Há
pouco estive conversando com pessoas que se mostraram indignadas com
o perdão e a facilitação de pagamento da dívida dos países
africanos que, juntos somados, dá uns 900 milhões de dólares. O
critério de valor e a indignação evidentemente nada tem à ver com
a análise econômica. Se esta fosse a base da avaliação deste ato
comercial e político poderíamos dizer até que foi um excelente
negócio; mas a análise financeira não cabe neste texto. Primeiro,
pela escassez de conhecimento econômico do autor e segundo, pela
simples questão de comparação.
À
saber: - O Brasil reduziu à metade dívida da Polônia em 1991.
Entre 1977 e 1980, o país concedeu US$ 2 bilhões em linhas de
crédito para a Polônia, recebendo como garantia as polonetas, como
se dizia à época; títulos que só poderiam ser resgatados quando o
governo polonês tivesse dinheiro para pagar. Chegou um momento que o
melhor era receber o que pudesse, então em 1991, há 22 anos atras,
o governo concordou em dar um desconto de 50% na dívida polonesa,
que já chegava a US$ 3 bilhões. Ou seja 1,5 bilhões. Bem mais que
os 0,9 bilhões de hoje; e nem cabe comparação se computarmos a
inflação do dólar nestes 22 anos. Pois bem, ambas as ações
sofreram críticas de seus opositores políticos. Lembro que o
Senador Romero Jucá, à época líder do Governo e filiado ao PSDB,
tinha que deblaterar com a espevitada Heloísa Helena do PT, à
tentar convencê-la que era uma medida economicamente útil, justa e
indicada pelos que militam nesta área e que seguiam o ditado
popular: melhor um pombo na mão do que dois voando. Quem já não
teve sua dívida atrasada negociada pela metade, ou até menos? Só
aqueles que nunca tiveram dívidas talvez.
A
questão que estou levantando não é de natureza política e
tampouco econômica, é ética. Se percebermos que no fundo desta
questão o que se avalia é o perdão, temos que dar o valor que o
perdão tem na base de nossa ética mosaica. O ato de perdoar, seja
no plano pessoal, seja no plano coletivo não escapa de sua natureza
ética e religiosa. Há uma passagem em Matheus 18:21:22 que diz que
Pedro questiona Jesus sobre quantas vezes devemos perdoar a dívida
de uma pessoa. “Até sete vezes? Responde-lhe Jesus: Não te digo
até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Ora, que resposta
seria esta? Porque não dizer logo 490? A resposta a este quase
enigma, nada mais é que a indicação da dimensão deste ato.
Partindo de quem, não podemos por em dúvida tal dimensão e tal
veracidade.
O ato de perdoar o que quer que seja, só é possível e
alcançável quando parte de quem alcançou determinado nível de
sabedoria, maturidade e percepção ética. Já li que o 70 x 7 tem
conotação de guematria, ou numerologia (?) e que os hebreus
entenderiam o sete como totalidade e o setenta como a multiplicidade
das nações, dando caráter e dimensão universal ao perdão. Também
que 4+9+0, somando 13, daria aos sábios hebreus a dimensão do amor
( não de azar como existe em algumas culturas ). Ou seja, a dimensão
do perdão, quando aplicada no plano coletivo desautoriza os
requisitos e cânones de sua extensão numérica para se caracterizar
como transcendência. Menos do isso, ou será mesquinhez ou será
simples e rasa ignorância.
Os críticos do perdão africano hoje,
tal como ontem, os críticos do perdão polonês caíram em uma das
duas categorias.
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