segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Há de haver limites

     Ando meio perplexo diante da campanha que está sendo desenvolvida pela mídia, aqui entenda-se os grandes, no único e raso intuito eleitoreiro. Não existe um mínimo de razoabilidade. Não se percebe a menor intenção (também nem se preocupam mais em parecer intelectualmente honestos) de ser útil a nação; de ter uma proposta de progresso, de melhoria do povo; nada, absolutamente nada. Apegam-se às mais variadas formas de degradação de seu "inimigo". Uso as aspas pois não são capazes de entender divergências, muito menos aceitá-las, já que se radicaliza qualquer forma de política de distribuição de riqueza como demagógica, populista e, in-extremis, comunista. Tal precarização da capacidade de percepção da realidade social, acaba por contaminar a percepção da realidade econômica, empresarial e transpassa a realidade que corre do macro ao micro. 
      Da percepção da realidade macro-econômica a realidade de sua empresa, alguns empresários ainda se apegam aos velhos e desgastados discursos que remontam a bipolaridade dos tempos da guerra-fria. A percepção binária melhor se acomoda à limitação intelectual e, portanto, não consegue alcançar a dimensão da atual multipolaridade. Atualidade que desde o fim do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, o fim da Era Neoliberal, o fim do Consenso de Washington, estabelece diferentes pólos de influência no cenário mundial, restabelecendo uma condição cíclica de equilíbrio que remonta a primitivos tempos renascentistas.       Da sístole da aglutinação de economias a diástole da dispersão destas no mesmo espaço físico, percebe-se a lenta mudança dos padrões ideológicos. O próprio Lenin tinha uma frase mais ou menos assim: "O poder das idéias é tão forte, que mesmo que a realidade as contrarie, elas permanecem". É desta forma que percebo a permanência da bipolaridade, tanto à esquerda, quanto à direita do espectro político e que permeia os quadros tanto da gestão pública quanto a da privada.  O diferencial de incertezas e incompreensões é que estabelece o "teatro de operações" desta guerra, onde forças reacionárias emperram os esforços pelo progresso e diminuição do sofrimento dos mais pobres. O leilão de Libra promoveu uma excelente oportunidade de observação destes extremos bipolares; por um lado a esquerda queria permanecer sentada em cima da riqueza, por outro a direita queria  entregá-la a qualquer preço ao estrangeiro ( desde que não fosse chinês ). A solução, complexa como é a natureza do problema, incorporando as componentes de defesa econômica e defesa militar, ultrapassou a capacidade de análise de muitos e consequentemente os deixou à mercê de "formadores de opinião", mais do que espertos, rapaces.
      Juntamente à esta questão da complexidade  da sobrevivência e do progresso em meio a disputa entre as nações, aparece agora a vulgarização da ética, que passou rapidamente de "favorita do bordel" a "ecclesia beatae", atropelando direitos, desconstruindo conquistas jurisdicionais, tudo em nome de uma ética que quer ser beata mas acaba por revelar a sua condição de favorita de bordel; eleita pelos frequentadores mais do que fieis ao ambiente da malandragem.
      Todos temos a obrigação de refletir sobre o atual momento, concordem ou não com a minha opinião, pois o limite da paciência dos homens de bem está chegando a um ponto crítico. Não será a condição econômica mundial; não será o "pib", não será a balança de pagamento. Não serão razões econômicas, mas razões éticas que levarão homens da minha idade a cobrar agora nas ruas energia para com estas falsas beatas, que estão se aproveitando da boa fé de muitos e de poucos. Os donos dos meios de comunicação corrompidos têm de enxergar que já passaram dos limites.  

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Trabalho, Justiça e Produtividade

  Lendo o artigo sobre o trabalho de dissertação de Thiago Figueiredo Fonseca Ribeiro em  "http://www.unicamp.br/unicamp/ju/581/estudo-investiga-efeitos-e-alcance-da-autogestao" me veio a lembrança de uma postagem antiga onde mencionava os modismos gerenciais. Volta e meia aparecem, em meio a uma sopa de letras, novas (?) técnicas e métodos gerenciais que prometem o céu e a terra e passam a ser a "novelle vague" dos agraciados com "emebieis" fajutos que apenas servem para informar,  quando, por dever e mesmo por lei, deveriam estar incentivando a pensar, a criar, e a ousar novas teorias, novas ideias, para sairmos da condição de dependentes ou incapazes.
       Há bem uns trinta e cinco anos que venho estudando os métodos de planejamento e programação de produção na busca da simplicidade mas, principalmente, na capacidade de construir soluções próprias; e mais do que isso, na busca da competência e suficiência para ousar, no intuito de ajudar as industrias brasileiras. Isto me move então à algumas palavras, mas tenho ainda que fazer algumas referências históricas. É próprio dos "vividos", para não dizer idosos.

      Não posso esquecer do encontro que tive com o professor israelense Elyahu Goldratt em 1978 em Fort Lauderdale, na Flórida, quando ele construía a sua obra "A Meta" que, praticamente, mudava o enfoque de gestão e produtividade diante do "milagre japonês". Nesta época as industrias americanas sofriam uma concorrência imensa das congêneres japonesas e não sabiam mesmo fazer frente a invasão de seus produtos de baixo custo e alta qualidade. Duas características que, nos moldes da cultura ocidental até então, eram antagônicas. O professor Goldratt apontou então, naquela época, a fórmula do poder de competição dos nipônicos: geravam excesso de capacidade. Aos ouvidos ocidentais isso soava como uma heresia. No entanto, mostrou o professor Goldratt, que o excesso ocorria exatamente onde era necessário. Ou seja, onde o Japão mais precisava: em grãos, em petróleo, em minério de ferro, em matérias primas. Pois em capacidade industrial, em qualidade de mão-de-obra, em custo de mão-de-obra, realmente havia suficiência. Isto implicava dizer que, na prática, é nestes pontos que se podia ousar em economizar. 
Daí vieram os programas "zero-inventories", "kan-ban", "just-in-time", "total quality control". Todos visando economizar onde podiam, sem nenhum prejuízo da qualidade. - Faltasse grãos, não lograriam qualidade, pois ninguém produz esfaimado; faltasse petróleo nem ligariam as máquinas operatrizes, nem robôs; faltasse minério de ferro, não haveria metalurgia. Investiram então pesado nessas commodities, independentemente dos preços até. Na construção de Itaipú vendiam seus pneus de trator a um terço dos concorrentes. Na expansão das telecomunicações no Brasil, ganharam a maioria das concorrências. NEC, Fujitsu, Hitachi, Mitsui, Mitsubishi, Toshiba, bateram suas equivalentes americanas e europeias; algumas destas até fecharam ou tiveram que se fundir. 
      Mas o "Milagre Japonês" acabou. Como? Acreditaram na abundância do recurso do capital. Nem precisa lembrar que agora tiveram que "se reagrupar", usando um termo militar, na construção, ou reconstrução, dos seus "keiretsu", que são grupos financeiros que se apóiam, não ao contrário, nas grandes industrias. Os keiresu´s  Mitsubishi, mais autônomo, o Mitsui, o Sumitomo, o Fuyo, o Daichi-Kangyo, o Midorikai, todos se apoiam em indústrias famosas, cujas marcas ( Mazda, NEC, Toyota, Nissan, Isuzu, etc...) mesmo após a "bolha" (eufemismo para conto-do-vigário) financeira e imobiliária, voltam a fazer frente até aos chineses. 
      Não entrando então no fulcro da questão econômica, mas sim naquela relativa aos métodos gerenciais de planejamento, controle de produção e produtividade, quero lembrar a necessidade de se aprofundar nas questões básicas da produção e do trabalho. A dissertação do Thiago Figueiredo Fonseca Ribeiro traz a tona a importância das questões relativas ao trabalho, a sua valorização e a importância do Estado como agente impulsionador de progresso e do desenvolvimento industrial. Daí a necessidade de, antes mesmo de discutir métodos, estabelecer os valores que estão postos na definição do problema industrial. Nem quero passar pelos antecedentes sociológicos da educação de qualidade para todos, da justiça para todos, do direito ao trabalho para todos, e do estímulo à produção nacional em lugar dos juros. Já são pontos absolutamente unânimes nas mentes à esquerda e à direita do espectro político. Creio. Conseguidas as encomendas estimuladas pelo Governo, como fez o o MITI do Japão à época do milagre, aí sim vamos optar por este ou aquele  método. Ter método e não ter encomenda não faz sentido. 
      A leitura da mencionada dissertação da Unicamp me estimula a rever a evolução da metodologia concernente a evolução da tecnologia da informação. Do PERT ao MRP, ao MRPII, ao Kan-Ban, PLM, CRM, PMI, etc... todos passam pela construção de seus análogos naturais, seus modelos canônicos simplificados, pelo mapeamento de suas restrições e, no limite, na racionalidade de seus dirigentes no cumprimento da sua missão social. Justiça social sem lucro é utopia, ou ingenuidade. Lucro sem justiça social é suicídio. Todos que viveram as duas situações provaram do amargo e nos servem de exemplo.
      Leia a dissertação e veja o quanto esta suscita de reflexão.
     http://www.unicamp.br/unicamp/ju/581/estudo-investiga-efeitos-e-alcance-da-autogestao
    Trabalho, justiça e produtividade andam juntos.

Passou dos limites da sanidade mental

Postado originalmente em 09/08/2012, ou seja, há mais de um ano. Será que trocaremos o nome Gushinken por Genoíno? Esta farsa já foi longe demais. Nem mais os ingênuos e apedeutas controlados pelo que ouvem e vêem na TV estão acreditando neste espetáculo dantesco.


      Esse Procurador Geral é mesmo um inútil. Se não inútil, pior, pois conseguiu, por incompetência ou intenção, desmontar a oportunidade de se fazer justiça e mesmo gerar as condições jurídicas e políticas para implantação de uma nova forma de financiamento de campanha, expurgando o "caixa2", forma viciada que gera as oportunidades de lavagem de dinheiro. 
      Talvez movido por razões políticas, ou mesmo comparsiado com alguém, conseguiu fazer da ação penal 470, o mensalão da mídia, peça que está sendo desmontada pausadamente pelos advogados de defesa, alguns até de forma primária. Mas nenhuma defesa foi mais terrível que a de Luiz Gushiken, do advogado Luis Justiniano de Arantes Fernandes, que de forma até pouco extravagante, com pouca retórica, mostrou a real natureza da ação 470, um espetáculo político tal como foi a Carta Brandi. Nada mais. Simplesmente os procuradores Antônio Fernando de Souza e o atual Roberto Gurgel surrupiaram peça dos autos. 
      Nada mais há a dizer e fazer senão continuar tocar a vida e ir trabalhar, como faz aquela grande quantidade de lutadores que vejo aqui da minha janela desembarcar na Central do Brasil, absolutamente desligada desta farsa e preocupada com a sua difícil luta pela sobrevivência.
      Se observarmos pelo lado humano o sofrimento imposto a Gushiken pode ter se somatizado de tal forma a deixá-lo hoje neste estado de saúde.
     Se observarmos pelo lado jurídico, simplesmente o próprio procurador contaminou os autos e desmereceu a ação, ao negar acesso a documentos de defesa e mesmo retirar o laudo da Visanet. 
Resta agora esperar pelo pronunciamento da côrte suprema e seguir o exemplo dos anônimos lutadores aqui da Central do Brasil.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

O tema central, urgente

Fala-se em 100 dias de governo, mas os assuntos que deveriam estar pautados na última campanha eleitoral são poucos, ou nada, mencionados na grande imprensa. Também..., houve Carnaval, visita do Obama, realmente não havia tempo nem espaço para se ocupar de coisas que não eram mesmo do interesse da grande mídia. Mas o que vai esquentar o tempo será a regulamentação deste ambiente pouquíssimo higiênico onde habita a grande mídia e os governos. A qualidade do que se veicula é lamentável há muito tempo; portanto urge uma ação saneadora neste ambiente.
Parece claro que o Governo vai agir com tática cuidadosa, mas a batalha final será reservada ao Parlamento. É aqui que estará à prova a capacidade de mobilização das forças de vanguarda da sociedade, pois mais uma vez os jornalões vão fazer de tudo para manterem seus.....

Iniciei escrevendo este artigo em abril de 2011, ficou como rascunho este tempo todo e somente agora fui revê-lo para apagar da lista, mas me surpreendi, pois se o tivesse lido por volta de junho deste ano de 2013, acabaria por perceber que passeatas nada mais seriam que um eco e uma consequência do conflito entre construção e desconstrução que vem sendo travado entre Governo, mais propriamente Estado e mídia; nem pode se falar em Oposição, pois esta, a parlamentar se expõe e se envolve nos debates tendo de negociar. Os jornalões se travestiram de partido político, sem o ônus do voto conquistado. Daí esta situação que vivemos que se iguala a tentar acelerar com o freio-de-mão puxado.
Nem quero evoluir para a denúncia do denuncismo, para a manifestação crítica das manifestações, basta avaliar o que pude perceber naqueles cem dias. Hoje diria que a Dilma dos mil dias (não façam alusão a Ana, por favor) está mais pragmática ainda, mais segura e adquiriu, ou cristalizou, a plena consciência que está no cargo, não por acaso; tem uma missão, terrível, à cumprir. Missão esta que somente quem passou pela provação que passou teria a capacidade de cumprir: vencer um inimigo quase invisível, mas sempre presente, a concupiscência do poder econômico. 

Cismando a fila dos diligentes

    Da minha janela, no imponente prédio da Central do Brasil, com seu magnífico relógio, no centro do Rio de Janeiro, palco de manifestações históricas, posso ver o povo que sai dos trens e continua na sua luta para chegar ao lugar de trabalho; ou por ônibus, ou por metrô. Testemunhas e atores de uma luta que remonta à herança de um Estado prestativo para com os donos deste mesmo Estado, servil aos interesses do capital. A História conta e prova esta assertiva. Os trens que criados no final do século IXX, tiveram na construção deste imponente monumento art-deco, pronto em 1937, já no século XX, o apogeu do serviço e a marca indelével da era Getuliana. Populista, dizem alguns bem nascidos. Desde então o Estado deixa este serviço, deficitário por certo, apodrecer na incúria e na pactuação com os fabricantes de veículos (ônibus em chassis de  caminhões) recém instalados por JK, para transportar tudo, destruindo a ferrovia, inclusive a de carga, de forma impune. Hoje pagamos o preço, alto, desta traição. Seja no frete do tomate, seja no frete do aço, seja no transporte de passageiros. Hoje olho com a razão, mas outrora via este lugar com o terceiro olho da infância.
    Lembro que, onde hoje vejo a fila de espera dos ônibus, havia sobrados remanescentes da Rua General Pedra, que fora destruída para dar passagem a Avenida Presidente Vargas. Sobrados estes que em época de eleição, alugavam espaços na janela para a instalação de altofalantes, que propagandizavm os candidatos. Ou achavam que assim o faziam, pois o berreiro era tanto e os candidatos mais ainda, que o efeito desta propaganda talvez fosse o oposto desejado pelos canditados que gastavam ali suas verbas de campanha, muitas vezes mal explicadas.
    Lembro-me, pela mão de meu pai, saindo em 1950 da gare da Central e dando de frente com aquele espetáculo que, por tanto e negros anos, ficou silenciado. À época, com a intuição de criança, via que aquilo, aquela barulheira que me desagradava, ainda seria melhor que o silêncio.
    Hoje observo em silêncio a fila de ônibus. Trabalhadores que há pouco estavam desempregados, pacientes na espera daquilo que tanto lhes fora negado pelos bem nascidos, o trabalho. A demora na fila do ônibus, às vezes na chuva, em nada se compara a espera do emprego, do salário parco no final do mês. 
    Da janela continuo observando aquele espetáculo de dignidade. Fico cismando a fila, lembro de meu pai, e pensando o pensamento lá daqueles diligentes em direção ao trabalho. Lembro Provébios 12:27: "O preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do home é ser ele diligente"

A internet de todos


É com grande ansiedade que espero a implantação do PNBL-Programa Nacional de Banda Larga. Não para que se repita o fenômeno da TV - o sentido único da comunicação. O Programa tem que mudar o lema de "Internet para todos" para "Internet de todos". Esta sutil diferença léxica serve para marcar uma profunda diferença conceitual, que reside no fato que a internet tem que trazer para a grande urbe o produto cultural da brasilidade remota, que hoje, sem voz, só recebe o que lhe é imposto pelo império da comunicação. Forma moderna de escravização por um dominador cultural que mal ouve, mal fala e mal vê. Basta ter paciência para assistir a uma programação de final de semana da tv aberta. Louve-se o esforço da TVBrasil, mas as demais que não estão ao alcance do espectro de difusão aberta, são apenas acessíveis no sistema de assinatura, podem então, via internet banda-larga, alcançar a imensa brasilidade do interior que possui um acervo cultural imenso. 
É este acervo cultural que precisa estar disponível à sociedade brasileira, para que esta não seja consumidora cativa de refugo cultural alheio. A internet tem que aí estar para construir o caminho de volta, trazendo esta riqueza cultural e não apenas levando o lixo produzido pelo bas-fond des sociedades velhas e cansadas.
A internet para todos é a internet para produção cultural de todos, e não apenas a produção cultural dos poucos corrompidos por velhos esquemas viciados e dominados pelas velhas oligarcas.
A internet não será para todos se não for de todos. E sendo de todos, produtores e consumidores, maiores serão as chances de democratização do conteúdos. Por esta razão estão aí a fazer um enorme estardalhaço, pois a viabilidade da produção por parte de pequenas empresas levará inexoravelmente à  melhoria da qualidade através do aumento da quantidade, à criar massa crítica com poder seletivo e competitivo.
O PNBL tem de ser apoiado por todos os brasileiros pois, ainda que não seja a saída única para o imbroglio em que nos metemos na área da comunicação, será o aguilão a forçar as operadoras de telefonia e de tv à competir em condições mais limpas e com tarifas menos vergonhosas; afinal temos os custos mais ridículos de comunicação, se comparado a outros países democráticos.
Várias tentativas de evolução neste setor, simplesmente não vingaram, devido a dimensão do mercado restrito à poucas cidades periféricas aos grande centros, somando-se aí os custos de equipamentos, já que perdemos os esforços dos anos 70 e 80 da indústria nacional.
Transcrevo aqui o texto extraído do "PANORAMA DA COMUNICAÇÃO E DAS TELECOMUNICAÇÕES NO BRASIL - Vol I-109"
O setor apresenta características ambíguas no Brasil. Por um lado, tem indicadores de inovação e de esforço tecnológico mais elevado que a média do setor industrial, em função das características já citadas. Por outro lado, o setor apresenta duas fraquezas estruturais, que têm relação entre si. Em primeiro lugar, existe uma forte dependência da importação de componentes eletrônicos, que têm importância crescente no valor agregado dos produtos. Em segundo lugar, as firmas brasileiras em geral não participam da determinação dos novos padrões tecnológicos (como o LTE), que é feita por meio de alianças entre grandes corporações internacionais, em alguns casos com participação governamental. Neste mercado, as economias de rede são cruciais para a competitividade.
Como pode se observar neste texto o problema da comunicação não se restringe a um ministério, é um problema de todos os brasileiros, e por consequência do Governo como um todo. 

Não precisa nem de título, foi Fernando Brito que escreveu

iara

Iara, a Nordeste de Lula, é outro megacampo do pré-sal. 


Veja o que FHC entregou

12 de novembro de 2013 | 21:33
A Petrobras comunicou hoje a descoberta de petróleo médio-leve, de boa qualidade (28°API) no quinto poço perfurado desde que começou a prospectar o campo de Iara, a Nordeste do campo de Lula (ex-Tupi).
Todas as perfurações, que começaram em 2009, deram resultado positivo, com óleo semelhante e este último poço, chamado de Iara “Alto Ângulo”, como você vê na imagem, foi feito para dimensionar o polígono de exploração. Ao contrário dos demais, este poço tem parte de sua extensão na horizontal, para definir melhor os limites do reservatório rochoso.
E o que ele encontrou foi um horizonte de petróleo de 310 metros de extensão vertical, o que é muito. Equivale, por exemplo à espessura da coluna de rochas petrolíferas encontradas no poço descobridor de Libra.
A Petrobras não comenta, mas o resultado dos poços levanta a possibilidade de que Iara tenha um potencial maior do que o estimado anteriormente, entre 3 e 4 bilhões de barris. Há fortes possibilidades de que Iara seja cerca da metade do campo de Libra, o maior do mundo.
A área, porém, não vai ser explorada pelo regime de partilha. Foi licitada durante o Governo Fernando Henrique Cardoso e, ao menos, a Petrobras ficou com a maior parte (65%), a inglesa BG com 25% e a portuguesa Petrogal – aqui, agora, controlada pela chinesa Sinopec – com 10%.
Por Iara – que, repito, pode ser a metade de Libra – deu-se um lance de R$ 15 milhões, mil vezes menor que os R$ 15 bilhões de Libra.
O que é nada, incrível, perto dos 20 a 25% menos que teremos do petróleo, que pagará royalties e participação especial, em lugar de royalties e partilha.
Esses eram os “gênios” que hoje deitam falação, dizendo que eles é que sabem fazer “leilão bão”.
Por: Fernando Brito

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A esperança da educação

Após ler as notícias do leilão de Libra, tanto os que esclareciam o complexo sistema de partilha, quanto os que o criticavam, à partir da minha perspectiva própria de apoio a esta arrojada iniciativa de longo alcance geopolítico, que indubitavelmente foi a engenharia de formação deste consórcio, chego a conclusão que somente poderia  ter sucesso se fosse, como foi, gestado por três mulheres. Tivesse sido gestada a solução da partilha e o processo de oferta por homens, dificilmente iria se chegar ao ponto minimalista que se chegou.
Já tive a oportunidade de externar esta opinião a alguns companheiros que acharam que era uma provocação, ou troça, ou brincadeira da minha parte. Mas não é não, acho mesmo que estas três mulheres, as senhoras Dilma, Maria da Graças e Magda engendraram esta abrangência como só as mulheres sabem fazer. É a vocação intrínseca à gestação complexa destas mulheres que fez do leilão, um caso concreto de parto natural de uma solução complexa, já que o problema de maximização dos interesses consorciados não poderia obviamente ter uma solução que não tivesse sido previamente simulada, negociada, ensaiada dentro de uma ambientação propícia. Um leilão nos moldes tradicionais, teria sido um desastre, não importa a direção que tomasse e quem saísse vitorioso; todos sairiam perdendo. Porque o problema de conciliar interesses diversos, distintos e até conflitantes não aceita uma solução trivial e rápida; tem de ser construída. O problema não é trivial. 
Mas a capacidade de arranjar os recursos, a prospecção de interesses e a avaliação das potencialidades  é uma das competências naturais femininas. Junte-se a estas competências naturais, o fato que uma economista, uma engenheira química e uma engenheira civil terem a vocação natural da proteção. São mulheres. Portanto não foram apenas os números e as engenharias, desenvolvidas durante um bom tempo, que levaram ao caso ótimo. Foi a proteção de interesses comprometidos que inclusive atendeu ao requisito de defesa.
Empresas como a Shell, a Total e as chinesas, formam um misto de equilíbrio onde pode se apoiar a Petrobrás tanto no plano exploratório, com seus custos superlativos, quanto no plano da produção.  Além disso é patrimônio do Brasil e de parceiros em alianças de alcance estratégico. Podemos agora ir trabalhar com a certeza que aventuras afoitas já não serão mais prováveis e mesmo possíveis.
Entretanto, cabe um preceito de temperança e de cuidado: - cuida bem deste regalo. Há uma frase latina que diz "bona quae venniunt, si sustineantur, opprimunt", isto é: "a riqueza que chega, se não é sustentada, esmaga". 
Agora começa então a fase de desenvolvimento e proteção deste que nasceu para um futuro brilhante. Muitos estudantes o esperam, agora têm esperança.



segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Pré-Sal, dia da Soberania

O pré-sal não é a única região do globo que irá merecer a atenção dos nossos amigos americanos. Não, em qualquer lugar onde houver petróleo lá estará uma frota à garantir os interesses na proteção do padrão de vida que privilegia o transporte pessoal, o desperdício e, sobretudo, na garantia de abastecimento da imensa máquina militar; máquina esta que consome cada vez mais petróleo. Esta situação realimenta a dependência da economia americana ao petróleo. 
Mesmo que a Marinha Americana esteja revendo a doutrina da utilização dos super-portaviões, devido ao seu custo e, mesmo sendo nucleares, à extrema demanda de combustível dos seus aviões acaba por alterar algumas prioridades e dependências tecnológicas. No entanto a evolução cibernética e a força de submarinos nucleares lhes dá uma imensa capacidade de projeção de poder que somente pode ser influenciada pelo desenho dos planos geopolíticos e a construção de alianças que a coloquem numa situação de zugswang(1).  Não será por outra condição que a atual situação da Síria não desbancou para a simples ocupação, tal como o Iraque em 1990 e a Líbia mais recentemente. Escusado dizer que ambas as situações se deram em áreas de produção de petróleo. 
Não posso ver a situação do leilão de Libra, sem considerar este fator preponderante, a manutenção de sua segurança e a garantia dos investimentos feitos, atual e futuramente. A razão desta garantia  será dada pelo descompasso entre a popularização das tecnologias alternativas emergentes e a escassez crescente das fontes de petróleo. Haverá então inexoravelmente um momento desfuncional, onde a escassez poderá justificar ações mais ousadas. Basta ver no mapa abaixo o grau de importância que o petróleo tem no cenário geopolítico, à partir da perspetiva americana. Não fora outra a razão de reativação da Quarta Frota em 2008. Observem no mapa a importância relativa da Quinta Frota.
Distribuição espacial das Frotas da Marinha Americana

Comparativamente a 7ª. Frota, que cobre grande parte do Pacífico e a 3ª. Frota que cobre o Pacifico vizinho ao território continental, e mesmo a 6ª. Frota que tem a cobertura da área da OTAN e o Atlântico Sul, estas não se comparam a 5ª. Frota que tem a missão de cobrir a região do Oriente Médio. Ou seja, é o fator que determina gastos imensos de manutenção, o acesso as jazidas de petróleo. 
Portanto não sejamos ingênuos em querer aferir a importância do Pré-Sal na escala ideológica ou apenas econômica. Vendo a distribuição do jogo no tabuleiro geo-político internacional, não podemos negligenciar a Defesa desta riqueza. E a Defesa desta riqueza passa pela construção de alianças que estabeleçam um contraponto de dissuasão. Caso contrário, deixada desguarnecida a região, deixaremos a porta aberta para uma aventura. Sozinhos não seremos capazes nem de explorá-la à contento e muito menos de defendê-la de uma tentação aventureira. Cabe a nós construir a parceria dissuasória. E esta tem a China como nosso melhor aliado. Tem as necessidades de abastecimento na região compensando os gastos de prospecção e extração e a posição de aliado, militarmente falando.
As regras complexas de partilha, que derivam de uma engenharia comercial abrangente e também complexa dificultam o entendimento pela  maioria das pessoas com quem já conversei. Lembro que problemas complexos cobram soluções que serão inevitavelmente complexas. Mas a cultura da leitura de manchetes e a tendenciosidade sistemática e virulenta da mídia contra o governo Dilma, junto à melodramática peroração dos que querem guardar o petróleo à espera de uma aventura (quem sabe?),   nem esclarecem  o tema nem levantam a questão da Defesa. 
Daí me sinto na obrigação de levantar o tema e propor o apoio lúcido à esta complexa, mas arrojada, iniciativa do leilão. Hoje é o dia da soberania.

(1) - posição no xadrez onde não se pode mover sem que se ponha na situação de perder, independentemente da vantagem estabelecida.
    


 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Porque apoio o leilão do Pre-Sal

Não farei nenhuma alusão à questões contábeis deste assunto ( até porque não as domino ) que deve ser gerido e gestado no plano estratégico, pois já o foi, por quem conhece o assunto há mais de trinta anos, Magda Chambriard. Farei apenas um alerta aos opositores do leilão de Libra, estejam à direita ou à esquerda, já que para mim, distanciaram-se in extremis do meio virtuoso. A posição do bom senso. 
Mas quero ser mais didático com aqueles defensores do petróleo que se posicionam à esquerda; já que os da direita ainda não disseram ou propuseram nada diferente do que já houve. Durante época que nada se investiu, só se explorava.
Espero então que estes bem intencionados defensores do petróleo bem guardado embaixo de 8000 metros de despesas e fragilidades (lembrem-se do lugar que está cheio deles, dos bem-intencionados) percebam que a nova ordem implica novas alianças, novas oportunidades e sigam a instrução do Deng Xiaoping: “Observe com calma; proteja sua posição; lide com calma com as questões; esconda nossas capacidades e aposte no nosso tempo; seja discreto; e jamais reclame a liderança.”
Algumas razões então para apoiar o leilão, estejamos à esquerda ou à direita. 
Primeiro, as jazidas. Temos que ter a capacidade de defendê-la e não podemos fazê-lo sozinhos; a aliança com a China é uma das defesas, ou uma dissuasão.
Segundo, este nosso parceiro, além de poderoso e capaz de fazer frente a um possível bloqueio naval, necessita deste petróleo e estará disposto a pagar um preço, até menor do que estará custando o do Oriente Médio, já onerado pelas despesas militares.
Terceiro, tendo interesses na costa ocidental da África, terá portanto interesse num Atlântico Sul pacificado.
Quarto, como não seremos obrigados a uma despesa militar estratosférica, já que nossa aliança a minimiza, teremos os ganhos do petróleo realmente direcionados para o social e a educação.
E por último mas não menos importante, ainda vai sobrar óleo para pagar investimentos na energia alternativa, barateando-a e tornando o objeto da cobiça menos atraente.
Lembro ainda que se o preço do petróleo chegar a um determinado nível justificar-se-á a utilização de energias alternativas; álcool de milho, álcool de cana, biodiesel, câmara de hidrogênio, e por aí vai. Ou seja, vamos seguir o conselhos de Xiaoping e largar de ser ingênuos. “Bem intencionado”, seja da direita ou da esquerda, já passou a ser pejorativo.

Começaram a corrida

Já que começaram, vamos à luta. De minha parte só tenho a dizer o seguinte:

. Mais de um milhão de jovens filhos da classe trabalhadora que chegaram à universidade pelo Prouni; 

. Mais de 14 milhões de famílias pobres que antes eram abandonadas,  hoje podem ter uma vida mais digna graças ao Bolsa Família; 

. Poderia falar também de alguém que conseguiu um dos mais de 20 milhões de empregos gerados no Brasil nesses últimos 10 anos.

. Falar do "Minha Casa minha Vida" só falo para quem não tem casa e mora de aluguel e sabe do que estou falando. 

. Há outras coisas tão importantes quanto estas quatro relatadas, mas nada é mais importante saber que achamos o caminho para matar a fome de um semelhante, de um brasileiro. O resto é consequência. 

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Olho na Alemanha, repito

 Passada a eleição alemã, não acredito que a imprensa mundial vá se ocupar mais deste assunto. Até porque os atores do espetáculo pouco mudam. Mesmo dando uma pequena guinada, mais à esquerda, ainda não foi suficiente para alterar as relações do porvir, com o resto da Europa. Mormente com os mediterrâneos que estão dependentes da vontade e da disponibilidade da bolsa alemã. Com um índice de desemprego beirando os 6% existe o risco, na Alemanha pós eleição, e na quarta legislatura de Merkel, de se pressionar o governo para endurecer com os gregos e vizinhos. Lembro os atuais acontecimentos na Grécia que evidenciam um renascimento do nazismo. Qualquer sociedade em meio ao descontrole e do desespero é presa fácil de ideologias extremas. A Alemanha dos anos 20 é prova irrefutável.
Posso parecer repetitivo e renitente mas não posso deixar de alertar para os riscos de manter o rumo que está sendo mantido pela leniência dos Estados Europeus. A situação da Espanha, da Itália, de Portugal não se altera. A Grécia, vizinha a crítica e desequilibrada região dos |Balcans cada vez se interna em um ambiente de extremos. Todo este cenário teve a sua construção patrocinada pelos ricos estados europeus que hoje fogem do risco e se enrolam na trama do desemprego conjugado com uma moeda artificial. É uma questão de tempo; o preço da incúria será pago pelos alemães também, pois os europeus não vão carregar este fardo sozinhos. Françoise Holande já se manifestou, meio desajeitado, mas ficou claro e bem claro a sua decepção com a pouca importância dada ao desemprego sistêmico da Europa, onde a senhora Merkel vende produtos alemães, cada vez menos.

Não se enganem, o preço à ser pago é alto e vão tentar rateá-lo com quem não tem nada com isso, inclusive nós brasileiros. Olho na Alemanha repito.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Memória e altivez

A pesquisa de imagens na internet trouxe o lançamento da biblioteca de imagens Google-LIFE. Como já fui "assinante" de segunda mão de LIFE, lá pelos anos 50, tive a curiosidade de explorar a coletânea dos anos 30. Lá encontrei esta foto de 1937, deste anjo de Montana, onde a pobreza evidente mostra sobretudo a pujança e a força da América. Saído da crise de 29, seu povo reergeu-se até chegar a ser a nação mais poderosa do mundo. 
Esta nação, apesar dos recentes acontecimentos bisbilhoteiros da NSA, apesar da desnecessária invasão do Iraque, da Baia dos Porcos, da Ilha de Granada, do Vietnam, tem à seu crédito a eliminação do fascismo e do nazismo na Segunda Guerra Mundia, que eu considero nada mais que o prolongamento da Primeira, já que entre o fim de uma e início oficial da outra decorreram apenas vinte anos. Isto se não considerarmos o Anschluss, a anexação da Áustria, e da Tchecoslovakia. O germe da intolerância e do ódio não tinha sido eliminado das mentes das elites germânicas. Os italianos? Ah, os italianos...
Pois bem, este retrato revela quão intenso e sofrido tenha sido o esforço para erradicar a imensa pobreza na América. Pois serviu de exemplo, já que também podemos erradicar a nossa.   
Quando vejo por aqui as falas críticas e cínicas à detratar Fome-Zero, Bolsa Família e demais ações destinadas a retirar da miséria milhões de conterrâneos, lembro da ação de Roosevelt ( o New Deal ) que permitiu que crianças como esta da foto pudessem sonhar com um futuro melhor; é até provável que esta seja agora uma octogenária vivendo com dignidade.  
Por que não haveria de ocorrer o mesmo com os nossos brasileirinhos? 
Se temos que criticar os Estados Unidos da América pelo descontrole do Estado, temos também que ver o povo que, agora hedonista, foi paladino da liberdade e da democracia. Sua belicosidade tem raízes nas suas origens anglo-saxônicas; o que não é o nosso caso. Os detratores do esforço de eliminação da miséria também existiram lá. A semelhança com as nossas hordas de mesquinhos e invejosos é muito grande; são aqueles bem nascidos que não aceitam repartir nada. Já que nada próprio têm. Para estes, quero lembrar as "Conversas ao pé do fogo" que Franklin Delano Roosevelt  transmitia pelo rádio nos anos 30.  Nestas, um certo dia Roosevelt disse:

"Despeço-me esta noite com grande tristeza. Há algo, no entanto, que devo sempre lembrar. Duas pessoas inventaram o New Deal: o Presidente do Brasil e o Presidente dos Estados Unidos.
Franklin Delano Roosevelt, 27 de novembro de 1936.4
  ( ver no Wikipédia )

Basta um pouco de conhecimento, memória e altivez e veremos que Bolsa Família e Fome Zero não passam de obrigação.
Independentemente de quem tenhamos de competir e de nos proteger, seja o atual EUA, seja um acólito deste, temos que crescer eliminando a pobreza e oportunizando educação para todos os brasileirinhos. Tal como a menina da foto, queremos que as nossas crianças sonhem com um Brasil melhor e poderoso.
 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Espionagem e mídia

      Se minha memória não falha, um presidente americano, Richard Nixon, teve de sair porque foi apanhado, ou o seu partido, não lembro bem, bisbilhotando adversários. O caso deflagrado pelo Washington Post, a partir de uma dica dada por duas mocinhas que "saíram" com um figurão do FBI, a dois jornalistas novatos que ficaram famosos, Woodward e Bernstein, tornou-se famoso e emblemático. A sociedade americana presa a privacidade, como um direito e dever que representa a nacionalidade. É uma regra pétrea da cidadania americana.
      Agora, quarenta anos depois, os acontecimentos recentes da revelação da espionagem que o Estado Americano, através da NSA, perpetraram aqui no Brasil, mostram que esta regra pétrea evidentemente não se aplica ao outros. Isto sob o manto da proteção do Estado. Ou mudou o povo americano ou este passou a ingenuamente tolerar, após o 09/11 ou o 11 de setembro de 2001, a indiscrição das agências de inteligência do Estado. Este é um tema que suscita a contribuição do pensamento jurídico, sociológico e militar pois, se por um lado, fazer inteligência sem infiltração é ingenuidade, e por outro, fazer da infiltração e espionagem uma ação sem controle do Estado é banditismo.
      Portanto, este é um tema complexo que exige firmeza na ação dos agentes do Estado e competência na proteção deste mesmo Estado. Conhecer as fronteiras entre o lícito e o ilícito implica em técnica e consciência política. Mas ultimamente a coisa anda saindo dos trilhos. Por um lado espertos e demagogos a questionar a necessidade da proteção do Estado e da sociedade, por outro, outros mais espertos à justificar a prepotência e a incompetência. Ou seja, não é assunto para leigos decidirem e para uma imprensa moralmente desqualificada e desmoralizada pelo sectarismo e partidarismo político. 
      A obrigação de reagir a este ato que, na sociedade americana, seria objeto de punição severa; mas aqui nem é muito lembrada na mídia nativa, amestrada pelos interesses do capital internacional.
     Quarenta anos depois do "affair" Watergate, que hoje eu mesmo penso que nem existiu, (foi uma armação do "Garganta Profunda" chefão do FBI - é só ver o filme (Dustin Hoffman, Robert Redford)), pois Nixon contrariou interesses poderosíssimos com o término da Guerra do Vietnam, vemos o Estado americano ser desmascarado, frente ao seu povo e à toda comunidade das nações.
      Só mesmo a nossa imprensa para, diante de ato tão aberrante, querer minimizar e tentar ridicularizar o necessário protesto que Dilma, Presidente do Brasil,  tinha a obrigação de externar na ONU. 
      Ou damos um jeito de botar esta imprensa desqualificada nos trilhos, ou esta vai dar um jeito de nos tirar dos trilhos e destruir o país.



segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Olho na Alemanha

Ando meio desligado e com dificuldade de escrever sobre o que quer que seja, o que já me indica a necessidade de férias. Mas não posso deixar de pensar no significado da reeleição de Angela Merkel na Alemanha, centro nervoso e cérebro do garrote imposto aos preguiçosos povos mediterrâneos, diferentes dos laboriosos povos germânicos, mais afeitos ao trabalho, às guerras e ao frio. Frio que lhes impôs a necessidade de poupança e guarda das sobras do verão. Disso deriva a delícia do fondue, do pão velho e das sobras de queijo. É das mais simples regras de sobrevivência que derivam as mais complexas práticas comportamentais e econômicas. Mas ocorre que a farra do empréstimo fácil aos gregos, espanhóis, portugueses e mesmo os italianos, teve a contrapartida do interesse germânico.
      Mas será que a senhora Merkel irá continuar neste jogo de gato e rato?  Ganha as eleições após este quarto mandato, pergunto se não cairá a ficha destes alemães que não estão percebendo a construção da mesma bomba que lhes estourou nas mãos após o assassinato do Arquiduque  Francisco Fernando da Austro-Hungria. As causas que eram presentes à época quase que se reproduzem agora, pois a mesma Sérvia, após décadas de coexistência yuguslava,  há pouco foi palco de uma guerra sangrenta e de um genocídio assistido. A paz dos Balcans é uma tênue membrana a isolar a Europa da Grécia e também do Oriente-Médio. A geopolítica da região, sendo altamente complexa devido a compartimentação de etnias e a instável e mal resolvida divisão territorial, ainda vai dar dor de cabeça se misturada a questão grega. De nada adiantará o isolamento pelos estado-tampões da Macedônia, do revivido Montenegro, se a região continuar sob as tensões que a Alemanha lhes impõe via domínio econômico, como havia feito desde o final do Século IXX. 
      Confesso mesmo que a belicidade americana não chega a me tirar o sono, pois a sociedade americana construiu meios de controlar in-extremis a máquina de guerra. Já a sociedade alemã moderna que amadureceu desde a derrota da Segunda Guerra Mundial, hoje volta a apresentar os problemas de convivência que a tornaram antipáticas perante os demais estados europeus, pois volta agora a se manifestar, à margem de sua valorosa altivez,  o seu espírito intolerante e sectário.
      A reeleição de Merkel é mais parte do problema  e menos da solução, já que reitera o clamor por um recrudescimento da política econômica que desaguou nesta crise que ameaça mercados e estados europeus de forma geral, através de um desemprego que teima em aumentar...até chegar ao limite.
      Não sou economista para deitar falação sobre o que fazer, mas sou minimamente consciente da tempestade que irá formar no horizonte, caso o Obama, o Putin e o Jiabao não chamem a Senhora Merkel às falas.

 

 


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

No café da manhã

Ainda me lembro da Bienal de 1954, logo depois veio o Carnaval no Rio de Janeiro...
Estava falando de música, uma nega maluca me apareceu. Vinha com filho colo dizendo pro povo que o filho era meu, não senhor...Estou usando, mudando sim, a letra da famosa música de Fernando Lobo e Evaldo Ruy (acho que a grafia está certa), "Nega Maluca", que ficou famosa no Carnaval de 1950 e vários depois, até chegar aos nossos dias, nos blocos que hoje renascem para devolver o espírito, que era a marca registrada do carioca simplório e alegre de idas eras. Na letra, Fernando Lobo diz "estava jogando sinuca"e agora transformo o jogo de sinuca, que distrai e concentra ao mesmo tempo, em "falando de música".  Então, falando de música, segue o samba daqueles tempos.
Como na última postagem estava em 1954, não poderia deixar de falar no compositor, artista plástico, homem que sempre admirei, na juventude e até agora após quarenta anos de sua última despedida, Monsueto. Artista que nasceu na Favela do Pinto e chegou ao estrelato na finda TV Rio e nos salões do Copacabana Palace.   No Carnaval de 54, logo depois de minha ida a São Paulo, para comemorar o Quarto Centenário e desfrutar da polka (até agora ainda não sei se polka ou dobrado) onde Garoto empresta seu gênio, Monsueto lança a música cuja melodia até hoje admiro e a memorizo orquestrada e arranjada sinfonicamente, "A fonte secou". A letra começa assim: " eu não sou água pra me tratares assim, só na hora da sede é que procuras por mim, a fonte secou...." e por aí vai, rica em harmonia e em versos. Sei que Monsueto a compôs em parceria com outros, igualmente geniais, mas a sua figura era ímpar na graça e na maneira de interpretar.  Sua inspiração melódica me faz agora ouvi-la com arranjo sinfônico, mas com a percussão, o tamborim ao fundo, para que não perca a alma carioca do sambista da Favela do Pinto.
Várias vezes cantei "A fonte secou", no café da manhã, com minha sogra, ela amante da música e da alma daquele negão imenso; cheio de ginga, de ziriguiduns, castigando, dizia ele, nos sambas, obras primas que me fazem rever as sensações de 1954. A polka do Quarto Centenário, misturadas ao samba de morro, absolutamente sintonizados com Villa Lobos, pois um veio do outro, ou eram a mesma coisa, mais do que estranha veio a ser a irmã mais nova do meu samba carioca. Samba, que juntamente ao maneio genial do cateretê, do coco, das emboladas, xaxados, batuques, catiras, canções gauderias, baião, vaneirão, guarânias, lambadas, e toda variedade imensa de estilos e ritmos só fez arraigar, na minha alma carioca, a liberdade de estilos experimentada no Ibirapuera. Liberdade da alma que ouvia e cantava Monsueto no café da manhã. Manhãs onde pude várias vezes devolver as saudades das melodias e desfrutá-las com a vovó Augusta Edwiges Elizabeth Bruns, companheira de sambas e cantigas até os seus momentos finais num quarto de hospital. Até o fim. Carioca kölnisch  assumida, sabia das coisas, adorava Monsueto que nem eu....


quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Amor á arte

Ontem lembrei da festa do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo. Lembrei da música, lembrei de personagens importantes da minha história, mas deixei para hoje relatar uma emoção que hoje se repete. Se há sessenta anos atrás ela foi intensa, hoje, todos estes anos depois ela não é menor, é diferente. É diferente, pois nela se insere o intelecto e não não tem mais o deslumbramento que só a dignidade da infância permite. Estou vendo, com os olhos da imaginação agora, a pintura exposta no Salão da Bienal do Ibirapuera de 1954, “Guernica”, de Pablo Picasso.
Acho que era uma réplica, pois a original nunca saiu da França penso. A mera visão da infância já lhe dava uma dimensão enorme, mas era a cara do cavalo morrendo, a lâmpada acesa, que me transmitiu um sentimento ainda não codificado pela vida adulta. Mas que me impressionava de forma silenciosa, pois além da intensidade cúmplice com o autor daquela estranha maravilha, ainda tinha a censura dos que não a viam, senão como uma distorção, uma aberração, incompatível com os limites da visão menor dos adultos que me cercavam, ainda míopes de cultura. Não poderia entender naquela época que eram limites; impostos pelo medo à liberdade, diria Erich Fromm. Que eram limites, pois já havia a pública e imensa demonstração de arte, imensa liberdade e severa estética do “Monumento aos Bandeirantes” de Victor Brecheret, o “não empurra” jocosamente apelidado, mas que havia me impressionado uma semana antes. Não havia visto nada parecido no Rio de Janeiro, cidade em que nasci e ainda vivo. O mais arrojado monumento que tinha visto por aqui época era o Palácio Capanema.
Voltando ao “Guernica” e a visita a exposição da Bienal em 1954; a emoção diante de tantas transgressões, mas ao mesmo tempo, diante de tanta beleza me influenciou para o resto da vida. As transgressões eram a própria essência da evolução. Se na época o evolucionismo tentava explicar a vida como sucessiva sequencia de infinitésimos acréscimos, a arte de Picasso, Brecheret e dos outros expositores, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Oswaldo Goeldi, Haarberg e outros vários, mostrava que esta se dava aos saltos, transgredindo cânones, ultrapassando limites e violando regras que foram impostas como “estéticas”. Foi preciso que várias décadas de ciência se passassem para perceber os saltos da evolução biológica, da antropológica e todas as outras lógicas. A estética vigente e os prêmios até então, nada mais eram que um mimo aos bem-comportados dos salões sem grandeza. Como a infância está infensa a estas armadilhas do pseudo-estético pude então desfrutar da Bienal, sem saber que seria para sempre. Tal salto me ajudou a ver mais longe, por ver de cima, a grandeza de outros artistas em outras sensações. Daí foi mais fácil ver e ouvir Villa Lobos, Frutuoso Viana, Guerra Peixe, Valdemar Henrique, Radamés Gnatalli, Heckel Tavares, que para mim transformaram em sons as sensações da Bienal.
Hoje me sinto livre para transgredir na música, na pintura, na dança, que considero a mais complexa e de mais difícil execução e percepção e até na literatura, pois será muito difícil sentir outra emoção de 1954. A infância está muito longe. Hoje em meio a tantas componentes de mercado, de diferenciação técnica e de estética, onde a sensação fácil é mais valorizada que a emoção, fico à espera do valoroso técnico, do esforçado artista, com coragem para transgredir. Pois só será eterno aquele que transgredir por amor. Por amor à arte; Lulu Santos não me deixa mentir.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Memórias e memórias

Estava procurando um assunto na internet e eis que me deparo com algo que me faz pensativo e também me leva à reflexões sobre a arte da música e também das artes plásticas. Da arte como umtodo. A reflexão mais imediata me conduz a visitar o Google Cultural Institute e acabo chegando ao Malmö Konstmuseum. 
Sempre me interessou esta cidade após a leitura de Mika Waltari, quando "O aventureiro" passa por lá. Se estabelece na Suécia e de lá busca novas aventuras. 
O sucesso editorial de Mika Waltari, "O egípcio", "O romano" e muitos outros já traduzidos para a língua portuguesa, me fez ler toda sua obra traduzida e me interessar principalmente pela aventura sueca. A este sentimento se associava a lembrança da atual SAR  Rainha Silvia da Suécia, que quando menina conheci na casa da vovó Julieta. Era o dia 25 de janeiro de 1954. Lá comemoramos e dançamos a polka, ou o dobrado(?),  "São Paulo quatrocentão", composta por Garoto, Avaré e Chiquinho do Acordeón.  Dono de boa memória que sou, tenho vagas lembranças de Sílvia e de Ralf, seu irmão mais velho. Mas tudo é possível de construir na memória pois havia um clima de alegria que a música propiciava, naquela casa da Rua Doutor Vilanova, quase na Maria Antônia. Era a festa do Quartocentenário. O disco tocava na vitrola, era o "São Paulo quatrocentão" executado por Mario Zan, o mesmo da "Chalana". Nem vou seguir por aí.
A associação espontânea destas imagens na memória é que me levaram a agora escrever. Me sinto como o James Burke da série Connections 3. As conexões entre a nemória de Mika Waltari, a Rainha Silvia e a Vovó Julieta, a música de Chiquinho do Acordeon, Avaré e de Garoto, agora me levam a "Gente Humilde". Onde Chico Buarque, Vinícius de Moraes, colocaram letra na imensa música de Garoto. 
Custo até crer que seja possível fazer conexões desta ordem; partindo do Museu  Konstmuseum, em Malmö, na Suécia chegar a "Gente Humilde". E aí chegar a Chico Buarque; e agora chegar a "Banda", que permaneceu o tempo todo tocando a alma. É acabou...
"Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou"
A banda é a arte, que é uma só, plástica, poética, dançante, musical, ...ciao. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Esperteza e sobrevivência

    Sou obrigado a fazer algumas reflexões acerca do dia 11 de julho, quando os sindicatos se uniram para fazer frente ( ou mesmo aproveitar a oportunidade ) aos movimentos que se diziam apolíticos. A reflexão advém da observação sobre a idade média dos participantes sindicalistas; era alta mesmo. E como se explica isto? Posso dizer que lamentavelmente pelo longo período de desindustrialização, propiciado por governos de inclinação neo-liberal. O fenômeno que vivemos, viveram também os estados europeus e os EUA; agora correm atrás do prejuízo e tentam retornar as fábricas que se bandearam para China, atrás de mão-de-obra barata, negligenciando o seu mercado interno. Já satisfeitos e abarrotados de quinquilharias, dizem alguns. Pois bem, os mercados continuaram consumindo quinquilharias, só que agora produzidas na China. Por que? Porque o consumismo desenfreado já tinha se instalado no tecido social e estabelecido a metástase do mal através dos veículos publicitários também contaminados. De nada adiantou transferir industrias, senão à curto prazo. Houvesse uma estrutura produtiva forte com a indústria bem estruturada, não haveria "sub-prime" que abalasse a vida das nações, hoje em meio à uma crise pior que a de 29.

    Estas reflexões também faço agora, diante da cena de jovens violentos que, com certeza, não tinham esperanças, como tiveram aqueles operários que chegaram a desfrutar de um mercado de trabalho na indústria que foi destruída pelo neo-liberalismo. E que tanto nos custa agora reconstruir.
    Tivesse o presidente entreguista FHC conseguido vender a Petrobrás, ( o que realmente tentou, mas recuou devido a reação de várias forças sociais, inclusive os militares ), hoje estaríamos sem protesto, sem esperança e sem solução. 

    Como a minha idade é próxima, se não superior a média dos sindicalistas da passeata, testemunhei o fechamento de várias empresas onde trabalhei. Posso testemunhar na minha área, nos anos 70, a construção e projeto de equipamentos de computação e na área eletrônica em geral. A indústria naval, nem se fale. A Embraer também, e só foi reerguida pela vontade política.  
    Tivéssemos os jovens bem preparados para enfrentar o desafio de uma industria de ponta, não estaríamos vivendo aqueles momentos de virulenta manipulação. Em 68, quando Cohn-Bendict liderava passeatas e enfrentava a polícia no Quatier Latin, e ainda não pensava nos verdes ( Die Grünen ) chatos e improdutivos de hoje, também reclamava. Como reclamou Servan-Schreiber da desindustrialização da França; e mais, do baixo investimento em educação.
   A semelhança com os dias de hoje seria mera coincidência? Não. Tal semelhança anuncia a oportunidade de correção de rumo, no sentido de reafirmar o compromisso com o trabalho, a reafirmar a oportunidade de atendimento aos pleitos dos trabalhadores. Oportunidade que, sinergicamente, é a mesma para as indústrias; cujos donos aprenderam que na mesa de negociação com os sindicalistas, do outro lado, sentava-se o maior guardião de seus interesses, um metalúrgico.
     Não fora ele, o neo-liberalismo já teria devorado seus ativos, destruído seu patrimônio e estariam vertendo as mesmas lágrimas que gregos, espanhóis, irlandeses, portugueses, italianos, e até ingleses e franceses. 
    As passeatas não vão decapitar definitivamente o monstro neo-liberal, que vive rondando nas cabeças  vazias, mas irão criar a oportunidade de por em evidência os acertos, erros e as necessidades reais de produção e da industrialização do país.
    Se algum tolo imaginou a desestabilização oportunística, é melhor ir buscar outra forma; para isso já tem a mídia comprometida até os ossos.
   Como diz o meu povão aqui da Central do Brasil: "Vamo acabar com essa frescura e arranjar serviço". É com eles que estou tentando me graduar, ou pós-graduar, em esperteza e sobrevivência. 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Lição de Nuremberg

    Tive a oportunidade de participar da passeata promovida pelos Sindicatos em 11 de julho de 2013 na cidade do Rio de Janeiro. A passeata não pode chegar ao fim programado mas alcançou o seu fim, que foi colocar 20.000 pessoas na rua. No meio desta multidão estão aposentados, velhinhos que mostravam uma juventude ímpar, pois saíram às ruas como se fossem jovens. Havia jovens maduros, como se fossem os experientes de passeatas de 68, de 84 e de muitas outras. 
    Mas a passeata não pode chegar até o final da monumental Avenida Rio Branco; não pode chegar a Cinelândia, local histórico de manifestações emoldurada pelo magnífico Theatro Municipal, pela Biblioteca Nacional, pela Câmara dos Vereadores. Foi antes emboscada e atacada pela turba de neofascistas, comandados por quem ainda não sabemos. Haveremos de saber sim. É uma questão de tempo. Mas que foram comandados foram; pois vi perfeitamente o ponto eletrônico que um dos neonazistas encapuzados utilizava. Vi o ponto de encontro previamente marcado, pois para lá fui testemunhar, acompanhando os encapuzados e mascarados que não foram nem um pouco incomodados ao passarem acelerados pela passeata. 
    Valorizo esta oportunidade do irrefutável testemunho e, à partir deste, reflito sobre o que se passou para chegarmos à este ponto tão decadente. Se era indignação, não justificava a agressão à um homem caído no chão e atacado covardemente por vários, à ponto de receber dez pontos na cabeça; não importa se era um policial ou qualquer outro ser humano. Se era protesto, menos ainda justificava tal comportamento. Mas o meu testemunho revela uma inexorável explosão de ódio e intolerância. Não para com o Governo, seja o Estadual, seja o Federal ou o Municipal, pois ódio se expressa contra pessoas, não contra coisas. E é aí que podemos estender nossa reflexão. O ódio que ali via era aquele mesmo que motivava torturadores no passado. Era o mesmo destilado nas mentes fracas e preconceituosas que "gerenciavam" o DOI/CODI e os campos de concentração; mentes que mais tarde se justificaram no cumprimento do dever e no combate à inimigos.
    Este mesmo ódio é que se voltou contra homens e mulheres idosos que também protestavam. Mas protestavam cívica e politicamente de forma honrada. 
    Afinal, quem destilou tanto ódio na mente de jovens que poderiam estar ombreados com aqueles que reclamavam um futuro melhor para estes jovens mesmos? A rede social? A rede social não fala por si própria. Os colegas emaranhados nestas redes? Nem sabiam se eram "fakes". A resposta está na arte de Regina  Riefenstahl, na eficácia de Goebbels, e na eficiência de Brilhante Ulstra.  Todos trabalhavam na arte de condicionar mentes; inclusive as das suas vítimas.
    Mas uma coisa a história nos ensinou: a inexorável degradação dos seres e organizações fragilizados pelo ódio. Aqui no Brasil a finda UDN, semeou o ódio, instada por interesses externos que permanecem até hoje. Aqui no Brasil as Forças Armadas serviram aos interesses econômicos manipulados por civis; tiveram um triste ocaso à época de Collor e FHC. Custa crer que ainda existam alguns na reserva, nem sei se envergonhados, que idolatram seus algozes.  Complexo o ser humano, não?
Lamentavelmente, se eu estiver errado na minha conclusão, não sobrará mais desculpa para um covarde que ataca o idoso que clamava por uma sociedade mais justa para este. Não poderá jogar a culpa na "rede", no "facebook"; não lhe sobrará perdão. Que lembrem a lição de Nuremberg.