos, sub-conjuntos e processo ) já que o Japão mantinha um alto grau de materiais de subsistência (grãos, petróleo, carvão, etc…) embarcados, pois não possuía nenhum desses em seu território. Na crise do petróleo de 1973 o Japão tinha contratado e embarcados estes insumos para mais de um ano de consumo, garantindo capacidade de fazer frente a demanda crescente de seus produtos industrializados. Tal crise elevou o petróleo de US$ 12 o barril para US$ 40 em cinco anos. Nem é preciso dizer dos desdobramentos percebidos nas economias ocidentais.

Aqui e quase todo o ocidente copiou as técnicas japonesas sem estarem prevenidos para este aumento de preço e a ruína de seus estoques reguladores de insumos básicos. Pouco adiantou a eficiência dos sistemas. Breve história, imediata conclusão: - Saber aplicar tais sistemas está diretamente ligado a capacidade de perceber o horizonte, mas não elimina a necessidade de dimensionar estoques e recursos. Material, mão-de-obra e capital têm de estar juntos e sincronizados para fazer frente as variações e crises; a escassez de qualquer um dos três desencadeará o processo de deteriorização.

O mesmo se aplica aos sistemas: - projetar, desenvolver e implantar tais sistemas (MRP, MRP-II, ERP, doravante mencionados apenas como ERP) tem de levar em conta, além do estado-da-arte da computação e seus custos, a ambiência econômica e também social, caso contrário passará a aplicação destes ser um estorvo; via de regra motivo de rejeição por parte dos seus usuários. Nos obriga então, no desenho e desenvolvimento de tais sistema tirar partido de técnicas de predição, não mais reproduzindo estatisticamente apenas o comportamento passado ( regressão, ajuste e suavização). Análises mais amplas com correlação de fatores externos, nos permitem a aplicação das técnicas de aprendizado (machine learning) para o dimensionamento de recursos.

Quando as empresas não tem capacidade de atenuar efeitos estocásticos da economia estas os propagam e expandem através da cadeia produtiva. O nome que se dá a tal fenômeno, crise. Um sinônimo ou sucedâneo de pandemia. Como se enfrenta então a crise? Não repassando, evitando a propagação. O maior agente de propagação que tem se observado ao longo das crises é o desemprego, pois não se criaram os “estoques” e atenuadores de mão-de-obra. Isto é explicado pela simultaneidade das taxas de desemprego com o excesso de liquidez. Nem será necessário o auxílio dos economistas para nos revelar que tal simultaneidade se deve a interdependência causal; elas se realimentam. Mas aqui fica uma pregunta: - O que os sistemas ERP, ( já então potencializados com recursos de tratamento de demanda -machine learning, análise bayesiana, redes neurais, etc...- tem a ver com esse fenômeno? Resposta: Antevendo + comportamentos e viabilizando + reações racionais.

Então, mãos a obra i.e. desenhar, projetar, construir sistemas com tais potencialidades. Tudo made in Brasil, ERP+Br

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

MRP/MRP-II/ERP - ambiente econômico

 MRP/MRP-II/ERP - ambiente econômico

A partir do artigo de ontem (17/11/22) achamos conveniente reafirmar a importância a ser dada ao conhecimento e o tratamento da demanda independente no contexto relativo aos sistemas MRP/MRP-II/ERP. Temos que considerar que a metodologia convencional de tratamento da demanda baseada nas técnicas estatísticas, seja nos comportamentos contínuos (gaussianos) ou multinomiais, estabelecem parâmetros que servirão a projeção futura, tanto para o estabelecimento da demanda ela mesma, quanto dos elementos lógicos referentes a estoques, a estoques-de-segurança, quanto a lotes de encomenda/fabricação. É conveniente lembrar que os métodos de quantificação destes elementos lógicos, que miram os fundamentos da economia (minimização do capital imobilizado e investido em inventário, seja de processo, seja de estoque) datam da década de 20 do século 20; ou seja há cem anos. O cálculo do EOQ (economic order quantity) data de 1913 e parte de simplificações incompatíveis com os tempos atuais:

1-Não limitar a disponibilidade de capital;

2-Um horizonte infinito de planejamento e programação

3-Um item do inventário com nenhuma dependência com outros itens, sejam conjuntos, subconjuntos, matéria-prima ou produto final

4-Um tempo de fornecimento/abastecimento constante e conhecido;

5-Uma taxa de procura contínua, constante e conhecida;

6-A satisfação de toda a procura;

7-Nenhum inventário em trânsito

Mesmo a empresa vendedora de ponta, que alcança o consumidor final da cadeia(ver 5), isto é, o comércio, terá dificuldades, em qualquer regime de comportamento econômico(ver 1), em dimensionar a demanda, tendo que se proteger das variações implícitas (qualquer que seja o regime ver 2), com estoques de segurança.

Quando se trata da indústria, seja a de transformação, de manufatura ou de processo básico sua demanda sofrerá os efeitos dos componentes econômicos, tecnológicos e sociais que tramitam em toda a cadeia de suprimento (supply-chain), sendo que só será possível enxergar com clareza apenas as demandas imediatamente pertinentes, ou seja, a demanda de seu mercado comprador, e mais imediatamente dos seus clientes. Implicando assim em componente de incerteza na sua demanda independente (suas vendas firmadas e potenciais); incerteza esta que se propagará a todo o seu processo produtivo, até a compra dos seus insumos (material, mão-de-obra, energia e consequente capital).

Diante desse desafio, do risco inerente ao capital aplicado, vimos que os sistemas MRP/MRP-II/ERP que nasceram na década de 60, em ambiente industrial desenvolvido , buscavam minimizar incerteza, consequentes riscos. Quando então, o ambiente econômico passou a se tornar cáustico para a atividade industrial, a aplicação dos ditos sistemas não foi suficiente para minimizar a propagação dos riscos para a cadeia imediatamente fornecedora; ou seja, material, mão-de-obra e energia. Daí a propagação da incerteza em direção a escassez. O primeiro insumo a ser afetado, a mão-de-obra, desencadeou o desemprego e que multiplicou o efeito nefasto de crise.

Os sistemas não são milagreiros, não são capazes de mudar o ambiente de escassez; portanto temos que buscar a industrialização, o desenvolvimento econômico, o pleno emprego e nos adiantarmos com o desenvolvimento científico, pois novas metodologias estarão ao nosso alcance através da aplicação das técnicas para análise de comportamento, de análise bayesiana da demanda, de machine-learning e de toda a capacidade de interação da cadeia de suprimento. Mas os MRP/MRP-II/ERP terão de acompanhar este progresso...E os profissionais do ramo mais ainda.


quinta-feira, 17 de novembro de 2022

MRP, MRP-II, ERP, uma história nova.

 MRP, MRP-II, ERP, uma história nova.

Tive a oportunidade de acompanhar, desde o inicio, a evolução dos sistemas, e da metodologia a eles relativa, relacionados a gestão da produção industrial, mais propriamente o MRP-II, que derivava da evolução do MRP , que era um mecanismo de derivação de demanda e cálculo de demanda líquida, após considerar estoques em mãos e ordens de suprimento em curso.

Tal sistema de derivação de demanda, partiu da sacada genial do engenheiro da IBM, Joseph Orlicky de, com base no processador (BOMP e DPOMB) da lista de material de um produto, representar as dependências lógicas de um determinado item componente dentre vários produtos, de forma a calcular a demanda líquida respeitando os diversos níveis precedentes. Ou seja, só calcula a demanda líquida após todos os diversos produtos, conjuntos, subconjuntos, onde se aplica este material (componente ou matéria-prima) apresentarem as suas demandas líquidas. Esta solução para o problema do cálculo da demanda líquida (MRP) em uma única rodada de processamento do planejamento de produção e de materiais se deu nos anos 60. Daí derivou-se para o MRP-II, que é a integração das outras funções relativas ao planejamento empresarial, seja de produção ou de compras. Depois desdobrou-se a solução para o que hoje denominamos ERP (Entreprise Requirements Planning).

Mas tal solução sempre partiu do conhecimento explícito da demanda independente, aquela que parte do conhecimento da necessidade de uso do produto final. Ou seja, da explicitação por parte do cliente de suas necessidades, sejam estas contratadas, ou não. Hoje, com o advento da internet, das transações efetuadas em rede (na nuvem), facilitando a transação entre empresas e das suas unidades fabris, da aplicação de robótica e do tratamento da demanda utilizando técnicas de machine-learning, e as mais recentes aquisições tecnológicas, pode-se afirmar que o conhecimento preciso ou oportuno da demanda é que continua sendo a base para a acertividade deste instrumento gerencial: o conhecimento mais preciso possível da demanda.

A precisão da demanda independente está diretamente ligada ao ambiente negocial, a demanda efetiva do mercado consumidor. O que me moveu então em visitar, após alguns anos, os diversos fornecedores de softwares ERP, para conhecer as novas facilidades e automatismos foi a nossa situação econômica e mesmo, no específico caso brasileiro, as implicações fiscais que se diferenciam dentre os diversos segmentos produtivos e as diferentes legislações estaduais que tratam de recolhimento de impostos e diferentes favores e renúncias fiscais.

Aqui cabe então uma questão: Sabendo que vivemos um processo de desendustrialização, de consequente enorme influência de importação de produtos industrializados; do enorme ( !!! ) valor da renúncia fiscal, que alcança por volta de 4% do PIB, inibindo o investimento público estimulador da industrialização, faço a mim mesmo a seguinte pergunta: - Terão as empresas brasileiras de desenvolvimento de software capacidade de oferecer soluções próprias baratas, de qualidade, que possam fazer frente a uma futura industrialização e a concorrência internacional?

Tal questionamento nos obriga rever os atuais custos e modalidades de negócio relativas aos produtos de software. Daí uma nova fase de desenvolvimento e de política de emprego dos recursos de produção, que ora “pjtizados”, terão de projetar carreiras estáveis em ambientes de desenvolvimento criativo com aprofundamento tecnológico, científico que viabilizem soluções próprias.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

Mariupol - Por Pepe Escobar e comentários

Novamente tomei a liberdade de trazer o artigo do Pepe Escobar, que publica aulas de geopolítica (de graça) que copio do Brazil247. Acho que a divulgação destes artigos auxilia a entender o jogo complexo da geopolítica onde, no mar das publicações absolutamente destorcidas da imprensa mainstream, vários componentes políticos, sociais, econômicos, militares se interagem, perfazendo uma trama que nem sempre é visível e compreensível por nos mortais imprensados entre o hegemon já decadente e amalucado e as novas e arejadas brisas que vêm do oriente; ou melhor da Eurásia.

A leitura deste artigo nos revela não apenas a complexa interação dos impulsos desenvolvimentistas e inovadores que se originam desde a China, a Russia, a Índia e o Paquistão (mérito do russo Sergei Lavrov), o Irã e os demais que estarão na rota inexorável, mas não tão admirável, Mundo  Novo. Haverá tropeços, desgastes, armadilhas, traições etc..pois o gigante que hoje se debate na convulsão do demorado fim, de tudo fará; ou melhor está fazendo, pouco importa que morram ucranianos, sírios, palestinos, latinos, africanos.

Há ainda uma questão que perguntaria ao articulista quando afirma:

Não haverá sentido em privilegiar os corredores setentrionais da ICR – China-Mongolia-Russia via Transiberiana e a ponte terrestre via Cazaquistão – no momento em que a Europa descamba para uma demência medieval.

Esta questão trago quando observo a influência da Turquia neste cenário e a ligação do petróleo do Mar Cáspio ao Mar Negro, enfatizando aqui a influência de Baku sobre Istambul e vice-versa. 

De qualquer modo várias questões emergirão da leitura deste excelente artigo de Pepe Escobar. Desejo então uma boa aventura neste teto.

 Por Pepe Escobar, para o The Cradle.co, 

Tradução de Patricia Zimbres para o 247

Mariupol, o porto estratégico do Mar de Azov, continua no olho da tempestade na Ucrânia. 

 Segundo a narrativa da OTAN, a Azovstal – uma das maiores usinas metalúrgicas e siderúrgicas da Europa, foi praticamente destruída pelo Exército Russo e pelas as forças aliadas de Donetsk que "sitiaram" Mariupol.

A história verdadeira é que, desde o início da operação militar russa na Ucrânia, os neonazistas do Batalhão Azov vinham usando como escudos humanos dezenas de civis de Mariupol para depois recuarem para o Azovstal, usado como último ponto de resistência. Após um ultimato proferido na semana passada, eles agora vêm sendo totalmente exterminados pelas forças da Rússia e de Donetsk e pela Spetsnaz chechena.

Azovstal, parte do grupo Metinvest controlado pelo oligarca mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, é de fato uma das maiores usinas metalúrgicas da Europa, que descreve a si própria como um empreendimento metalúrgico integrado e de alto desempenho produzindo coque, sedimento calcário, aço, bem como outros produtos como rolamentos, barras e moldes".

Em meio a uma tempestade de depoimentos detalhando os horrores infligidos pelos neonazistas do Azov sobre a população civil de Mariupol, uma outra história invisível e bem mais auspiciosa traz bons augúrios para o futuro imediato.

A Rússia é a quinta maior produtora de aço, além de possuir imensos depósitos de ferro e carvão. Mariupol – uma Meca siderúrgica – antes obtinha seu aço de Donbass, mas a partir dos eventos de 2014 em Maidan, que levaram a um domínio neonazista de fato, a cidade tornou-se importadora. O ferro, por exemplo, passou a ser fornecido por Krivbas, na Ucrânia, distante mais de 200 quilômetros de Mariupol.

Depois de Donetsk se solidificar como república independente ou, por meio de um referendo, optar por se tornar parte da Federação Russa, essa situação fatalmente será alterada.

Azovstal investe na produção de uma grande variedade de produtos extremamente úteis: aço estrutural, trilhos de estradas de ferro, aço reforçado para correntes, equipamento de mineração, rolamentos para máquinas industriais, caminhões e vagões ferroviários. Parte das instalações da fábrica são bem modernas, enquanto outras, construídas há décadas, necessitam urgentemente de serem modernizadas, o que a indústria russa é perfeitamente capaz de fazer.

Em termos estratégicos, o complexo é enorme, situado nas proximidades do Mar de Azov, que hoje, para todos os fins práticos, foi incorporado à República Popular de Donetsk, e próximo ao Mar Negro. O que significa uma curta viagem até o Leste do Mediterrâneo e inclui muitos clientes potenciais do Oeste Asiático. E, cruzando o Suez e chegando até o Oceano Índico, há clientes de toda a Ásia do Sul e do Sudeste Asiático.

A República Popular de Donetsk, portanto, possivelmente parte de uma futura Novorossiya ou mesmo parte da Rússia, estará no controle de muita capacidade de manufatura siderúrgica para o Sul da Europa, o Oeste Asiático, podendo chegar até ainda mais longe.

Uma das consequências inevitáveis será sua capacidade de fornecer produtos para um verdadeiro boom de construção ferroviária na Rússia, China e nos "istãos" da Ásia Central. A construção de ferrovias é o modo de conectividade privilegiado por Pequim para a ambiciosa Iniciativa Cinturão e Rota (ICR). E o que é ainda mais importante, também para o cada vez mais turbinado Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul (CITNS).

Situada a meio caminho, portanto, Mariupol pode esperar vir a se converter em um dos principais nós de um boom das rotas norte-sul – o CITNS através da Rússia e suas conexões com os "istãos" - bem como grandes modernizações nos corredores leste-oeste da ICR e nos corredores sub-ICR.

A Eurásia Interligada

Os principais atores do CITNS são Rússia, Irã e Índia que agora, na etapa pós-sanções da OTAN, estão em modo avançado de interconexão, inclusive com a formulação de mecanismos visando contornar o dólar americano em seu comércio internacional. O Azerbaijão é um outro ator importante no CITNS, embora mais volátil em razão de privilegiar os planos turcos de conectividade no Cáucaso.

A rede do CITNS, além disso, irá gradativamente se ligar ao Paquistão - o que significa o Corredor Econômico China-Paquistão (CECP), um nó importante da ICR, que, de forma lenta mas segura, vai se expandindo em direção ao Afeganistão. A visita não-programada do Chanceler Wang Yi a Cabul, na semana passada, teve como objetivo fazer avançar a incorporação do Afeganistão às Novas Rotas da Seda.

Tudo isso ocorre enquanto Moscou - extremamente próxima a Nova Delhi - vem, simultaneamente, expandindo suas relações comerciais com Islamabad. Os três países, o que é crucial, são membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCX).

O grande desenho Norte-Sul, portanto, indica uma conectividade fluente do grande interior russo até o Cáucaso (Azerbaijão) e Oeste Asiático (Irã), chegando até o Sul da Ásia (índia e Paquistão). Nenhum desses atores importantes em algum momento demonizou ou aplicou sanções à Rússia, apesar das atuais pressões nesse sentido por parte dos Estados Unidos.

Estrategicamente, isso representa o acionamento do conceito russo de multipolaridade da Parceria da Grande Eurásia em termos de comércio e conectividade – paralelamente e complementando a ICR, uma vez que a Índia, ansiosa por instalar um mecanismo rúpia-rublo para compra de energia, neste caso é um parceiro absolutamente essencial para a Rússia, do mesmo nível de importância do acordo estratégico de 400 bilhões de dólares entre a China e o Irã. Na prática, a Parceria da Grande Eurásia irá facilitar uma conectividade mais desimpedida entre Rússia, Irã, Paquistão e Índia.

O universo OTAN, enquanto isso, é congenitamente incapaz de reconhecer a complexidade desse alinhamento e muito menos de analisar suas implicações. O que temos aqui é o entrelaçamento da ICR, do CITNS e da Parceria da Grande Eurásia na prática - noções essas que são, todas elas, vistas como anátema pelo Beltway de Washington.

Tudo isso, é claro, vem sendo formulado em meio a um momento geoeconômico que representa uma total virada de jogo, na medida que a Rússia, a começar desta quinta-feira, passará a só aceitar de nações "inamistosas" pagamentos em rublos por seu petróleo.

Paralelamente à Parceria da Grande Eurásia, a ICR, desde seu lançamento em 2013, também vem progressivamente tecendo uma rede complexa e integrada de parcerias eurasianas: nas áreas financeiro/econômicas, de conectividade, de construção de infraestrutura física e de corredores econômicos e comerciais. O papel da ICR como co-formuladora de instituições de governança global, incluindo suas bases normativas, vem tendo também importância crucial, para o desespero da aliança da OTAN.

Hora de desocidentalizar

Mas só agora o Sul Global, especialmente, irá começar a perceber a total amplitude do jogo China-Rússia na esfera eurasiana. Moscou e Pequim estão profundamente envolvidas na empreitada conjunta de desocidentalizar a governança globalista, se é que não em eliminá-la por completo.

A Rússia, de agora em diante, será ainda mais meticulosa em sua construção de instituições, unindo a União Econômica Eurasiana (UEE), a OCX e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) – uma aliança militar eurasiana de estados pós-soviéticos selecionados - em um contexto geopolítico de irreversível divisão institucional e normativa entre a Rússia e o Ocidente.

Ao mesmo tempo, a Parceria da Grande Eurásia solidificará a Rússia como a principal ponte eurasiana, criando um espaço eurasiano capaz de ignorar a Europa vassalizada.

Enquanto isso, na vida real, a ICR, tanto quanto o CITNS, estarão cada vez mais plugados ao Mar Negro (alô, Mariupol). E a própria ICR talvez tenda a reavaliar sua ênfase na ligação da China Ocidental à base industrial cada vez mais precária da Europa Ocidental.

Não haverá sentido em privilegiar os corredores setentrionais da ICR – China-Mongolia-Russia via Transiberiana e a ponte terrestre via Cazaquistão – no momento em que a Europa descamba para uma demência medieval,

O novo foco da ICR será obter acesso às commodities insubstituíveis – e isso significa Rússia – e também assegurar o abastecimento adequado da indústria chinesa. Os países ricos em commodities, como o Cazaquistão e muitos dos atores africanos, irão se converter nos grandes mercados do futuro comércio internacional chinês.

Em um giro pré-covid pela Ásia Central, era comum ouvir que a China constrói fábricas e ferrovias, enquanto a Europa, na melhor das hipóteses, redige documentos. E pode piorar ainda mais.

A União Europeia como território ocupado pelos Estados Unidos está desmoronando aceleradamente, passando de um centro do poder global à condição de um ator periférico sem a menor importância, um mero mercado decadente na periferia longínqua da "comunidade de destino compartilhado" criada pela China.



domingo, 27 de março de 2022

 Tornem o nazismo novamente grande - Pepe Escobar

O alvo supremo é a mudança de regime na Rússia. A Ucrânia é apenas um peão nesse jogo - ou pior ainda, bucha de canhão

25 de março de 2022, 17:59 

www.brasil247.com - REUTERS/Serhii Nuzhnenko, REUTERS/Serhii Nuzhnenko 

Todos os olhos se voltam para Mariupol. Desde quarta-feira à noite, mais de 70% das áreas residenciais estavam sob o controle das forças de Donetsk e da Rússia. Ao mesmo tempo, os fuzileiros navais russos, o 107º batalhão de Donetsk e a Spetsnaz chechena, liderados pelo carismático Adam Delimkhanov, entraram na usina de Azov-Stal – o QG do batalhão Azov neonazista. 

Azov recebeu um ultimato final: rendam-se até a meia-noite - senão... sugerindo uma estrada para o inferno sem tomada de prisioneiros. 

Enquanto isso, ecos do Império de Mentiras praticamente entregaram o jogo. Ninguém em Washington tem a mínima intenção de facilitar um plano de paz para a Ucrânia - o que explica as incessantes táticas de procrastinação do comediante Zelensky. O alvo supremo é a mudança de regime na Rússia e, para tal, uma Totalen Krieg contra a Rússia e contra todas as coisas russas  é dada como certa. A Ucrânia é apenas um peão nesse jogo - ou pior ainda, bucha de canhão.

Isso também significa que as 14 mil mortes ocorridas no Donbass nos últimos oito anos devem ser atribuídas diretamente aos Excepcionalistas. Quanto aos neonazistas ucranianos de todos os matizes, eles são tão descartáveis quanto os "rebeldes moderados" da Síria, tanto os da al-Qaeda quanto os ligados ao Daesh. Os que porventura venham a sobreviver sempre poderão se juntar à recém-criada NeoNazi S.A. patrocinada pela CIA, uma remixagem vagabunda da Jihad S.A. da década de 1980, no Afeganistão. Eles serão devidamente "Kalibrados".

Uma breve recapitulação do neonazismo 

A essas alturas, apenas os OTANistaneses acometidos de morte cerebral - e há hordas deles - não têm conhecimento do que ocorreu em Maidan em 2014. No entanto, poucos sabem que foi o então Ministro do Interior da Ucrânia, antes governador de Kharkov, que deu sinal verde para que uma turma de 12 mil paramilitares se materializasse a partir da Sect 82, a violenta torcida  organizada do Dynamo Kiev. Nasceu aí o Batalhão Azov, em maio de 2014, sob a liderança de Andriy Biletsky, também conhecido como o Fuhrer Branco, e antigo líder da gangue neonazista Patriotas da Ucrânia.

Juntamente com o agente secreto da OTAN Dmitro Yarosh, Biletsky fundou o Pravy Sektor, financiado pelo chefão da máfia ucraniana e bilionário judeu Ihor Kolomoysky (que mais tarde apadrinharia a meta-conversão de Zelensky de comediante medíocre a presidente medíocre).

O Pravy Sektor, por acaso, era ferozmente anti-União Europeia – digam isso a Ursula von der Leyen – e sua obsessão política era ligar a Europa Central e os Países Bálticos em um novo e cafonérrimo Intermarium. É importante observar que o Pravy Sektor e outras gangues nazistas foram devidamente treinados por instrutores da OTAN.

Biletsky e Yarosh, é claro, são discípulos do notório colaboracionista e partidário do nazismo do tempo da Segunda Guerra, Stepan Bandera, para quem os ucranianos puros são proto-germânicos ou escandinavos, enquanto os eslavos são untermenschen, ou sub-humanos.

O Azov acabou por absorver a quase totalidade dos grupos neonazistas da Ucrânia, que foram mandados para lutar  contra o Donbass – onde seus acólitos ganhavam mais dinheiro que os soldados regulares. Biletsky e um outro líder neonazista, Oleh Petrenko, foram eleitos para a Rada. O Führer Branco ficou sozinho. Petrenko decidiu apoiar o então presidente Poroshenko. Não demorou para que o Batalhão Azov fosse incorporado como o Regimento Azov da Guarda Nacional da Ucrânia. 

Eles partiram em uma empreitada de recrutamento de mercenários estrangeiros e trouxeram gente da Europa Ocidental, da Escandinávia e até mesmo da América do Sul. 

O que era estritamente proibido pelos Acordos de Minsk garantidos pela França e pela Alemanha (e agora oficialmente enterrados). O Azov montou um campo de treinamento para adolescentes que logo chegou a 10 mil integrantes. Erik "Blackwater" Prince, em 2020, firmou um acordo com as forças armadas ucranianas que permitiam que seu grupo, agora com o novo nome de Academi, supervisionasse o Azov. 

Foi ninguém menos que a sinistra distribuidora de biscoitos em Maidan, "F*da-se a UE" Nuland que sugeriu a Zelensky – ambos, por sinal judeus ucranianos - que nomeasse o nazista Yarosh como consultor do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Ucranianas, o General Valerii Zaluzhnyi. O alvo: organizar uma blitzkrieg contra Donbass e a Crimeia – a mesma blitzkrieg que a SVR, o serviço de inteligência estrangeira russo, concluiu que seria desencadeada em 22 de fevereiro, motivando assim o lançamento da operação Z.

Tudo o que foi dito acima, que na verdade não passa de uma breve recapitulação, mostra que na Ucrânia não há a menor diferença entre os neonazistas brancos e os terroristas da al-Qaeda/ISIS/Daesh de pele escura, da mesma forma que os neonazistas são tão "cristãos" quanto os jihadis takfiri salafistas são "muçulmanos".

Quando Putin denunciou que "um bando de neonazistas" estava no poder em Kiev, o comediante respondeu que isso era impossível porque ele era judeu. Bobagem. Zelensky e seu patrono Kolomoysky, para todos os fins práticos, são sio-nazistas.

Mesmo que setores do governo dos Estados Unidos tenham admitido que havia neonazistas entrincheirados no aparato de Kiev, a máquina excepcionalista fez simplesmente desaparecer os oito anos de bombardeios diários de Donbass. Essas milhares de vítimas civis jamais existiram.

A mídia comercial dos Estados Unidos chegou até mesmo a arriscar uma ou outra matéria ou notícia sobre o Azov e os neonazistas de Aidar. Mas então uma narrativa neo-orwelliana foi gravada em pedra: não há nazistas na Ucrânia. O NED, filhote da CIA, chegou mesmo a deletar registros sobre o treinamento de integrantes do Aidar. Em data recente, uma rede de notícias vagabunda promoveu um vídeo de um comandante do Azov treinado pela OTAN e usado para fins de combate - com iconografia nazista e tudo o mais.

Por que a "desnazificação" faz sentido 

A ideologia do Banderastão remonta aos tempos em que essa parte da Ucrânia era de fato controlada pelo Império Austro-Húngaro, pelo Império Russo e pela Polônia. Stepan Bandera nasceu na Áustria-Hungria em 1909, próximo a Ivano-Frankovsk, no então autônomo Reino da Galícia. 

A Segunda Guerra Mundial desmembrou os impérios europeus em pequenas entidades muitas vezes inviáveis. No Oeste da Ucrânia - uma intersecção imperial - esse desmembramento, como não poderia deixar de ser, levou à proliferação de ideologias de extrema intolerância. 

Os ideólogos do Banderastão se aproveitaram da chegada dos nazistas, em 1941, para  proclamarem um território independente. Mas Berlim não apenas bloqueou essa decisão como também os mandou para campos de concentração. Em 1944, entretanto, os nazistas mudaram de tática: eles libertaram os bandeiranistas e os manipularam, instilando neles ódio aos russos, criando assim uma força de desestabilização na Ucrânia pertencente à URSS. 

O nazismo, portanto, não é exatamente a mesma coisa que o fanatismo banderanista: trata-se, na verdade, de ideologias rivais. O que aconteceu desde Maidan é que a CIA manteve um agudo foco na incitação do ódio aos russos em meio a quaisquer grupos periféricos que ela conseguisse instrumentalizar. Na Ucrânia, portanto, não se trata de um caso de "nacionalismo branco" – para usarmos termos brandos – mas de nacionalismo ucraniano anti-russo, para todos os fins práticos expressos em saudações e simbologia de estilo nazista.

Portanto, quando Putin e as lideranças russas falam de nazismo ucraniano, eles talvez não estejam sendo 100% corretos em termos conceituais, mas o fato é que esse termo cala fundo em todos os russos. 

Os russos rejeitam o nazismo visceralmente - considerando que praticamente todas as famílias russas tiveram pelo menos um antepassado morto na Grande Guerra Patriótica. Da perspectiva da psicologia de tempos de guerra, faz total sentido falar de "ucro-nazismo" ou, mais especificamente, de uma campanha de "desnazificação". 

Os anglos amavam tanto os nazistas 

O fato de o governo dos Estados Unidos torcer abertamente pelos neonazistas da Ucrânia não é propriamente uma novidade, tendo em vista seu apoio, juntamente com o da Inglaterra, a Hitler em 1933, por razões de equilíbrio de poder.

Em 1933, Roosevelt emprestou a Hitler um bilhão de dólares-ouro, enquanto a Inglaterra emprestava a ele dois bilhões na mesma moeda. Isso deve ser multiplicado por 200 para se chegar ao valor do dólar de hoje. Os anglo-americanos queriam erigir a Alemanha como uma muralha contra a Rússia. Em 1941, Roosevelt escreveu a Hitler que se ele invadisse a Rússia os Estados Unidos ficariam do lado da Rússia, e escreveu a Stalin que se ele invadisse a Alemanha os Estados Unidos apoiariam a Alemanha. Não pode haver ilustração mais gráfica do equilíbrio do poder à la McKinder.

Os britânicos estavam muito preocupados com a ascensão do poder russo sob Stalin e percebiam também que a Alemanha estava de joelhos, com um desemprego de 50% em 1933, caso fossem incluídos os alemães itinerantes não-fichados. 

Até mesmo Lloyd George tinha dúvidas quanto ao Tratado de Versalhes, que enfraqueceu a Alemanha a um nível insuportável depois da rendição na Primeira Guerra. O propósito da Primeira Guerra, na visão de mundo de Lloyd George, era destruir tanto a Rússia quanto a Alemanha. A Alemanha ameaçava a Inglaterra com a construção, pelo Kaiser, de um frota destinada a dominar os mares, enquanto o Tzar ficava perto demais da Índia, situação desconfortável para a Inglaterra.  Por algum tempo, Britânia ganhou - e continuou a reinar sobre as ondas. 

Então, fortalecer a Alemanha para combater a Rússia se tornou a prioridade número um – com toda uma reescrita da História. A união dos alemães austríacos e dos sudetos à Alemanha teve a total aprovação dos britânicos. 

Mas então veio o problema polonês. Quando a Alemanha invadiu a Polônia, França e Inglaterra se colocaram à margem. Essa invasão levou a Alemanha às fronteiras da Rússia, e Alemanha e Rússia dividiram a Polônia. Isso era exatamente o que a Grã-Bretanha e a França queriam. Grã-Bretanha e França haviam prometido à Polônia que elas invadiriam a Alemanha a partir do oeste enquanto a Polônia lutaria contra a Alemanha no leste.

Ao final, os poloneses foram traídos. Churchill chegou a louvar a Rússia por invadir a Polônia. Hitler foi avisado pelo MI6, o serviço secreto britânico, que a Inglaterra e a França não invadiriam a Polônia - como parte de seu plano para uma guerra teuto-russa. Desde a década de 1920, Hitler vinha recebendo apoio financeiro do MI6, em agradecimento a suas palavras simpáticas à Inglaterra em Mein Kampf. O MI6 de fato incentivou Hitler a invadir a Rússia.

Avançamos para 2022, e aqui estamos de novo - como em uma farsa, com os anglo-americanos "incentivam" a Alemanha, sob o comando do fraco Scholz, a se reequipar militarmente com um investimento de 100 bilhões de euros (que os alemães não têm), e constroem a tese de uma força europeia renovada para, mais adiante, ir à guerra contra a Rússia.  

Dica sobre a histeria russofóbica da mídia anglo-americana quanto à parceria estratégica russo-chinesa. O medo mortal, para os anglo-americanos, é um combinado de Mackinder/Mahan/Spykman/Kissinger/

Brzezinski: a Rússia-China, como par de gêmeos, ocupando as massas terrestres eurasianas – a Iniciativa Cinturão e Rota se encontrando com a Grande Parceria da Grande Eurásia – para assim reinar sobre o planeta, com os Estados Unidos relegados a um insignificante status insular, tanto quanto a  antiga  "Rule Britannia". Inglaterra, França e, mais tarde, os americanos, conseguiram evitar essa situação quando a Alemanha aspirava a esse mesmo controle sobre a Eurásia, lado a lado com o Japão, do Canal da Mancha ao Pacífico. Hoje o jogo é totalmente outro.

A Ucrânia, portanto, com suas patéticas gangues neonazistas, é apenas um peão descartável no esforço desesperado de conter algo que está para além do anátema, da perspectiva de Washington: uma Nova Rota  da Seda Teuto-Russo-Chinesa totalmente pacífica.

A russofobia, gravada maciçamente no DNA do Ocidente, na verdade nunca acabou. Cultivada pelos britânicos desde Catarina a Grande - e depois com o Grande Jogo. Pelos franceses, desde Napoleão. Pelos alemães porque foi o Exército Vermelho que liberou Berlim. Pelos americanos, porque Stalin forçou sobre eles o novo mapa da Europa - e então a russofobia continuou durante toda a Guerra Fria. 

Estamos apenas nos estágios preliminares da grande arrancada final do Império moribundo tentando estancar o fluxo da história. Eles estão perdendo em termos estratégicos e em termos militares para a maior potência militar do mundo, e irão sofrer um cheque-mate. Em termos existenciais, eles não estão equipados para matar o Urso - e isso dói. Cosmicamente.

sábado, 19 de março de 2022

Guerra da Ucrânia – a conjuntura e o sistema - José Luis Fiori

 Tomei a liberdade de copiar o artigo do Prof. José Luis Fiori,  transcrito do Brasil247,((Publicado no site A Terra é Redonda). Para me justificar devo dizer do desconforto de ler o original do Brasil247 intercalado de anúncios (reclames como diziam meus antepassados) e que dificultam a leitura. Desta forma resolvi colaborar com meus amigos apresentando-o integralmente sem estes desconfortos, mas que são necessários a sobrevivência do Brasil247. Sou um seguidor e admirador, pra não dizer "fanzoca", do Professor Fiori e venho lendo seus artigos e seus livros que descortinam a realidade de forma lúcida, e desapaixonada (como consegue?) dos conflitos mais recentes. 

Quiz apresentar a minha interpretação do texto, mas percebi que, pouco ou nada, poderia contribuir para reflexão. Basta a sua leitura e consequente amadurecimento das ideias. Boa leitura.

José Luís Fiori

Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ. Autor, entre outros livros, de Sobre a Guerra (Vozes, 2018)

Guerra da Ucrânia – a conjuntura e o sistema

"O projeto cosmopolita, pacifista e humanitário da década de 1990 foi atropelado pelo poder americano", escreve José Luís Fiori

18 de março de 2022..

Por José Luís Fiori

(Publicado no site A Terra é Redonda)

Através da história, duas coisas foram ficando mais claras: em primeiro lugar, as guerras aumentam os laços de integração e dependência entre os grandes poderes territoriais deste sistema que nasceu na Europa a partir do séculos XIII e XIV; em segundo lugar, os poderes expansivos no “jogo das guerras” não podem destruir seus concorrentes/adversários, ou então são obrigados a recriálos…E este talvez seja o maior segredo deste sistema: o próprio “poder expansivo” é quem cria ou inventa – em última instancia – os seus competidores e adversários, indispensáveis para a sua própria acumulação de poder”. (José Luís Fiori. “Formação, expansão e limites do poder global”, em O poder americano, Ed. Vozes).

. É muito comum falar da aceleração do tempo histórico, apesar de que ninguém saiba exatamente o que isto significa, ou por que isto acontece. Todos reconhecem, no entanto, que são momentos em que fatos e decisões importantes se concentram e se precipitam, alterando significativamente o rumo da história. E hoje existe um grande consenso de que aconteceu algo desse tipo na virada dos anos 1990, provocando uma mudança radical no panorama geopolítico mundial na última década do século XX.

Tudo começou de forma surpreendente, na madrugada de 9 para 10 de novembro de 1989, quando foram abertos os portões e derrubado o muro que dividia a cidade de Berlim, separando o “Ocidente liberal” do “Leste comunista”. O mais importante, entretanto, ocorreu logo depois, com o processo em cadeia de mudança dos regimes socialistas da Europa Central e Oriental, que levou à dissolução do Pacto de Varsóvia e à reunificação da Alemanha, no dia 3 de novembro de 1990, culminando com a dissolução da União Soviética e o fim da Guerra Fria, em 1991.

Naquele momento, muitos comemoraram a vitória definitiva (que depois não se confirmou) da “liberal-democracia” e da “economia de mercado” contra seus grandes adversários e concorrentes do século XX: o “nacionalismo”, o “fascismo” e, finalmente, o “comunismo”. No entanto, o que de fato se concretizou naquela virada da História foi um velho sonho ou projeto quase utópico dos filósofos e juristas dos séculos XVIII e XIX, e dos teóricos internacionais do século XX: o aparecimento de um poder político global, quase monopólico, que fosse capaz de impor e tutelar uma ordem mundial pacífica e orientada pelos valores da “civilização ocidental”. Uma tese que pôde finalmente ser testada depois da vitória avassaladora dos Estados Unidos na Guerra do Golfo, em 1991.

Trinta anos depois, entretanto, o panorama mundial mudou radicalmente. Em primeiro lugar, os Estados e as “grandes potências”, com suas fronteiras e interesses nacionais, voltaram ao epicentro do sistema mundial, e a velha “geopolítica das nações” voltou a funcionar como bússola do sistema interestatal; o “protecionismo econômico” voltou a ser praticado pelas grandes potências; e os grandes “objetivos humanitários” dos anos 1990, e o próprio ideal da globalização econômica, foram relegados a um segundo plano da agenda internacional. Mais do que isto, o fantasma do “nacionalismo de direita” e do “fascismo” voltou a assombrar o mundo, e o que é mais surpreendente, penetrou a sociedade e o sistema político norte-americano, culminando com a vitória da extrema-direita nas eleições presidenciais americanas de 2017.

Nesses trinta anos, o mundo assistiu à vertiginosa ascensão econômica da China, à reconstrução do poder militar da Rússia e ao declínio do poder global da União Europeia (UE). Mas o mais surpreendente talvez tenha sido a forma como os próprios Estados Unidos passaram a desconhecer, atacar ou destruir as instituições globais responsáveis pela gestão da ordem liberal internacional instaurada nos anos 90, sob sua própria tutela, desde o momento em que declararam guerra contra o Afeganistão, em 2001, e contra o Iraque, em 2003, à margem – ou explicitamente contra – da posição do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Por último, e talvez o mais intrigante, é que a potência unipolar desse novo sistema, que seria teoricamente a responsável pela tutela da paz mundial, esteve em guerra durante quase todas as três décadas posteriores ao fim da Guerra Fria. Começando imediatamente pela Guerra do Golfo, em 1991, quando as Forças Armadas americanas apresentaram ao mundo suas novas tecnologias bélicas e sua “nova forma de fazer guerra”, com o uso intensivo de armamentos operados à distância, o que lhes permitiu uma vitória imediata e arrasadora, com um mínimo de perdas e um máximo de destruição de seus adversários. Foram 42 dias de ataques aéreos contínuos, seguidos por uma invasão terrestre rápida e contundente, com cerca de 4 mil baixas americanas e cerca de 650 mil mortos iraquianos. Uma demonstração de força que deixou claro ao mundo a diferença de forças que havia dentro do sistema internacional depois do fim da União Soviética.

Depois disso, os Estados Unidos fizeram 48 intervenções militares na década de 1990 e se envolveram em várias guerras “sem fim”, de forma contínua, durante as duas primeiras décadas do século XXI. Nesse período, os norte-americanos fizeram 24 intervenções militares ao redor do mundo e realizaram 100 mil bombardeios aéreos, e só no ano de 2016, ainda durante o governo de Barack Obama, lançaram 26.171 bombas sobre sete países. simultaneamente.[1] Encerrou-se assim, definitivamente, a expectativa dos séculos XVIII, XIX e XX, de que um “superestado” ou uma “potência hegemônica” conseguiria finalmente assegurar uma paz duradoura dentro do sistema interestatal criado pela Paz de Westfália de 1648. Ou seja, no período em que a humanidade teria estado mais próxima de uma “paz perpétua”, tutelada por uma única “potência global”, o que se assistiu foi uma sucessão quase contínua de guerras envolvendo a própria potência dominante (Fiori, 2008).

São números que não deixam dúvidas com relação ao fato de que o projeto cosmopolita, pacifista e humanitário da década de 1990 foi atropelado pelo próprio poder americano. Uma constatação extraordinariamente intrigante, em particular se tivermos em conta que não se tratou de um acidente de percurso, ou apenas de uma reação defensiva datada. Pelo contrário, tudo aponta para o desdobramento de uma tendência central que foi se desvelando através de uma sucessão de guerras, fossem elas defensivas, humanitárias, de combate ao terrorismo, ou simplesmente de preservação das posições de poder das grandes potências dentro do sistema internacional.

A análise dessas guerras que precederam e explicam em parte a atual Guerra da Ucrânia, somadas às guerras do século XX, permite-nos extrair algumas conclusões ou hipóteses que transcendem esta conjuntura, projetando-se sobre a história de longo prazo da guerra e da paz através da evolução das sociedades humanas. Em primeiro lugar, a grande maioria das guerras não tem como objetivo a obtenção da paz ou da justiça, nem leva necessariamente à paz. Elas buscam sobretudo a vitória e submissão ou “conversão” dos adversários, e a expansão do poder dos vitoriosos.

A “paz” não é sinônimo de “ordem”, e a existência de uma “ordem internacional” não assegura a paz. Basta ver o que aconteceu nos últimos 30 anos, com a “ordem liberal-cosmopolita” que foi tutelada pelos Estados Unidos depois do fim da Guerra Fria, e que se transformou num dos períodos mais violentos da história norte-americana. Como já havia acontecido, também, com a “ordem internacional” que nasceu depois da Paz de Westfália, período em que a Grã-Bretanha, sozinha, iniciou uma nova guerra a cada três anos, entre 1652 e 1919, mesma periodicidade que teriam as guerras norte-americanas, entre 1783 e 1945 (Holmes, 2001).

Dentro do sistema interestatal, a “potência dominante”, mesmo depois de conquistar a condição de um “superestado”, segue se expandindo e fazendo guerras, e necessita fazê-lo para poder preservar sua posição monopólica já adquirida. O envolvimento dos EUA, por isso mesmo, a “potência dominante”, não tem compromisso obrigatório com o status quo que eles tutelam e ajudaram a criar. E, muitas vezes, eles são obrigados a modificar ou destruir esse status quo, uma vez que suas regras e instituições comecem a obstruir o caminho de expansão do seu poder (Fiori, 2008).

A paz é quase sempre um período de “trégua”[2] que dura o tempo imposto pela “compulsão expansiva” dos ganhadores, e pela necessidade de “revanche” dos derrotados. Esse tempo pode ser mais ou menos longo, mas não interrompe o processo de preparação de novas guerras, seja da parte dos vitoriosos,[3] seja da parte dos derrotados.[4] Por isso se pode dizer, metaforicamente, que toda paz está sempre “grávida” de uma nova guerra.

Em todo tempo e lugar, a guerra aparece associada de forma indisfarçável com a existência de hierarquias e desigualdades, ou mais exatamente, com a existência do “poder” e da “luta pelo poder”.

Se essas hipóteses não forem refutadas, poderíamos concluir que o projeto kantiano da “paz perpétua” não é apenas uma grande utopia; é de fato um “círculo quadrado”, ou seja, uma impossibilidade absoluta. Apesar disso, a “paz” se mantém como um desejo de todos os homens, e aparece no plano da sua consciência individual e social, como uma obrigação moral, um imperativo político e uma utopia ética quase universal. Nesse plano, a guerra e a paz devem ser vistas e analisadas como dimensões inseparáveis de um mesmo processo contraditório, perene e agônico de anseio e busca dos homens por uma transcendência moral muito difícil de ser alcançada.[5]

Referências

ABBÉ DE SAINT PIERRE. Projeto para tornar perpétua a paz na Europa. Brasília: Editora UnB, 2003.

BOBBIO, N. O problema da guerra e das vias da paz. São Paulo: Editora Unesp, 2002.

FIORI, J. L. “O sistema interestatal capitalista na primeira década do século XXI”. In: FIORI, J. L. et al. O mito do colapso do poder americano. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.

HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Victor Civita, 1983 (Coleção Pensadores).

HOLMES, R. (Edit) The Oxford companion to military history, Oxford University Press, 2001

Notas

[1] Segundo dados apresentados por Micah Zenko, especialista em política externa norte-americana, publicados no site oficial do Council of Foreign Relations (www.cfr.org).

[2] “[…] a paz é apenas uma longa trégua, obtida por meio de um estado de crescente, persistente e progressiva tensão” (Bobbio, 2002, p. 73).

[3] “Porque tal como a natureza do mau tempo não consiste em dois ou três chuviscos, mas numa tendência para chover que dura vários dias seguidos, assim também a natureza da guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal, durante todo o tempo em que não há garantia do contrário. Todo o tempo restante é de paz” (Hobbes, 1983, p. 76).

[4] “O desejo de se ressarcir de um prejuízo que se crê haver sofrido, de vingar-se mediante represálias, de tomar ou retomar o que se considera sua propriedade, a inveja do poder, ou da reputação, o desejo de mortificar e rebaixar um vizinho de quem se pensa haver causa para detestar: eis aí tantas fontes de querelas que nascem nos corações dos homens e que somente podem produzir incessantes embates, seja com razão e com pretexto, seja sem razão e sem pretexto” (Abbé de Saint Pierre, 2003, p. 18)

[x] Este artigo reúne excertos extraídos do prefácio do livro organizado por J. L. Fiori, Sobre a Paz, publicado pela Editora Vozes em 2021. Seu título original é “O paradoxo de Kant e a leveza da paz”