quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mesquinharia ou esquecimento?

     Há pouco estive conversando com pessoas que se mostraram indignadas com o perdão e a facilitação de pagamento da dívida dos países africanos que, juntos somados, dá uns 900 milhões de dólares. O critério de valor e a indignação evidentemente nada tem à ver com a análise econômica. Se esta fosse a base da avaliação deste ato comercial e político poderíamos dizer até que foi um excelente negócio; mas a análise financeira não cabe neste texto. Primeiro, pela escassez de conhecimento econômico do autor e segundo, pela simples questão de comparação.

     À saber: - O Brasil reduziu à metade dívida da Polônia em 1991. Entre 1977 e 1980, o país concedeu US$ 2 bilhões em linhas de crédito para a Polônia, recebendo como garantia as polonetas, como se dizia à época; títulos que só poderiam ser resgatados quando o governo polonês tivesse dinheiro para pagar. Chegou um momento que o melhor era receber o que pudesse, então em 1991, há 22 anos atras, o governo concordou em dar um desconto de 50% na dívida polonesa, que já chegava a US$ 3 bilhões. Ou seja 1,5 bilhões. Bem mais que os 0,9 bilhões de hoje; e nem cabe comparação se computarmos a inflação do dólar nestes 22 anos. Pois bem, ambas as ações sofreram críticas de seus opositores políticos. Lembro que o Senador Romero Jucá, à época líder do Governo e filiado ao PSDB, tinha que deblaterar com a espevitada Heloísa Helena do PT, à tentar convencê-la que era uma medida economicamente útil, justa e indicada pelos que militam nesta área e que seguiam o ditado popular: melhor um pombo na mão do que dois voando. Quem já não teve sua dívida atrasada negociada pela metade, ou até menos? Só aqueles que nunca tiveram dívidas talvez.

    A questão que estou levantando não é de natureza política e tampouco econômica, é ética. Se percebermos que no fundo desta questão o que se avalia é o perdão, temos que dar o valor que o perdão tem na base de nossa ética mosaica. O ato de perdoar, seja no plano pessoal, seja no plano coletivo não escapa de sua natureza ética e religiosa. Há uma passagem em Matheus 18:21:22 que diz que Pedro questiona Jesus sobre quantas vezes devemos perdoar a dívida de uma pessoa. “Até sete vezes? Responde-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Ora, que resposta seria esta? Porque não dizer logo 490? A resposta a este quase enigma, nada mais é que a indicação da dimensão deste ato. Partindo de quem, não podemos por em dúvida tal dimensão e tal veracidade.    
    O ato de perdoar o que quer que seja, só é possível e alcançável quando parte de quem alcançou determinado nível de sabedoria, maturidade e percepção ética. Já li que o 70 x 7 tem conotação de guematria, ou numerologia (?) e que os hebreus entenderiam o sete como totalidade e o setenta como a multiplicidade das nações, dando caráter e dimensão universal ao perdão. Também que 4+9+0, somando 13, daria aos sábios hebreus a dimensão do amor ( não de azar como existe em algumas culturas ). Ou seja, a dimensão do perdão, quando aplicada no plano coletivo desautoriza os requisitos e cânones de sua extensão numérica para se caracterizar como transcendência. Menos do isso, ou será mesquinhez ou será simples e rasa ignorância. 
    Os críticos do perdão africano hoje, tal como ontem, os críticos do perdão polonês caíram em uma das duas categorias.

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