segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nossa imprensa

    Após a leitura de jornais neste final de semana, alguns passíveis de atenção séria, outros simplesmente dados à crença na absoluta incapacidade de raciocínio do leitor, posso dizer que precisamos urgentemente de uma regulação, ou qualquer outra coisa que limite o escárnio destes órgãos de comunicação.
    Afora o Veja, que à troco de nada, chama o cidadão do mundo Oscar Niemeyer de idiota, assim ultrapassando o limite do civilizado, os demais, que necessitam de alguma ajuda, pois falar em punição agride alguns sentimentos, parece que em ação orquestrada desafiam o bom senso, a temperança, o equilíbrio e demais cuidados com a paixão e a razão. Digo isso dado a reportagem de The Economist que, num gesto sem pé nem cabeça, exige a cabeça do ministro Guido Mantega. Pois bem, alguns jornais, à troco de ser do contra apenas, pois na maior parte das vezes discordam do famoso e centenário especializado periódico, fizeram coro e desfiaram as razões mais absurdas, na maioria irresponsáveis e até chauvinistas, dado a naturalidade italiana de Mantega. Como procuro ler a imprensa internacional, Le Monde, The Economist, Le Figaro, The New York Times, The Times, a edição em inglês do Asahi Shimbun, agora totalmente facilitada pela internet, chego comparativamente a conclusão que a nossa imprensa, ou ensandeceu de vez, ou perdeu o senso do ridículo. O apoio a tese de expulsão de Mantega, que nem aborda de fato as questões econômicas, é puro estoicismo e representa algo que precisamos corrigir. Não é possível mentir descaradamente e ficar por isso mesmo. Vários que li simplesmente destorcem dados do IBGE, órgão de credibilidade absoluta ( no mundo ) para dar base a uma crítica descabida, ingênua e sem o mínimo conteúdo, nem precisa ser acadêmico, mas apenas de bom senso.
    Se conseguirmos democratizar plenamente o acesso a internet, talvez consigamos, pelo menos, contrapor um pouco de lucidez a este emaranhado midiático que progressivamente se alia ao pior. E não foi por falta de aviso que a imprensa acabou assim; Pulitzer, (aquele do prêmio americano que desde 1917 procura reconhecer o bom jornalismo) já havia nos prevenido.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

O trabalho vence

    Terminado os tempos de eleição, onde os nervos, à flor da pele, extremam emoções, pensamentos e alguns até mostram seu lado pior, o do ódio, na maior parte das vezes instigados por outrem, senão a mídia, absolutamente desregulada e desonesta, seguimos em frente em direção ao progresso que é a parada seguinte que nos espera, nesta viagem, aventura virtuosa, a que nos levou Lula; este sim, epílogo de uma obra, cujo prefácio se escreveu em 1930, e que teve Getúlio Vargas como seu maior protagonista e, queiram ou não seus inimigos detratores, seu mártir. 
    Houve tempos em que se tratava de populismo e outras pejorativas a mera menção aos interesses mais elementares do povo brasileiro. A moda ditada na côrte, sendo esta não mais a portuguesa, mas a com sede em Wall Street, ou mesmo Downing Street 10, não recomendava devaneios populistas e tampouco aceitava nada que não estivesse "inside", dentro da estética e da ética imperial. Os pobres? Ah, os pobres; que se esforcem para deixar de serem pobres, pois estão neste estado devido a sua indolência e ignorância. Pois era assim que a moda era ditada pela senhora Thatcher, pau mandado de um marido que servia a uma corporação e não tinha gabarito, nem a coragem que sobrava na esposa, para dirigir a Velha Albion. Apesar da coragem e desenvoltura Thatcher acabou jogando os móveis pela janela; destruiu a indústria aeronáutica inglesa, primor de criatividade e qualidade. Solerte, dispensou a experiência social britânica que levara anos, séculos, para ser construída e aperfeiçoada.  Simplesmente sucateou a Inglaterra, bem debaixo do nariz de S.M. Elizabeth II. 
    O que dizer então dos nossos mímicos, amestrados na cultura alheia. Fomos atrás e sucateamos a indústria naval, quase o fizemos com a aeronáutica e deu no que deu, favelizamos o país. 
    Cabe agora correr atrás do prejuízo e gerar emprego, para sustentar os programas de educação e de todo o resto de nossas obrigações como Estado e como Povo.
    Após o resultado das últimas eleições, acho que, além de ir consolidando a democracia, conseguiu-se tirar São Paulo das presas do monstro rentista que, de tão forte que é, mantinha o laborioso povo paulistano refém de sua própria riqueza e vítima das maldades e da ignorância retrógrada.
     Agora cabe o ditado romano, "agere non loqui", agir, não falar, pois ainda existe um buraco de bilhões para ser tapado, legado da pedante e incompetente administração.
    Por agora, "festina lente". De leve, diria o Ibrahim.
 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Fé, fá, sol, sal, sá da terra


( do facebook npm)


     Estava a assistir uma série de TV chamada “Inspector Maigret”, baseada na obra do escritor franco-suisso George Simenon. Série policial que reproduz, com fidelidade cenográfica perfeita, a Paris dos anos 40 e 50. Lá pelas tantas do filme, aparece uma cena dentro de um cabaré, onde umas coristas dançavam ao som de música brasileira, tocada de maneira até meio tosca, por flauta doce e percussão. Eram músicas antigas brasileiras, daquela época, “Mamãe eu quero”, do inigualável maestro Jararaca, “Tico-tico no fubá” do mestre de Santa Rita do Passa Quatro, Zequinha de Abreu. Ainda “Ta hi”, de Joubert de Carvalho, médico que emprestou a sua arte para que Carmen Miranda estourasse em sucessos nos anos 30. A “Pequena notável”, assim como a chamou Almirante (a maior patente do rádio brasileiro), imortalizou e universalizou músicas que até hoje ouvimos e que o nosso Carnaval não deixará esquecer.
     Tive muito que refletir, pois não há como deixar de se emocionar ao vermos nossos artistas, músicos, compositores, do mais ilustre ao mais simples, serem valorizados, tanto pelos meios de comunicação convencionais, quanto pela mera audiência pessoal, ainda que na festa do play, ainda que no coreto da praça, ainda que na Folia de Reis, em qualquer canto, em qualquer lugar. Afinal são estes que traduzem o que se passa no interior de nossas almas, são estes que dão voz aos nossos sonhos, nossas fantasias, nossos mitos, ou seja, a nossa cultura. E para que esta voz seja autêntica e verdadeira, não poderá se calar ninguém, seja o clássico virtuoso, seja o caipira simplório, seja o sertanejo popular, seja o pagodeiro da periferia, seja o funkeiro da cidade, seja o roqueiro citadino, seja o sambista famoso ou seja um mero batuqueiro do fundo de quintal. 
      Do rock pesado ao caipira, passando por todos os estágios de manifestação cultural terá de haver espaço para aquele brasileiro cheio de esperança à cultivar seus sonhos e mostrar a sua alma. Há espaço para todos no enorme ventre desta mãe querida, queiram ou não dela descender.
    Muitos simplesmente se desvencilham de nossa cultura, por simples e absoluto preconceito, sem perceber que há espaço para todas as manifestações culturais, sem exceção, do roque metaleiro até a catira, como já disse. Sem excluir ninguém, mas ninguém mesmo. Até porque esta mãe pátria brasileira tem muitas fontes onde a inspiração do artista pode ir beber. 
     Se lembrarmos que Villa Lobos baseou toda a sua obra em música brasileira, da folclórica à modinha, até a clássica, se voltarmos nossa atenção para Caetano e Gil, para os Novos Baianos, se ouvirmos Chico Cesar, de quem sou fã incondicional, Djavan, Milton Nascimento, Kid Abelha, Claudinho, meu amigo professor e doutor Sérgio que nos legou “Vital e sua moto”, sucesso dos “Paralamas”, do "Bode a gasolina" do meu amigo Wagner Grego, e do meu primo Fernando Mello, que tem várias composições espalhadas por aí, tantos, tantos outros, iremos ver que a nossa mãe é gentil e não deixa secar a fonte da inspiração. Bem já dizia o letrista Duque Estrada:
       Terra adorada,
       Entre outras mil,
       És tu, Brasil,
       Ó Pátria amada!
       Dos filhos deste solo és mãe gentil,
       Pátria amada,Brasil!
(imaginem um tamborim, um surdo, batendo miúdo e sincopado esta estrofe na voz profunda da adorável carioca Sandra de Sá, ou mesmo da potiguar Roberta Sá... Bota sá nisso, sô)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Labor omnia vincit

    De volta, após afastamento prolongado, já que a atividade de implantação de um sistema computacional de grande escala domina totalmente a mente e esgota as capacidades reflexivas adicionais ao trabalho imediato, não poderia deixar de comentar o que li e ouvi ao longo deste período, onde a atenção mais se deslocava para o imediato, sobre a badalação política. Falo sobre a badalação do "mensalão". Não falo julgamento, pois é lamentavelmente badalação e mais faz parecer comício político ou festival de rock. É triste mas é uma realidade irrebatível.
    Independentemente da peça acusatória do Gurgel, que perdeu a oportunidade de contribuir para o processo político eleitoral, e do ministro relator que, independentemente de seu voto, se comportou mal como um Ministro, com atitudes incompatíveis com a dignidade e importância de seu cargo, tal como deboches e cinismos, o que posso dizer deste caso político, infelizmente tão somente político, que alimentou muita página de jornal, é que o povo não deu a importância que este merece. 
    Não quero fazer diagnósticos, pois não me acho preparado para tal, mas percebo claramente que os canais da mídia saturaram o tema e então "ipse venena biba". De  tanto se envolverem no evento,acabaram por fazer parte e então deixaram de informar e serem isentos, passaram a votar. Passo definitivo para a perda de credibilidade a falta de isenção. Como julgamento político que foi, à ponto do Gurgel aberta e despudoramente se pronunciar por um resultado político, retirando o manto de respeitabilidade que o solene lhe entrega, nada surtiu efeito. É como se os acusados e condenados fossem recompensados com reconhecimento público. O bombástico, o midiático, a badalação, prestaram um enorme desserviço a causa política, onde os temas "financiamento de campanha", "natureza e constituição dos partidos políticos" e demais, que precisam evoluir, tiveram um hiato de contribuição.
    Mas, como diz o ditado latino, "veritatis simplex oratio", a verdade dispensa falação, vamos em frente no tema preferido que é a industrialização do Brasil e a nossa evolução científica e tecnológica. Aliás a Presidenta Dilma hoje recebe o presidente da alemã BMW que veio escolher o local da nova fábrica de automóveis. Aliás já escolheu; onde já se fala alemão, Santa Catarina, no município de Araguari. Fabricar BMW's no Brasil cai bem; ambas são marcas de prestígio. Uma, nação emergente e progressista, a outra, empresa de maior prestígio mundial em automóveis. Mas já temos uma pareceria interessante: o interior do jato executivo Lineage 1000 é projetado pela BMW (só para dar um gostinho, visitem neste site o interior do jato executivo da Embraer):
 http://www.embraerexecutivejets.com/portugues/content/aircraft/lineage1000_home.asp)
  No mais, é esperar pra ver o que resultará deste imbroglio, pois ninguém duvida mais que esta história não vai acabar por aí. Pois por agora ainda não se sabe, se ganhou o bem ou o mal. Se quem ganhou foi o bem, que bom, se foi o mal vale o ditado popular: o mal ganhado, o diabo o leva (mala parta, male dilabuntur)
   Prefiro então seguir o bem e o trabalho. Labor omnia vincit.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

É pra valer?

     A leitura do artigo do economista veterano J.Carlos de Assis na Carta Capital * revela estar inconformado com a "suavidade" das medidas tomadas pelo Ministro Mantega,a quem chama de Shogun, a sombra de samurai, de Kurosawa.  Poder-se-ia achar tal preocupação exagerada, mas eu concordo com o veterano economista. A economia mundial não vai permitir que tais medidas tenham o efeito desejado, pois só a redução do PIB da China já seria suficiente para que a freiada reduzisse a demanda por commodities, manufaturados e mesmo serviços à níveis que desencadeiem uma recessão de facto.
      Isto já é algo que nos obrigue a proteger a industria nacional da entrada de toda sorte de  supérfluos e mesmo o substituível por nacional. Só para começar. 
      Além disso estabelecer critérios sérios de encomenda por parte dos outros entres federados, pois não terá sentido o Governo Federal apertar o cinto, diminuir viagens ao exterior e, ao mesmo tempo, prefeituras fazerem encomendas importadas, às vezes sem precisar. 
     Outro item que merece atenção é a enxurrada de dinheiro que se gasta  com turismo no exterior. Os tempos não estão pra farra na Disneyworld ou outro destino qualquer no exterior. Lembro-me ainda do obrigatório depósito prévio à viagem para o exterior, isto nos meados dos 70. Todos cumpriram muito bem esta regra, pois o estilo do General Geisel não daria margem a reclamações, seja na mídia ou mesmo nos corredores.
Não advogo tal medida de depósito,  mas uma desvalorização mais forte do real e, simultaneamente, um controle mais apertado de importações (não estou falando de contrabando, isto é caso de polícia), ah isso seria mais do que necessário. Torna-se urgente. E não importa o berreiro que venha à seguir, pois se não o fizermos agora vamos cair no mesmo descrédito dos tempos idos do príncipe.
A casa-grande terá de se conformar, pois será melhor que devolver o que está em depósitos alhures. Ou pra valer ou, de novo, vamos repetir a vergonha neo-liberal.

* http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20814

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Educação & Trabalho

 Na nota do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, hoje (29/08/12) publicada na Carta Maior, após extensa e lúcida análise sobre educação, já que o título "Realidade e Educação" assim propunha, pude extrair no parágrafo 26 uma constatação que, além de lúcida, coloca o problema nos seus devidos termos e também coloca nos trilhos os devaneios de uma burguesia "culta" que jamais pensou ( sentir já é demais ) na dívida social coletiva assumida nos períodos de ficção. Tampouco percebe holisticamente que se insere na pior das situações, viver a civilização de empréstimo, diria Euclides da Cunha, viver de aparências. Quando a favela está ali do lado da sua janela.  
    Pensar em educação sem pensar em trabalho, em pleno emprego, é uma das formas mais absolutas, e disfarçadas, de elitismo e é a mais rasa demonstração de burrice. Eis então o que o mestre diplomata coloca no seu derradeiro parágrafo:

 " 26. Fazer crer que a educação isoladamente é o maior desafio da sociedade brasileira sem associar a educação à necessidade de aumento da capacidade instalada e do emprego contribui para evitar o debate sobre a concentração de renda e de riqueza, e a urgência cada vez maior de promover sua desconcentração, etapa indispensável para construir um verdadeiro Brasil Maior. "

 Nada mais há a dizer depois de síntese tão absoluta.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A consciência da possibilidade

   O artigo do Luís Nassif  intitulado "A luta pela reindustrialização" * serviu para perceber no próprio texto e nos diversos comentários a dificuldade de se abordar o tema na sua plenitude. Primeiro porque a industrialização não se faz apenas pelo desejo; existe, afora a conscientização social,  uma energia  imensa para reverter um quadro de desindustrialização. É como tentar ultrapassar um corredor que corre à sua frente. Ele não apenas corre como procura impedir que o ultrapasse. 
   Os nossos concorrentes exteriores usam de todas as possíveis manobras para inibir o processo de desindustrialização, incluindo o dump, o subfaturamento, a tonelada de mil e duzentos quilos. Não bastasse todas estas dificuldades a serem enfrentadas ainda temos a burocracia inerte e ainda conivente do Estado, à fazer da exportação uma batalha sangrenta, que desestimula qualquer um.
    Os diversos comentários retratam a amplitude do tema e, sobretudo, no que tange a carga tributária. Mas gostaria de colocar uma questão que acho mais importante e que está realmente sendo tratada de modo correto pela Petrobrás, que é, e foi, o instrumento que o Governo utilizou para a retomada do desenvolvimento para se salvar da paralisante epidemia neo-liberal. Os Governos do Estados, em todas as esferas, incluindo a Municipal, tem de optar pela encomenda do nacional. Não bastam os 25%  da 8666 (ainda que corretamente a´licados) ; temos de ser preferenciais, na maioria dos casos. Mas não podemos deixar de mencionar, e mesmo contrapor alguns comentários, que o BNDES tem recursos sobrando que não são demandados pela empresa nacional. Será a extrema burocracia do BNDES, a causa desta ausência? Será o  nível ainda insuficiente da gestão e controle das empresas brasileiras? 
   Acho que, como qualquer problema complexo, é a concorrência de todos estes fatores que engendram uma situação de atraso. Não se pode eleger apenas o fator tributário/fiscal, nem tampouco a burocracia de Estado, nem tampouco a incapacidade técnica. Para vencer o conluio destes fatores, que ainda estabelecem uma sinergia com sinal negativo, temos que "ultrapassar o corredor da frente"; ou seja, temos que agir com o que temos. Ninguém espera ficar bom do "resfriado" para então respirar. O enfrentamento do problema da desendutrialização exige que se lute com todos os meios ao nosso alcance. 
    Nossos concorrentes contam com nossa inércia: exportamos  barra de aço e importamos laminados, exportamos tecido e importamos roupa, enfim, exportamos commodities e importamos manufaturados, muitos, mais do que supérfluos, inúteis. Não bastam as medidas de estímulo a produção, pois é ingênuo admitir que, se não penalizarmos a importação de supérfluos, não teremos um saldo a estimular o empreendedor.
   Produzir é uma atividade que exige do homem, da sociedade como um todo, um desafio constante e uma vontade de se superar. Teremos que nos esforçar ao máximo na conscientização da preferência pelo nacional, assim como fizeram os suecos, os franceses, os alemães, os finlandeses e todos que conseguiram dar o salto qualitativo em suas sociedades. Não basta ter vontade apenas, é preciso lutar contra aqueles que de tudo fazem para puxar pra baixo nossas esperanças, nossa auto-estima e nosso futuro. 

 *- ver em (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-luta-pela-reindustrializacao

sábado, 25 de agosto de 2012

A defesa de nossa gente

    Como parece que existe falta de assunto na mídia; já que as discussões sobre educação, saúde, transporte, trabalho e demais preocupações, que terão de pautar as eleições municipais, não habitam as páginas cheias de anúncio, pois os jornalões estão empenhados na missão de julgar a ação 470 ( coisa jurídica da máxima corte), acho que me sinto na obrigação de retomar o assunto da produção nacional, já que já tem muito juiz solto por aí. 
    Quero desta feita enfatizar a produção de material de defesa, pois este "arrasta" uma vasta gama de outras indústrias e impulsiona vários outros agentes do desenvolvimento científico, tecnológico e industrial.
    Há exemplos sobejos de oportunidade de desenvolvimento, mas não haverá sinergia entre os diversos segmentos se a evolução não for coordenada pelo Ministério da Defesa em direção à capacitação plena, ou quase plena, da industria nacional.
 

O radar SABER M-60, lado a lado com o utilitário militar Agrale Marruá AM 20, base transportadora do avançado sistema de controle para a artilharia antiaérea, desenvolvido pela OrbiSat, empresa controlada pela Embraer Defesa e Segurança. O projeto, que conta com a parceria do Centro Tecnológico do Exército (CTEx), integra o novo Sistema de Defesa Antiaérea do Exército Brasileiro


    E esta capacitação significa o desenvolvimento e encomenda de componentes na indústria brasileira; em outras palavras, desenvolvimento de fornecedores. Coisa que a indústria se esmerava fazer antes da epidemia neo-liberal. Pois logo depois começamos importar tudo da China.

    A retomada do desenvolvimento implica em ações diretas e definitivas do Governo e, afora a Petrobrás e os planos PAC, Família, Casa e demais, a Defesa é a que agora mais nos preocupa, pois já que tomamos a consciência da Amazônia Azul, Amazônia Verde, Pré-Sal que é resultado da consciência da soberania perdida, também será a que mais preocupará os interessados mundo afora.
     Mesmo os pacifistas mais convictos concordam que temos o que defender agora. Portanto pensar a Defesa é pensar na indústria, na educação técnica, no pleno emprego, na consciência de valores nacionais, tais como nossa cultura, nossos símbolos, nossa música, nossa arte, nossa gente.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Jornal do Brasil - País - O cerco à indústria brasileira de defesa

Jornal do Brasil - País - O cerco à indústria brasileira de defesa

Há vários pontos desta matéria que concordo plenamente, mas também percebo que é impossível (mesmo o USA ) dominar todas as tecnologias. Portanto, há de se balancear as ofertas, mas um ponto é absolutamente inquestionável: Se a empresa estrangeira ofereceu um valor para a compra da empresa brasileira, por que o Governo não ofereceu também? Afinal pagar juros é a única coisa que os economistas ditos não-liberais sabem fazer?

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Lutadores da Central

    Esse Procurador Geral é mesmo um inútil. Se não inútil, pior, pois conseguiu, por incompetência ou intenção, desmontar a oportunidade de se fazer justiça e mesmo gerar as condições jurídicas e políticas para implantação de uma nova forma de financiamento de campanha, expurgando o "caixa2",  forma viciada que gera as oportunidades de lavagem de dinheiro. 
    Talvez movido por razões políticas, ou mesmo comparsiado com alguém, conseguiu fazer da ação penal 470, o mensalão da mídia, peça que está sendo desmontada pausadamente pelos advogados de defesa, alguns até de forma primária. Mas nenhuma defesa foi mais terrível que a de Luiz Gushiken, do advogado Luis Justiniano de Arantes Fernandes, que de forma até pouco extravagante, com pouca retórica, mostrou a real natureza da ação 470, um espetáculo político tal como foi a Carta Brandi. Nada mais. Simplesmente os procuradores Antônio Fernando de Souza e o atual Roberto Gurgel surrupiaram peça dos autos. 
    Nada mais há a dizer e fazer senão continuar tocar a vida e ir trabalhar, como faz aquela grande quantidade de lutadores que vejo aqui da minha janela desembarcar na Central do Brasil, absolutamente desligada desta farsa e preocupada com a sua difícil luta pela sobrevivência.
    Se observarmos pelo lado humano o sofrimento imposto a Gushiken pode ter se somatizado de tal forma a deixá-lo hoje neste estado de saúde.
    Se observarmos pelo lado jurídico, simplesmente o próprio procurador contaminou os autos e desmereceu a ação, ao negar acesso a documentos de defesa e mesmo retirar o laudo da Visanet. 
    Resta agora esperar pelo pronunciamento da côrte suprema e seguir o exemplo dos anônimos lutadores aqui da Central do Brasil.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Falácia e esperança

      Pautar os assuntos pela badalação da mídia não me agrada, mas me obriga e externar opinião, como soe a qualquer cidadão. Não há assunto que ocupe as páginas dos jornalões mais atual que o "Mensalão", nome bem dado a uma patranha que corrói a democracia faz uns bons tempos, desde a Velha República. Está até disputando espaço com as Olimpíadas. Ocorre que hoje, até quem está mais sujo que pau de galinheiro, que é o caso do folhetim "Veja", também se dá ares de seriedade. 
      Lembro-me ainda menino do escarcéu que foi a Carta Brandi, lembro também da fuga do Lacerda no cruzador Tamandaré, sucata da Segunda Guerra Mundial que os americanos nos mandaram sem uma das hélices (o navio andava meio de esguelha).  Depois de desvendada a falsidade nada ocorreu senão o julgamento da História. Os jornais não escrevam uma linha. A História sim, inexorável e, não diria justa, mas implacável.
      O História  do Julgamento, já no primeiro dia assisti ontem a trechos, se vê que não sobreviverá ao Julgamento da História, dado o sensacionalismo. E é aí que a grande mídia deixa de servir a Democracia e a Justiça, já que impõe um julgamento político, se pode-se dizer, em vez do julgamento dos atos da patranha.
      Pessoalmente acho que não há nenhum inocente em se tratando da causa comum; todos estão, de um modo ou de outro, enroscados nesta trama. Ou por participação, ou por leniência. No entanto o fato de estarem metidos no negócio, de fato, não está sendo julgado. Percebe-se o que está sendo julgado é tão somente a pertinência do lado. De um lado a a Justiça, de outro lado a mídia, dando-se ares de juiz.
      O estrago a democracia perpetrado pelos réus até se compara aquele que a própria mídia agora está a produzir.
      Lembremos do Caso Dreyfus, da Carta Brandi,  do Coronel Pantoja, e de tantos outros onde a aparência prevaleceu sobre a valência. Lembremo-nos da maior das injustiças que está estampada no nosso índice GINI, no nosso IDH, na absurda falta de oportunidade da Educação e que não merece a devida atenção por parte dos jornalões.
      Mas a maior delas é a impunidade da mídia que se dá ao direito da não retratação de seus erros. O comportamento da mídia quando deveria ajudar a desvendar e elucidar, esfumaça propositalmente a realidade, quando não a constrói segundo interesses inconfessáveis. Se tomarmos a "Veja" como exemplo, fico a imaginar o que a História não estará reservando para o crime hediondo cometido contra Pedro Collor.
      Realmente acho que falta ainda muito de maturidade nossa para se fazer da Justiça um valor ético e não um valor econômico. Com isso vou errando ao escrever sobre a produção, para não produzir erros ao escrever sobre assunto tão abjeto. Mas ainda tenho esperança na minha Pátria e acredito na sabedoria dos Provérbios: -  Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela.

Mas os ímpios serão arrancados da terra, e os aleivosos serão dela exterminados.
Provérbios 2:21-22

Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela.

Mas os ímpios serão arrancados da terra, e os aleivosos serão dela exterminados.
Provérbios 2:21-22
Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela.

Mas os ímpios serão arrancados da terra, e os aleivosos serão dela exterminados.
Provérbios 2:21-22
Porque os retos habitarão a terra, e os íntegros permanecerão nela.

Mas os ímpios serão arrancados da terra, e os aleivosos serão dela exterminados.
Provérbios 2:21-22

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Gratidão ao mestre

      Após ter escrito sobre produção com qualidade me recordo dos anos 70 e 80 quando estava na moda a "Qualidade Total". Vários consultores, animadores de congresso, falavam e davam conselhos sobre a qualidade nesta época. Os inspetores de qualidade valorizaram seus currículos; os desempregados pela iniciante crise industrial já buscavam colocação munidos de diplomas em cursos especializados em TQC (total quality control), CEP( controle estatístico de processo), KANBAN (conceito intraduzível, pois seria apenas "cartão"). 

      Os malabaristas do palco e da palavra cobravam rios de dinheiro para animar seminários, cujo tema hoje se perde na memória. Muitos dos que participavam, nem mais se lembram do que tratava o assunto e a tal "Qualidade" passou a ser uma palavra vazia e desacreditada. Afinal ela implica em valores cívicos. 

      No entanto, incólume aquela onda que derivada do "Milagre Japonês", a globalização se alastrava pelo mundo alimentando a recém acesa fogueira neo-liberal; queimando indústrias iniciantes e mesmo as antigas mal administradas. Ninguém podia fazer frente aos japoneses. O Japão produzia de tudo e vendia toda a sua produção para o ocidente, pois em preço e qualidade eram imbatíveis.  Alguns se perguntavam como os japoneses conseguiam realizar tal proeza, já que não possuíam matéria-prima alguma, apenas munidos de disciplina, vontade férrea e excesso de trabalho.

     Lembro-me de ter assistido a um seminário do saudoso Eliyahu Goldratt em 1978 em Hollywood-by-Sea onde ele mostrava a causa do milagre japonês que diferia do ocidente, já que disciplina e vontade não faltava também nos lados do sol poente, simplesmente as indústrias japonesas trabalhavam com folga de capacidade. Baseado na sua "Teoria das Restrições" recém formada,  Eliyahu Goldratt percebeu que com sobra de capacidade fabril (mão-de-obra) as faltas e atrasos acabavam se acomodando melhor ao fluxo produtivo desejado.
     O que o ocidente guardava nos estoques, os japoneses geravam de ocupação de mão-de-obra. Isto é, pleno emprego fazendo frente à variações de demanda, apesar de salários baixos  se comparados ao do primeiro mundo ocidental, melhor dizendo Estados Unidos e Europa rica. Os japoneses aproveitaram a lição bélica da derrota e fizeram das suas deficiências e de suas qualidades, um conjunto de vantagens competitivas que os alçou a condição de G8.
      Se formos encurtar a história, podemos dizer que se repetiu agora com a China o que ocorreu com o Japão. Realidade cujos fundamentos técnicos e sociológicos foram magistralmente tornados públicos e simplificados por Eliyahu Goldratt, cuja memória hoje homenageio.
     A síntese fundamental está na geração do pleno emprego, na geração da capacidade técnica, científica e educacional, mas sobretudo na proteção absoluta de seu mercado e seus interesses econômicos. Tiveram que atropelar algumas restrições impostas pelos seus concorrentes e por na frente de tudo a sua vontade de produzir. O que o mestre Goldratt percebeu muito bem.

    Vivenciamos  o momento de recuperação da pandemia neo-liberal que veio desaguar na atual crise econômica. Não consigo comparar a crise econômica atual com a destruição absoluta sofrida pelo Japão na Segunda Guerra. Consigo sim, ver a superação de qualquer crise vivida pelo homem e pelas nações que dela sobreviveram. Nós não seremos ex cessão ( se quisermos sobreviver ).
      Este meu pensamento amadurece desde a conversa com Eliyahu Goldratt em 1978; estou mais do que seguro dele. Daí minha gratidão ao mestre. 

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Produzir com qualidade

      Vemos que positivo tenha sido o resultado econômico dos governos Lula,  pode se dizer que foi uma resultante ortodoxa.  Pois ao ter democratizado o crédito interno, ter investido nas politicas sociais, no aumento do crédito, no salário mínimo, aumentando os beneficios previdenciários, construiu-se  então um mercado interno de massas, antes praticamente falido.  São receitas já provadas, pode se dizer ortodoxas. Foi o que alavancou a economia com melhoria, ainda insatisfatória, da distribuição de renda e o aumento do emprego formal. 
      Mas precisamos ainda inovar, no tratamento do deficit primário e, principalmente  na sua aplicação. Precisamos rever investimentos, melhorar a industria sim , pois a realidade mudou; agora dramatizada pela situação econômica européia. Precisamos rever  muitas coisas sem mitificações. Inovar tem sido a palavra de ordem, mas não tem sido a resultante final. A resultante útil desejada é aplicar maciçamente esta montanha de dinheiro chamada de superavit primário, sem esquecer que este serve também ao pagamento de juros da dívida pública atrelada a esta coisa esquisita chamada "selic" que nos escraviza a avareza e ao capital especulativo. 
      Realmente a campanha inciada pelo inesquecível Zé Alencar terá de dar resultado, pois ainda vivemos tempos de taxas de juros imorais e  nada mais justifica tais valores de juro e de cotação da moeda. Não precisamos fazer esforço para provar este raciocínio; a Europa já o faz. 
      Tais medidas de redução já são sobejamente conhecidas e defendidas por toda a sociedade brasileira lúcida. Há aqueles que vivem de juros, mas esses sabemos o fim que deverão ter: viver à sua própria sorte.
      Temos que investir na nossa Educação, na nossa Saúde, na nossa Infra-estrutura, nas nossas Empresas e na nossa Cultura ao criar uma rede de comunicação social mais limpa e mais funcional, para libertar nossa população da escravidão midiática à lhes impor péssima qualidade de conteúdo.          O nosso "Made in Brazil" também tem que ter qualidade. Não podemos aceitar que nosso produto seja inferior. Nossa soberania e independência dependem de nosso trabalho e também de nossa qualidade, caso contrário teremos é "Independência ou Sorte".

domingo, 22 de julho de 2012

Poderia ser continuação do artigo anterior !



Elites do Brasil enriqueceram com paraísos fiscais, diz relatório

22/7/2012 16:41,  Por Redação, com ABr - de Brasília
Um estudo inédito, que, pela primeira vez, chegou a valores depositados nas chamadas contas offshore sobre as quais as autoridades tributárias dospaíses não têm como cobrar impostos, mostra que os super-ricos brasileiros somaram até 2010 cerca de US$ 520 bilhões (ou mais de R$ 1 trilhão) emparaísos fiscais. Trata-se da quarta maior quantia do mundo depositada nesta modalidade de conta bancária.
Paraíso fiscal
O estudo mostra que ricos brasileiros chegaram a ganhar até US$ 520 bilhões em paraísos fiscais
O documento The Price of Offshore Revisited, escrito por James Henry, ex-economista-chefe da consultoria McKinsey, e encomendado pela Tax Justice Network, cruzou dados do Banco de Compensações Internacionais, do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e de governos nacionais para chegar a valores considerados pelo autor.
O relatório destaca o impacto sobre as economias dos 139 países mais desenvolvidos da movimentação de dinheiro enviado a paraísos fiscais. Henry estima que, desde os anos 1970 até 2010, os cidadãos mais ricos desses 139 países aumentaram de US$ $ 7,3 trilhões para US$ 9,3 trilhões a “riqueza offshore não registrada” para fins de tributação.
A riqueza privada offshore representa “um enorme buraco negro na economia mundial”, disse o autor do estudo. Na América Latina, chama a atenção o fato de, além do Brasil, países como o México, a Argentina e Venezuela aparecerem entre os 20 que mais enviaram recusos a paraísos fiscais.
John Christensen, diretor da Tax Justice Network, organização que combate os paraísos fiscais e que encomendou o estudo, afirmou ao jornal da BBC Brasil que países exportadores de riquezas minerais seguem um padrão. Segundo ele, elites locais vêm sendo abordadas há décadas por bancos, principalmente norte-americanos, para enviarem seus recursos ao exterior. “Instituições como Bank of America, Goldman Sachs, JP Morgan e Citibank vêm oferecendo este serviço. Como o governo americano não compartilha informações tributárias, fica muito difícil para estes países chegar aos donos destas contas e taxar os recuros”, afirma.
Segundo o diretor da Tax Justice Network, além dos acionistas de empresas dos setores exportadores de minerais (mineração e petróleo), os segmentos farmacêutico, de comunicações e de transportes estão entre os que mais remetem recursos para paraísos fiscais. “As elites fazem muito barulho sobre os impostos cobrados delas, mas não gostam de pagar impostos”, observa Christensen. “No caso do Brasil, quando vejo os ricos brasileiros reclamando de impostos, só posso crer que estejam blefando. Porque eles remetem dinheiro para paraísos fiscais há muito tempo”.
Chistensen diz ainda que no caso do México, da Venezuela e Argentina, tratados bilaterais como o Nafta (tratado de livre comércio EUA-México) e a ação dos bancos americanos fizeram os valores escondidos no exterior subirem vertiginosamente desde os anos 70, embora “este seja um fenômeno de mais de meio século”. O diretor da Tax Justice Network destaca que há enormes recursos de países africanos em contas offshore.

Outros virão

     Tenho muito falado e trazido textos sobre industrialização, e sobre desendustrialização também,  mas é preciso sobretudo fazermos algumas reflexões acerca da nossa própria vontade e capacidade de nos tornarmos industrializados; aqui utilizando o termo na sua plenitude; ou seja, pesquisando, projetando e fabricando. 
     Mas para conseguir cumprir o ciclo completo será necessário que nós como profissionais e empresários, mais do que governos, sejamos capazes de construir nossas empresas baseadas nos princípios da democracia e respeitando também nossa cultura. Em artigo anterior "Por que o Brasil se atrasa" de  Adriano Benayon, transcrito  do www.algoadizer.com.br, pode-se observar que a própria política de industrialização  está eivada de erros. Já é mais do que sabido que as "cabeças pensantes" da tecnocracia dos quadros do governo também foram formadas nos mesmos centros de formação dos tecnocratas neoliberais dos quadros das transnacionais. Como disse uma vez a Profa. Maria da Conceição Tavares, "esta rapaziada pode ter o coração na esquerda, mas a cabeça ainda pensa com a direita". E isso também é verdade para o empresariado que está aculturado no processo de geração de riqueza de antanho, quando os filhotes iam gastar o resultado do trabalho alheio nas praias de Biarritz, San Sebastian, Côte D´Azur e mais tarde iam esquiar em Chamonix; alguns iam para Aspen CO, e os mais simplesinhos iam para Bariloche ali pertinho.
   Quando a insigne professora falou da bipolaridade coração e cabeça, conseguiu uma síntese quase perfeita do conflito, se existe, que ainda habita a cabeça de empresários e mesmo dos tecnocratas; afinal ambos disputam os mesmos postos na classe média e foram formadas nos mesmos centros acadêmicos. Não importando aí qual a gradação desta média, se alta ou baixa. Importa sim, a competência e o compromisso de quem dirige os destinos da organização, ou privada ou governamental.
     O que temos visto é um descolamento da realidade brasileira, por parte daqueles desta classe que não firmaram um compromisso com o futuro. Quando falo futuro obviamente estou falando dos nossos filhos; e nossos aqui significa todos. 
     A industrialização é apenas fruto da capacidade de trabalho e superação, como foi provado na maior e mais poderosa nação do mundo, independentemente dos meios de exploração interna e externa que utilizaram, e ainda utilizam. Mas foi o resultado do insofismável sacrifício de seu povo
     O nosso povo também tem mostrado esta capacidade, mas as nossas próprias elites não. Mas já começamos com o Irineu Evangelista de Souza que trouxe a energia e a necessidade de sobreviver lá dos pampas. Igual ao Barão, tenho certeza que outros virão.

Transcrição do ALGO A DIZER


A transcrição aqui serve como concordância mas, sobretudo, como alerta.


Por que o Brasil se atrasa

Por Adriano Benayon

A desindustrialização do Brasil não tem sido explicada adequadamente, sequer pelos economistas menos vinculados à ideologia das corporações transnacionais.
2. Em entrevista à BBC (13/7/2012), Gabriel Palma, professor da Universidade de Cambridge, Inglaterra, lembrou que, em 1980, a produção industrial no Brasil superava a do conjunto formado por China, Índia, Coreia do Sul, Malásia e Tailândia e que, em 2010, já não  representava senão 10% do total produzido nesses países.
3. O economista Leonardo Guimarães Neto, publicou artigo no portal do Centro Celso Furtado, Ano 6 - Edição 8,  Recife, 13.04.2012, intitulado “A retomada da indústria brasileira: o recado de Antônio Barros de Castro”.
4. Nele aprecia o pacote de estímulos, de R$ 60 bilhões, à indústria brasileira (sic), incluindo: desoneração fiscal, ampliação e barateamento do crédito; redução de até 30% do imposto sobre produtos industrializados para o setor automobilístico; redirecionamento de compras governamentais para bens produzidos internamente; redução de impostos  na tecnologia da informação.
5. Deixa de denunciar mais esse absurdo presente à predadora indústria automobilística estrangeira, que não cessa de descapitalizar o País, enviando ao exterior os ganhos oligopolistas arrancados dos consumidores nacionais.
6. Omite também que, sob a presente estrutura industrial, dominada pelas transnacionais, os investimentos e subsídios aos centros de pesquisa tecnológica significam desperdício de recursos públicos, porquanto, não havendo empresas nacionais viáveis no mercado, só ínfima fração do resultado das pesquisas resultará em inovação tecnológica.
7. Observa Guimarães, que, embora bem recebido, o pacote  foi considerado insuficiente por sindicatos patronais e de trabalhadores. Esses reclamam: (i) desvalorização cambial, (ii) redução dos juros e dos spreads bancários e (iii) redução do preço de insumos fundamentais para a atividade industrial, como a energia elétrica.
8. Segundo Guimarães, a perda de competitividade da indústria nacional [sic] não se deve só  ao custo Brasil: enorme carga tributária; juros e spreads bancários altos; elevados preços da energia elétrica; enormes déficits de infra-estrutura de transporte e logística.
9. A perda estaria associada à reduzida capacidade de inovação da grande maioria dos segmentos produtivos da indústria nacional (sic), em contexto de acelerado avanço tecnológico nos países competidores, tais como a China.
10. Precisamos, porém, ir mais fundo. Entender por que essa capacidade é reduzida. Daí, inseri três vezes o advérbio latino “sic”, após “indústria brasileira ou nacional, porque a questão básica, intocada nas discussões correntes, é a desnacionalização, o fato de a produção realizada no Brasil não ser nacional, mas subordinada às matrizes das transnacionais estrangeiras que a controlam.
11. É ridículo falar em inovação tecnológica com a indústria desnacionalizada e com os seus centros das decisões sobre produção e mercados, situados no exterior.
12. Se não há inovação tecnológica no Brasil é porque as transnacionais se apropriaram de tecnologias no exterior, amortizaram-nas com as vendas em outros mercados e as utilizam aqui a custo real zero, tal como acontece com as máquinas e equipamentos importados a preços superfaturados.
13. Por que, então, tais indústrias não são competitivas, se seus custos reais de produção são extremamente baixos, ademais de as transnacionais receberem colossais subsídios prodigalizados pelos governos federal, estaduais e municipais?
14. Porque o valor contábil das despesas das subsidiárias no Brasil é levado às alturas, através dos preços que estas pagam às matrizes nas importações dos bens de produção (inclusive o da tecnologia, jamais transferida): os bens de capital e os insumos, tudo é superfaturado, além de serviços sobrefaturados e até fictícios.
15. Em suma, as políticas de favorecimento às transnacionais, inauguradas em 1954, e intensificadas desde então, fazem que os brasileiros paguem para se tornarem pobres. Os fabulosos lucros reais obtidos pelas transnacionais são transferidos ao exterior, não apenas como tal, mas também através desses superfaturamentos e do subfaturamento de exportações.
16. Estando a economia concentrada por empresas transnacionais e bancos, na maioria desnacionalizados, e os “nacionais” associados aos estrangeiros e com eles ideologicamente alinhados, é esse sistema imperial que elege os “governantes” nos poderes do Estado brasileiro, pois as eleições dependem dos dinheiros para as campanhas e do acesso às redes de TV comerciais, vinculadas aos mesmos interesses.
17. Em tais condições, tornam-se inócuos os votos piedosos dos economistas, quando recomendam reformular a infra-estrutura de transportes e logística, baixar os juros até o patamar internacional (o que viabilizaria reduzir a carga tributária), desvalorizar a taxa cambial etc.
18. Mantendo-se a atual estrutura de poder, essas medidas seriam irrealizáveis, além de que, para funcionarem, acarretariam a necessidade do controle de capitais e da estatização dos principais bancos, ou seja, políticas ainda menos toleráveis para os aproveitadores dessa estrutura.
19. Assim, o governo que empreendesse tais políticas, seria desestabilizado e derrubado antes de promover a indispensável passagem do controle da indústria para capitais nacionais, privados e públicos.
20. Se a indústria não for realmente nacional, jamais terá chance de ser competitiva. O mesmo se aplica à infra-estrutura econômica (energia, transportes e comunicações) e à social (saúde, educação e cultura).  Há que desmercadorizar os serviços públicos e eliminar as agências “reguladoras”, devolvendo o poder delas ao Estado.
21. Também importante para o Estado  recuperar funções perdidas com o modelo do “consenso de Washington” é a total reformulação da administração pública, generalizando-se os concursos públicos, a formação de técnicos e administradores, e instituindo a aferição de desempenho, com possibilidade de demissão, seleção de quadros desde a escola primária etc.
22. Voltando a Guimarães: “Segundo Antônio Barros de Castro ...não se trata hoje de superar um hiato em relação a concorrentes que evoluíam lentamente em termos tecnológicos e de produtividade. Para ele, esta premissa não existe mais, e os concorrentes do Brasil, notadamente a China, ‘ainda estão alcançando novos patamares de produtividade e aumentando o esforço tecnológico para acelerar sua eficiência.’  A China teria superado a fase de "made in China" para outra de "created in China".
23. Ora, como assinalei no artigo “Tecnologia, desenvolvimento e ilusões”, publicado em maio, é incrível que até os  economistas que não se restringem a discutir política macroeconômica, conclamem para a necessidade de inovação tecnológica sem reconhecerem a impossibilidade dela num país cujos mercados estão sob controle praticamente total de empresas transnacionais. 
24. Em artigo próximo tentarei resumir a avassaladora ocupação da economia brasileira, a qual prossegue em tal velocidade, que a empresa nacional é, cada vez mais, espécie em extinção.
25. De novo, Guimarães: “Castro acredita que o Brasil, de início, deve ganhar tempo até induzir as grandes transformações, garantindo superávits no balanço de pagamento por 10 ou 15 anos com petróleo e matérias primas agrícolas, além da expansão do mercado interno ‘colocando areia para limitar a ocupação do mercado interno por importações ...’.”
26. Isso seria, na realidade, perder tempo. E o Brasil já se atrasou demasiado nos últimos 58 anos! Proteção para a indústria, na atual estrutura, só favorece as transnacionais e eleva os incalculáveis prejuízos que vêm causando ao País.
27. De resto, enquanto se dilapidam os recursos naturais através das exportações primárias, as receitas são usadas para pagar por serviços superfaturados e fictícios às matrizes das transnacionais, e para importar bens de alto valor agregado e insumos grandemente superfaturados. Nem se fica sabendo o que valem as matérias-primas exportadas, nem o balanço de pagamentos se equilibra sem endividamento.
28. Isso implica fomentar a estrutura econômica atrasada, como a da Venezuela, por mais de um século, antes de Chávez: exportar quantidades fabulosas de petróleo e ficar com a estrutura econômica mais primitiva da América do Sul, para gáudio do império anglo-americano.
29. Com governos acomodados às imposições do império, até por carecerem de consciência nacional, as transnacionais estão ocupando até os espaços recomendados por Barros de Castro e seguidores, como a agroindústria do etanol e a química baseada na  energia vegetal. Note-se que nem falam dos óleos vegetais, como o dendê, capaz de produzir mais óleo — melhor que o de petróleo — do que a Arábia Saudita.

Adriano Benayon é doutor em economia e autor de "Globalização versus Desenvolvimento" (Escrituras). Contato: abenayon@brturbo.com.br

Da greve dos universitários até Freire

Resgatei este artigo do blog anterior (www. jcarlosoliv.blogspot.com), pois gostaria que a reflexão sobre o atual momento da greve dos professores tivesse este contributo, para dar valor aos valores reclamados.

 Era março de 2010

Abaixo a Pedagogia, (uma mensagem aos pedagogos)

De eleições já falamos, cabe agora seguir com a educação e a segurança como tema; daí ter retirado este texto de algum escrito que já me parece antigo, mas que serve para inaugurarmos uma nova fase "Segurança e Educação", pois estas são produtos mútuos de civiliuzação. Espero que apreciem.
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O título aqui não se trata de uma manifestação revolucionária, jamais pude vê-lo em alguma passeata; seja em 1968 ou agora, seja em Paris ou Rio de Janeiro, ou São Paulo, ou Tókio. Mas não posso dizer que não se trata de um pensamento revolucionário, é sim. Mas de uma revolução que já vem se construindo em cima da antiga forma de ver a sociedade educadora, onde ministrar conhecimento, passava por transferir informação, ou dados e, dependendo da competência ou do bom humor do professor ou da professora, estimular a pensar, liberar as competências naturais sedimentadas por milhares de gerações, ainda que não tão letradas, mas que sofreram, erraram e aprenderam a sobreviver e a evoluir, e ainda instigar a curiosidade. Tal revolução vem ocorrendo desde o teclado do computador até o acesso a rede internet, onde muito se vê, muito se ouve, muito se comunica e muito se informa. Tudo em uma velocidade impossível de ser emulada pelo ensinante, esteja este em uma rica instituição de ensino das grandes capitais ou em uma remota escola rural, ou até em uma estação de trabalho coletiva na praça do vilarejo. A inclusão digital vem crescendo quase que de forma independente até da vontade daqueles que tem como missão instituí-la e mais ainda das pessoas ensinantes. Tudo isto por um único fato, é que na rede probabilística virtual, na web, o aprendizado se faz pela imitação das conexões neurais. Ela, a rede internet, imita as conexões neurais construídas por processos probabilísticos, fazendo então com que a construção do conhecimento, através da busca da informação, “googles” e outras formas, se faça por processos mais próximos ao do aprendente e plasticamente mais adequados, com isso de forma mais rápida e seletiva, sem ter que passar pela estranha epistemologia criada pelo ensinante. O que muito freqüentemente se faz de forma dolorosa, porque punitiva: aprendeu, muito bem, não aprendeu, zero. É preto ou branco. Sem espaços para novas tentativas, áreas cinzas, novas estratégias, novas abordagens. Afinal, como adequar um único processo ensinante para trinta (às vezes mais) diferentes seres humanos aprendentes fechados dentro de uma sala?
Gostaria até de repetir Dimantas[1], “não sou pedagogo”, mas aprendi com eles, o que fazer. Nem posso dizer que o que não aprendi foi por culpa deles, se não pela minha própria malandragem, diria Bezerra da Silva. Mas muito do que não consegui aprender pela forma tradicional, com ou sem esforço do ensinante e do aprendente, eu mesmo, consegui fazê-lo de forma rápida, talvez nem tanto consistente, através do que garimpei na internet nos sítios de livre busca e informação. Poderia citar um sem número de conceitos matemáticos, sociológicos, históricos que consegui capturar baseado apenas na curiosidade estimulada e favorecida pela enorme oferta de informação; comportamento muito semelhante aquele da fome diante de uma mesa farta e variada; a exposição tentadora do conhecimento, fácil de ser construído pela informação abundante e diferenciada, e em boa parte das vezes até inalcançável dado a imensidão das potenciais respostas, mas lá presente. A mente sabedora desta disponibilidade constrói então, por métodos naturais registrados em estratos vagais, uma forma heurística de busca, até satisfazer seu apetite, tal como faria o predador na busca pela sua presa. Aliás, como já o fizemos com sucesso há milhares e milhares de anos atrás; sendo bem sucedidos então, memorizamos a estratégia de busca que acabou se explicitando nos famosos e eficazes algoritmos dos “googles” e semelhantes. Entretanto ocorre que o aprendizado via máquina de busca, depende apenas da intencionalidade do aprendente. A máquina não faz o mínimo esforço em favor da intencionalidade, tampouco tem um compromisso explícito para este fim, apesar de implicitamente os criadores da tecnologia tivessem a intenção e motivação para fazê-lo. Aí então aparece a questão fundamental que deverá ser respondida pelos pedagogos: - será possível construir uma pedagogia distante da tecnologia? Esta questão está sendo colocada não como uma libelo acusatório. A pedagogia como saber estruturado não é passível de acusação ou de elogio, a pedagogia a que me refiro é aquela assumida pelos seus profissionais. Estes sim, terão de assumir cada vez mais a sua condição de ensinante intencional e não um veículo de informação para o aprendente. Cada vez mais esta posição de repassador de informação será assumida pelos sistemas eletrônicos. Seu engajamento na intencionalidade do aprendente terá de ser inteligente, técnica e ainda emocional, pois sem emoção perde para a máquina, como já tinha se observado desde a difusão da televisão. Certa época dava aula noturna em uma faculdade de administração e tive que sofrer a competição desigual com as moças maravilhosas da novela Roque Santeiro. Tive de me passar por Sinhozinho Malta para me engajar no emocional e percebi então que a competição tramava a meu favor; a acumulação de bens, o controle de inventário, a política de pessoal, o planejamento financeiro passavam então a ser os elementos que colocavam o personagem da novela como estímulo a resposta aprendente, pois a punição da nota pouco ou nada podia fazer contra os encantos das personagens e a imensa qualidade artística do elenco. O que estava escrito no Manual do Professor pouca valia tinha para garantir a intencionalidade do aprendente. Estabelecia-se ali, muito antes do advento da internet, uma complexa construção de uma pedagogia inclusiva, onde, não apenas a tecnologia, mas a arte, arquitetavam, em conluio, uma estratégia para vencer. Vencer o descaso, vencer o cansaço da aula noturna, vencer a distância que havia entre o “mundo acadêmico”, o mundo da nota, e o “mundo real”, o mundo de notas. Hoje esta experiência me serviu como base para alcançar a visão da complementaridade entre a “internet” e a “aula”, a complementaridade entre a pedagogia do “ensinante” e a pedagogia do “aprendente”, não mais restrita aos atores que se opõe; de um lado o que interpreta a teoria, e de outro, os que interpretam a realidade da prática. Aliás o fantástico Paulo Freire, mais do que pedagogo, visionário, assim via com décadas de antecedência[2]. Tivesse vivo, tenho certeza, já teria criado um jeito de enquadrar a internet em seus princípios pedagógicos: a colaboração, a união, a organização e a síntese cultural[3].
a. Colaboração - a ação dialógica só se dá coletivamente, entre sujeitos, "ainda que tenham níveis distintos de função, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na comunicação" (p.197);
b. União - a classe popular tem de estar unida e não dividida, pois significa "a união solidária entre si, implica esta união, indiscutivelmente, numa consciência de classe" (p.205);
c. Organização - "[...] é o momento altamente pedagógico, em que a liderança e o povo fazem juntos o aprendizado da autoridade e da liberdade verdadeiras que ambos, como um só corpo, buscam instaurar, com a transformação da realidade que os mediatiza" (p.211);
d. Síntese cultural - consiste "na ação histórica, se apresenta como instrumento de superação da própria cultura alienada e alienante". "[...] faz da realidade objeto de sua análise crítica" (p.p.214 -215).
(os grifos são meus)
Estes quatro elementos (colaboração, união, organização e síntese cultural) poderiam perfeitamente se servir da internet pois os atributos “comunicação”, “união solidária”, “realidade mediatizante” e “análise crítica” estão presentes na construção desta rede. Logo o pedagogo da atualidade terá a seu favor, não somente a receita de Paulo Freire mas também os recursos para aviá-la na intenção de curar este mal da educação que assola o país. Assim como não é a medicina que cura o doente mas sim o médico, não será a pedagogia que irá curar este mal, mas o pedagogo. Cabe a este se imbuir da missão, da intenção e da técnica, pois sem ela haverá apenas boas e desastrosas intenções; nem dá para transferir para a pedagogia as virtudes ou as falhas do aprendizado; inexoravelmente estará, sentado diante do teclado do computador, ligado na internet, e mesmo na sala de aula praticando os ideais do Mestre Freire:
o O amor ao mundo e aos homens como um ato de criação e recriação;
o A humildade, como qualidade compatível com o diálogo;
o A fé, como algo que se deve instaurar antes mesmo que o diálogo aconteça, pois o homem precisa ter fé no próprio homem. Não se trata aqui de um sentimento que fica no plano divinal, mas de um fundamento que creia no poder de criar e recriar, fazer e refazer, através da ação e reflexão;
o A esperança, que se caracteriza pela espera de algo que se luta;
o A confiança, como conseqüência óbvia do que se acredita enquanto se luta;
o A criticidade, que percebe a realidade como conflituosa, e inserida num contexto histórico que é dinâmico.
Estes ideais, não importa a natureza dos conflitos da sociedade, não importa quão avançada a tecnologia esteja, tão veloz a internet trafegue pelo mundo, tão eficaz sejam as máquinas de busca, serão eternos como o homem. A pedagogia terá de abraçá-los. Portanto posso dizer: Abaixo a pedagogia, viva o pedagogo.


[1] Hernani Dimantas é coordenador do Laboratório de Inclusão Digital e Educação Comunitária da Escola do Futuro - USP. Articulador do MetaReciclagem e editor do comunix. – ver Le Monde Diplomatique ( http://diplo.uol.com.br/ )
[2] De teoria, na verdade, precisamos nós. De teoria que implica uma inserção na realidade, num contato analítico com o existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vivê-lo plenamente, praticamente. Neste sentido é que teorizar é contemplar. Não no sentido distorcido que lhe damos, de oposição à realidade [...] (Freire, 1979, p.93) .
[3] Freire, Paulo. Educação como prática da liberdade (1979), Paz e Terra. Rio de Janeiro
_______. Pedagogia do Oprimido. (1983). Paz e Terra. ( Coleção O Mundo, Hoje,v.21).

terça-feira, 17 de julho de 2012

A prova da prova

      O assunto por si só implica em uma dualidade na sua própria concepção: centralização versus descentralização.
      Recuperar este assunto para reflexão serve ao propósito de reforçar o que foi adrede comentado: instalar as fontes de produção agrícola e mesmo industriais próximas aos locais de consumo. 
      Por consequência, a lógica elementar já aponta para as mazelas da concentração industrial na Região Sudeste, além de, nestas mesmas, haver concentração nas capitais e cercanias. Tal concentração gera os já conhecidos e enfadonhos problemas de transporte, de distribuição de gêneros alimentícios e demais de consumo, distribuição de água e energia, de esgotamento sanitário, afora as consequências na segurança pública que são potencializadas pela concentração de renda, pela ausência do Estado em todos os ramos de atividade, ausência esta que se acelerou nesta metade do século.
      Trazer a questão da centralização à tona é fundamental, pois esta é uma das mais terríveis consequências da concentração de poder e da riqueza, uma interagindo e realimentando a outra.  
Vivenciamos em todas as áreas de atividade de governo dos entes federados, uma exagerada concentração das decisões, derivada do esvaziamento de autoridade que foi cultivado em nossas próprias mentes, como consequência de uma ética excludente:  a da participação do homem comum, o que produz, o que trabalha, o munícipe. Corrigir esta distorção absurda em nossos modelos mentais, significa corrigir os processos decisórios que levam à concentração urbana no final linha de comando, dos comandos.
      Seria útil aprofundar este pensamento mas, com uma contribuição proporcional ao meu próprio saber, ou seja, pequena, posso, encurtando caminhos, expressar o seguinte: Produzido no Brasil, ou seja, no AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RO, RS, RR, SC, SE, SP, TO.  Não é exagero, acabo de consumir aqui no RJ uma deliciosa geléia de cupuaçu, manufaturada em Roraima, só que enviada para Dusseldorf. (tive que provar)  

Passou dos limites do burlesco

      Não seria elegante de minha parte me surpreender com o que se publica na grande imprensa; não tenho mais idade para estas frescuras, me perdoe o leitor a sinceridade. Nada mais ético e útil tenho a esperar desta gente. Mas, trazer a ex-esposa de Fernando Collor  para falar de magia negra passa dos limites do ridículo, vai além. É peça de extremo mau gosto e de indisfarçável desesepero. 
      Fernando Collor não disse meias palavras na CPI, não enfeitou, nem maquiou nada ; simplesmente foi direto em relação ao PGR e a esposa: faziam moeda de troca. Então posso concluir com facilidade que já passou da hora de chamar este procurador geral e a sua esposa às falas. Fazem de um cargo caro ( aqui nos dois sentidos ) à República uma avacalhação grotesca.
      Até entendo a motivação pessoal de Collor com a Veja; afinal esta revista e o repórter que "cobriu" a entrevista de seu falecido irmão não mostraram nem piedade e nem respeito a um moribundo. Ato que não se pode dizer digno de um animal mamífero, quanto mais de um homem. Este repórter sabe que pagará por este ato infame, de uma forma ou de outra; tomara que não seja com um ente querido seu. Quanto ao dono da revista, este já iniciou a purgação daquele ato torpe: está vendo tudo ir vindo abaixo, diante de seus olhos. Afinal, buscou.
     Não poderia deixar passar a oportunidade de falar da lamentável reportagem sobre esta senhora. Ela também, ainda que ingenuamente, sofrerá consequências desta baixaria. Será, mais cedo ou mais tarde, lançada pelos atuais entrevistadores, interessados em outra coisa mais do que abjeta, no esquecimento, se não a denegrirem também. Pobre mulher.
      Já havia me prometido não comentar sobre a baixaria que grassa na grande(?) imprensa, mas essa passou dos limites. O que desejo mesmo é tratar dos assuntos da produção e da nossa independência econômica, mas aí se enseja falar de nossa independência moral e cultural.
         

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Agora temos pressa

      As diversas análises feitas por diversos analistas especializados dão como certo o prolongamento da crise, a própria Lagarde assim afirma. Mas mesmo não sendo economista não acredito em crise perene; acredito sim, em processos de acomodação, mutação e renovação. Baseado nessa afirmação penso que teremos ainda o capitalismo como sendo o regime que irá guiar a economia das nações, por um bom par de décadas. Até que este, de dão metamorfoseado, terá outro nome, ou mesmo irá se parecer com um socialismo, que por sua vez também terá se transformado. 
      Ou seja, os rótulos e os extremismos terão que limar suas arestas e encurtar distâncias, pois a tarefa de distribuir alimento equanimemente para os sete bilhões de bocas, terá de ser enfrentada sem frescuras ideológicas. E esta tarefa não mais poderá ser cumprida de qualquer jeito; teremos de fazê-la ecológica e economicamente viável. As desculpas do passado, opondo crescimento à conservação do meio ambiente, não são mais aceitas. Falo do passado, mas numa época, tão recente e tão presente, em que valia tudo, pois junto à ignorância caminhava a ganância destruindo tudo o que via pela frente, rio, floresta, espécies animais. As lições aprendidas, no limiar da percepção de quão complexo é o sistema em nos situamos, (as que não foram aprendidas não contam obviamente, teremos que purgá-las) nos indicam e alertam para escassez de tempo. 
      Estamos diante de uma situação que obriga à evolução  dos sistemas de governo e dos sistemas econômicos em ritmo acelerado, pois a continuação da miséria na África poderá levar a deflagração de novas epidemias (já foi a AIDS, seria agora o Ebola?) e novas tensões sociais e conflitos derivados, como foram no Sudão, no Tchad, na Nigéria, sem contar os que não são veiculados na mídia nativa, mas que desdobram efeitos na Europa. Nesse ponto a ação diplomática do Brasil serve de exemplo, visto serve a interesses mútuos africanos e brasileiro, são pacíficos e não estão sob a arcaica égide da exploração.
       Mas diante deste cenário e da necessária presteza nas ações preventivas, sejam estas tomadas no plano social, da saúde, do saneamento, no controle da urbanização, no plano econômico, no plano político e mesmo na segurança pública e defesa, fica evidente a necessária capacitação do suprimento de alimentos manufaturados, equipamentos de toda natureza, feita de forma descentralizada. Isto implica em produzir o mais próximo possível do local de consumo e de uso. A consequência mais imediata é a minimização dos custos de transportes; mas a mais importante é equilibrar a demanda e o suprimento. Falamos da arcaica égide da exploração, exatamente para retomar esta questão agora, já que não será apenas o custo de transporte que será minimizado. Será a minimização do desemprego, causa da maioria dos males, será a criação das oportunidades de educação, será a busca por relações sociais mais estáveis e sadias, estejamos no plano interno e mesmo tratando de relações internacionais. Portanto temos que começar pela nossa casa. Comecemos estimulando a produção local, como já dito, minimizando custos de transporte e a poluição consequente.  Isto é verdade para toda gama da manufatura será tão eficaz quão maior for a variedade de produtos.
     Caminhar nesta direção exige o primeiro passo, e este é "Made in Brazil".