quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Memórias Musicais II

Não queria deixar passar tempo que fizesse sumir da lembrança a primeira vez que ouvi Heckel Tavares. Não sabia quem era ele, eu era criança. Ouvia uma parte de seu "Concerto em formas Brasileiras" para piano e orquestra, em uma cortina musical na Rádio Nacional. Não fazia ideia que tanta beleza ainda se completava em um concerto inteiro. Somente mais tarde pude conhecer a obra completa com a OSB regida por Eleazar de Carvalho, e com o pianista Heitor Alimonda, não tenho certeza. A memória me falha, pois era 1960, 1965. 
Sei que esta obra também foi um marco importante de minha memória. Mas na época já havia me convertido ao "wagnerianismo", após ouvir o "Tanhauser". Logo depois "Tristão e Isolda", "Rienzi", "Lohengrin", os "Mestres Cantores". Então entendi a intensa emoção com que minha tia-avó Emília Leopoldina falava da vez que fora assistir, ainda no século IXX,  "As Valquírias" no Teatro Lírico, que ficava então no Largo da Carioca, demolido por volta de 1930. Ela ficou deslumbrada para o resto da vida.
Passei a ser um wagneriano; ouvia e ouvia Wagner descobrindo à cada vez uma nova emoção e uma nova e intensa transcendência. Até que nos antigos "Concertos para Juventude", já não mais com Eleazar de Carvalho, mas com Isaac Karabtchevsky, ouvi Alberto Nepomuceno. Pronto, saí do transe wagneriano. Logo, no mesmo concerto caí no samba. O samba era a peça de Alexandre Levy, "Samba".  Fiquei também fan de Alberto Nepomuceno. Lembro de um colega de escola, o Wagner Luiz, que não suportava ouvir o nome do compositor apesar de ser amante da boa música; dizia que o nome soava como "seno" e "coseno" e então lembrava dos zeros que tomara em trigonometria. Dono de boas tiradas, foi ser radialista esportivo, dono de emissoras FM em Nova Friburgo e outras cidades próximas. Deixou-nos ainda jovem em um desastre na tortuosa estrada da serra.  
Muitos anos mais tarde, 1989, conheci um grande engenheiro tcheco, Jiry Talafous, de Brno, também aficionado por Alberto Nepomuceno, pois o ouviu em Praga. Quando soube que eu conhecia e gostava do tcheco Bohuslav Martinu, então é que ficamos amigos, me visitou e até fez minha mulher visitante  contumaz de Praga. Saudades do velhinho Talafous, que pesquisava a genealogia tcheca de Juscelino Kubitschek. Saudades de nossas conversas sobre música.
Mais memórias musicais ainda virão, mas deixo para depois.
Para encerrar este papo, aconselho ouvir o programa da Rádio MEC FM sábado às 11:30 h.



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